São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

11.09 UM ANO DEPOIS

Prefeito atual e seu antecessor discordam sobre destino de terreno em Nova York

Bloomberg e Giuliani trocam farpas sobre WTC

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A "família nova-iorquina" está menos unida do que faz pensar o discurso oficial. A menos de uma semana do aniversário de um ano do ataque de 11 de setembro, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani e o atual ocupante do cargo, Michael Bloomberg, trocam farpas em público.
O motivo da discussão entre os companheiros do Partido Republicano é o mesmo que vem mobilizando a opinião pública da cidade desde praticamente o dia 12 de setembro passado: o que fazer do buraco de 65 mil metros quadrados que virou o terreno onde antes ficava o complexo de prédios do World Trade Center.
Em artigo publicado na última edição da revista "Time", Giuliani afirma com todas as letras: "Se dependesse apenas de mim, eu dedicaria toda a superfície de 64,75 km2 para a construção (de um) monumento". A visão choca-se com a defendida por Bloomberg, que pede um memorial discreto e muitos escritórios.
Na última quarta-feira, o prefeito da cidade se encontrou com a imprensa estrangeira para uma entrevista. Leia abaixo os principais pontos abordados, incluindo a polêmica com Giuliani:

Pergunta - Rudolph Giuliani diz que a melhor opção para o Ponto Zero é transformá-lo inteiro em um memorial. O que o sr. acha disso?
Michael Bloomberg -
Giuliani tem essa posição desde o primeiro dia, mas eu não concordo. A necessidade das pessoas que sofreram perda de parentes ou amigos requer que façamos alguma coisa diferente, e acredito que o melhor memorial que podemos fazer é construir um mundo melhor.
É claro que faremos um monumento e espero que, daqui algumas décadas, as próximas gerações possam olhar para ele e dizer: "Eu me lembro dos que morreram e entendo por que eles morreram". Isso é o que um memorial deve fazer, mas ainda não sei dizer como ele será.

Pergunta - O sr. já tem os números definitivos dos mortos?
Bloomberg -
Da última vez que vi, eram cerca de 2.800, mas, quando se trata de um número grande de pessoas, é difícil chegar a algo definitivo. Esse número muda e provavelmente vai continuar mudando. O maior sonho que poderíamos ter é encontrar algumas das pessoas que estão sendo dadas como mortas morando em algum outro lugar do mundo.
Ninguém espera que o número seja certo, mas, sim, que seja exagerado. Por isso estamos investigando cada caso particular, estamos trabalhando muito com ajuda da tecnologia mais moderna para tentar identificar todos os corpos. Até termos feito isso, esse trabalho não vai parar. Vai chegar um ponto em que a tecnologia disponível não conseguirá fazer mais nada, mas esperamos que uma hora dessas um cientista apareça com algum jeito mais eficaz de fazer essa identificação.

Pergunta - Não há previsão de políticos fazendo discursos no dia 11. Isso foi proposital?
Bloomberg -
Foi uma decisão minha. Achei que as famílias não iriam gostar de ver esse evento transformado em um ato político. Os escritores de discurso discordam de mim porque não conseguiram emplacar seu trabalho, mas acho que, fora eles, todos concordam com a minha decisão.

Pergunta - O sr. não teme um novo ataque à cidade?
Bloomberg -
As forças de segurança e de inteligência estão trabalhando bem o suficiente para ter certeza de que essas tragédias nunca mais aconteçam. A maioria das pessoas deveria se concentrar no dia-a-dia de suas próprias vidas. As pessoas morrem porque não usam cinto de segurança, porque bebem demais.


Texto Anterior: Bombardeio gera temor sobre início da guerra
Próximo Texto: Suspeita: Casal é detido com explosivos na Alemanha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.