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Governo golpista não vai durar mais de 3 meses, prevê Amorim
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O chanceler brasileiro Celso
Amorim atreveu-se ontem a
prever que o governo que
emergiu do golpe em Honduras
"não tem possibilidade de durar [nem sequer] dois ou três
meses".
Amorim acredita que o isolamento político internacional
do novo regime mais sanções
econômicas acabarão levando
ao colapso do governo interino.
Nem mesmo as eleições, marcadas para novembro desde antes do golpe e não canceladas
até agora, resgatarão a legitimidade do governo golpista. "Eleições conduzidas por um governo ilegítimo já estão inquinadas de ilegitimidade", diz.
Amorim teme que se instale
no país um ciclo de violência, já
iniciada no domingo pela repressão aos que tentavam receber o presidente Manuel Zelaya, no seu frustrado retorno.
"Se [os golpistas] mantiverem
atitude de intransigência, haverá reação e mais repressão."
O que fazer então? Amorim
admite que não há "uma solução mágica". Mas especula com
alguns passos, começando pela
manutenção do consenso em
torno da rejeição ao golpe. Depois, deve-se endurecer as iniciativas contra os golpistas.
Nesse ponto, o chanceler deixa claro que o Brasil tem muito
pouco a jogar. Quem pode afetar o governo com sanções são
o Banco Mundial, o governo
dos EUA, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e, no
caso do petróleo, a Venezuela.
Enquanto o endurecimento
não fizer efeito, Amorim acredita que José Miguel Insulza, o
secretário-geral da OEA, pode
voltar a Honduras para conversar de novo com a igreja, a Corte Suprema e os partidos. Amorim rejeita o diálogo com o governo golpista -essa é a posição da OEA, que suspendeu
Honduras anteontem.
O chanceler não gostou de
uma pergunta que fazia uma
equiparação entre Cuba, suspensa pela OEA há 50 anos, e
Honduras. Explicou a diferença que vê: Cuba foi o produto de
uma revolução surgida em plena Guerra Fria e diante da bipolaridade EUA/União Soviética. A punição de Cuba foi, portanto, clássico produto da
Guerra Fria, dada a influência
decisiva dos EUA na OEA.
Já o golpe em Honduras seria "o último estertor de um tipo de direita que não tem mais
lugar" na região. Como não há
mais Guerra Fria, tampouco há
o jogo pendular em que governos jogavam-se nos braços da
URSS ou dos EUA, conforme a
ideologia ou interesses dos governantes de turno. Agora,
lembra, houve uma condenação "universal" ao golpe.
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