São Paulo, terça-feira, 07 de julho de 2009

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Governo golpista não vai durar mais de 3 meses, prevê Amorim

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O chanceler brasileiro Celso Amorim atreveu-se ontem a prever que o governo que emergiu do golpe em Honduras "não tem possibilidade de durar [nem sequer] dois ou três meses".
Amorim acredita que o isolamento político internacional do novo regime mais sanções econômicas acabarão levando ao colapso do governo interino. Nem mesmo as eleições, marcadas para novembro desde antes do golpe e não canceladas até agora, resgatarão a legitimidade do governo golpista. "Eleições conduzidas por um governo ilegítimo já estão inquinadas de ilegitimidade", diz.
Amorim teme que se instale no país um ciclo de violência, já iniciada no domingo pela repressão aos que tentavam receber o presidente Manuel Zelaya, no seu frustrado retorno. "Se [os golpistas] mantiverem atitude de intransigência, haverá reação e mais repressão."
O que fazer então? Amorim admite que não há "uma solução mágica". Mas especula com alguns passos, começando pela manutenção do consenso em torno da rejeição ao golpe. Depois, deve-se endurecer as iniciativas contra os golpistas.
Nesse ponto, o chanceler deixa claro que o Brasil tem muito pouco a jogar. Quem pode afetar o governo com sanções são o Banco Mundial, o governo dos EUA, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e, no caso do petróleo, a Venezuela.
Enquanto o endurecimento não fizer efeito, Amorim acredita que José Miguel Insulza, o secretário-geral da OEA, pode voltar a Honduras para conversar de novo com a igreja, a Corte Suprema e os partidos. Amorim rejeita o diálogo com o governo golpista -essa é a posição da OEA, que suspendeu Honduras anteontem.
O chanceler não gostou de uma pergunta que fazia uma equiparação entre Cuba, suspensa pela OEA há 50 anos, e Honduras. Explicou a diferença que vê: Cuba foi o produto de uma revolução surgida em plena Guerra Fria e diante da bipolaridade EUA/União Soviética. A punição de Cuba foi, portanto, clássico produto da Guerra Fria, dada a influência decisiva dos EUA na OEA.
Já o golpe em Honduras seria "o último estertor de um tipo de direita que não tem mais lugar" na região. Como não há mais Guerra Fria, tampouco há o jogo pendular em que governos jogavam-se nos braços da URSS ou dos EUA, conforme a ideologia ou interesses dos governantes de turno. Agora, lembra, houve uma condenação "universal" ao golpe.


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