São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

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'Escândalo do grampo terá efeito breve sobre tabloides'

Para o estudioso americano de mídia Philip Meyer, caso do "News of the World" não afetará o público fiel dos jornais populares

LUÍS EBLAK
EDITOR DA FOLHA RIBEIRÃO

Os efeitos do escândalo envolvendo o "News of the World" serão breves e não afetarão o sucesso dos tabloides -nem na Inglaterra, nem nos Estados Unidos.
A opinião é do jornalista norte-americano Philip Meyer, autor do livro "Os Jornais Podem Desaparecer?" (editora Contexto).
Após a revelação de que o "NoW" fazia escutas telefônicas ilegais, o magnata Rupert Murdoch decidiu fechar o tabloide londrino, fundado em 1843, que vendia 2,7 milhões de exemplares aos domingos.
Com base em pesquisa que o próprio Meyer fez com milhares de leitores americanos, ele afirma que os tabloides são adorados pelo público.
Dono de uma carreira como repórter correspondente e editor de diversos jornais dos EUA e criador do conceito de "jornalismo de precisão", Meyer é professor emérito da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill.
Um dos precursores da RAC (Reportagem Auxiliada por Computador), ele defende a tese segundo a qual os jornais não vendem informação, mas influência. Leia os principais trechos de sua entrevista por e-mail à Folha.

 

Folha - Como o sr. analisa o escândalo das escutas telefônicas ilegais do "NoW"?
Philip Meyer -
O mais importante nesse caso é a relação pouco saudável da empresa jornal com agentes da lei. Essas são questões que vão além da mera prevaricação jornalística. Chegou ao ponto em que os policiais terão de verificar o caso para determinar se houve crimes.

O "NoW" pertencia ao grupo de Rupert Murdoch. O jornal que descobriu o caso foi o "Guardian", mantido pela Scott Trust, uma organização sem fins lucrativos. O que pensa sobre isso?
Esse modelo pode ser a salvação do jornalismo. Nos EUA, entidades sem fins lucrativos estão se tornando uma grande força no jornalismo investigativo. A ProPublica, com sede em Nova York, e a American University's Investigative Reporting Workshop, do qual sou um membro, são alguns exemplos. Claro que mesmo esses grupos sem fins lucrativos têm de pagar suas contas. O "Guardian" tem uma forte tradição de serviço público, e Alan Rusbridger [editor do jornal] está fazendo um bom trabalho de mantê-la ativa.

Em "Os Jornais Podem Desaparecer?", o sr. abordou a queda de qualidade dos jornais americanos. Com o escândalo do "NoW", outros tabloides britânicos devem perder influência. O sr. vê alguma relação entre esse caso na Inglaterra e a queda de influência dos jornais americanos como um todo abordada no livro?
Minha análise tratou dos efeitos corrosivos das novas tecnologias [na imprensa escrita]. O "NoW" é um caso que envolve comportamento criminal. Eu não vejo uma ligação -a menos que você possa especular sobre como as pressões financeiras das novas tecnologias estão levando alguns jornais a medidas desesperadas. Mas essa especulação seria difícil de fazer, na minha opinião.

Qual é o futuro dos outros tabloides?
O efeito da crise do NoW será limitado e breve. Mas o efeito mais corrosivo é o da tecnologia, que é crescente e interminável.

Para os tabloides, são mais positivos ou negativos esses "efeitos corrosivos das novas tecnologias"? Por quê?
Eles estão prejudicando todos os jornais impressos, mas os mais especializados são os menos afetados -e aqui nos EUA eu considero os tabloides como especializados. Eles são bons em chamar a atenção, mas seu apelo é limitado a um grupo demográfico. Devo dizer, no entanto, que não tenho dados para sustentar essa opinião, e isso não deve ser verdade em todos os lugares.

O sr. fez uma pesquisa com leitores de jornal para seu livro. Sua pesquisa pôde detectar o que esses leitores pensam dos tabloides? Eles aprovam esse tipo de jornalismo que utiliza escutas ilegais?
Muitos leitores gostam muito desses jornais e por isso eles [os tabloides] são rentáveis. Só que os chamados "tabloides de supermercado" nos EUA dependem principalmente da venda nesses locais -não de assinaturas. Então, eles vão sobreviver enquanto esses hipermercados estejam dispostos a exibi-los.

O sr. vê alguma semelhança entre o caso do "NoW" e a cobertura dada nos EUA e na França às acusações contra Dominique Strauss-Khan?
Um paralelo é uma ideia interessante, mas eu não tenho pensado nisso, nem quero ver uma conexão.

Com ELIDA OLIVEIRA, de Ribeirão Preto



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