São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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MANIFESTAÇÕES

Revoltada com crescimento da criminalidade, população promoveu principal jornada de atos contra violência

Argentinos protestam contra violência

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Milhões de argentinos realizaram ontem a maior e mais estridente jornada de protestos contra a violência da história do país.
Pela grande adesão, as manifestações lembraram a onda de protestos contra o governo em dezembro de 2001, que levou à renúncia do ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001).
A Jornada Nacional pela Paz começou às 14h e durou apenas três minutos, mas reuniu pessoas de todas as idades e classes sociais nas principais cidades argentinas.
Revoltada com o explosivo crescimento da violência, a população aderiu de diversas maneiras. Aqueles que dirigiam pelas ruas de Buenos Aires tocaram buzinas incessantemente. Viaturas de polícia e ambulâncias ligaram suas sirenes.
Os portenhos que caminhavam pelas ruas pararam para bater palmas, chacoalhar chaveiros, assobiar e gritar. Nos bairros de classe alta, muitos saíram à sacada dos apartamentos batendo panelas ou agitando lenços brancos. Centenas de ruas da cidade foram cobertas por uma chuva de papel picado. Nas escolas e universidades, 700 mil alunos cantaram simultaneamente o hino nacional.
Organizado pela ONG Red Solidaria, entidades religiosas e cerca de 3.000 escolas públicas e privadas, os protestos ganharam também a adesão de associações empresariais, sindicatos e organizações de direitos humanos.
Até mesmo argentinos que vivem no exterior manifestaram apoio por meio de e-mails dirigidos aos organizadores.
A grande adesão mostrou o grau de descontentamento com os níveis atuais de violência, um fenômeno novo para a maioria dos argentinos.
Influenciado pela prolongada crise econômica e os índices recorde de desemprego, o crescimento das taxas de homicídios e sequestros fez com que Buenos Aires deixasse de ser considerada a cidade mais segura da América do Sul, como há alguns anos.
Apesar da cidade ainda ser mais segura que a maioria das capitais brasileiras, seus moradores não estão acostumados a conviver com o avanço da criminalidade.
"Não é possível conviver com a violência atual, com crimes patéticos que transformam até mesmo crianças em vítimas", disse à Folha o diretor da Red Solidaria, Juan Carr, que em uma semana organizou a manifestação.
Ele se disse "comovido" com a adesão da população, que superou as expectativas. "Até mesmo em cidades como Mendoza, onde não havia sido organizado nada, houve milhares de pessoas protestando", afirmou.
"Estarei em todas as manifestações e convoco todas a mães que amam seus filhos para que também saiam às ruas para protestar", disse, emocionada, Emilse Peralta, mãe de Diego, 17, que foi sequestrado e assassinado há quase um mês na Grande Buenos Aires. O crime chocou o país.
O presidente Eduardo Duhalde colocou em funcionamento ontem uma comissão de especialistas criminais para auxiliar as forças de segurança no combate a sequestros. A comissão terá 15 dias para apresentar propostas para a reformulação da legislação penal e para frear a escalada da onda de delitos.


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