São Paulo, terça-feira, 07 de julho de 2009

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ANÁLISE

Um passo à frente, mas resta um longo caminho

RUPERT CORNWELL
DO "INDEPENDENT"

Quase todas as conferências de cúpula bem preparadas produzem "surpresas". A conferência "estaca zero" entre EUA e Rússia produziu acordos já antes aguardados, sob os quais Washington terá autorização para usar o espaço aéreo russo para transporte militar ao Afeganistão. E ambos reduzirão seus arsenais nucleares para 1.500 ogivas cada um até 2016.
Menos esperada foi a intenção declarada pelo presidente Barack Obama de convocar para 2010 uma conferência de cúpula sobre segurança nuclear cujo objetivo será combater a proliferação, enquanto Moscou organizará um segundo evento sobre o tema posteriormente.
A decisão permite não apenas que se discuta a proliferação das armas nucleares, talvez a maior ameaça à estabilidade mundial, mas deixa implícito o reconhecimento pelos EUA da importância da Rússia, peça-chave para qualquer melhora no relacionamento bilateral.
Mas resta o dilema entre o presidente Dmitri Medvedev e o premiê, e ex-presidente, Vladimir Putin: qual deles detém a última palavra no processo decisório do Kremlin? Ao alegar que qualquer decisão será a do governo russo como um todo, Obama contornou a questão.
Medvedev pareceu menos autoritário em questões internas e mais conciliatório nas externas. Mas Putin continua a ser o político mais popular da Rússia, graças à linha inflexível em relação aos EUA e à insistência em que a antiga superpotência volte a ser respeitada.
Quanto ao tão alardeado "recomeço", os acontecimentos demonstrarão se isso é mais que uma simples expressão de otimismo de parte dos EUA.
Resta, porém, uma fenda ainda aberta: uma revisão interna dos EUA quanto à capacidade do sistema antimísseis no Leste Europeu para cumprir de fato seu objetivo, o de lidar com "um míssil ocasional vindo de uma terceira fonte" (ou seja, o Irã ou Coreia do Norte).
Caso o escudo antimísseis fracasse no teste, um acordo poderia ser possível. Mas Obama não cederá terreno em troca de nada nessa nova rodada de negociações nucleares.



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