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MANIFESTAÇÕES
Revoltada com crescimento da criminalidade, população promoveu principal jornada de atos contra violência
Argentinos protestam contra violência
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
Milhões de argentinos realizaram ontem a maior e mais estridente jornada de protestos contra
a violência da história do país.
Pela grande adesão, as manifestações lembraram a onda de protestos contra o governo em dezembro de 2001, que levou à renúncia do ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001).
A Jornada Nacional pela Paz começou às 14h e durou apenas três
minutos, mas reuniu pessoas de
todas as idades e classes sociais
nas principais cidades argentinas.
Revoltada com o explosivo crescimento da violência, a população
aderiu de diversas maneiras.
Aqueles que dirigiam pelas ruas
de Buenos Aires tocaram buzinas
incessantemente. Viaturas de polícia e ambulâncias ligaram suas
sirenes.
Os portenhos que caminhavam
pelas ruas pararam para bater palmas, chacoalhar chaveiros, assobiar e gritar. Nos bairros de classe
alta, muitos saíram à sacada dos
apartamentos batendo panelas ou
agitando lenços brancos. Centenas de ruas da cidade foram cobertas por uma chuva de papel picado. Nas escolas e universidades,
700 mil alunos cantaram simultaneamente o hino nacional.
Organizado pela ONG Red Solidaria, entidades religiosas e cerca
de 3.000 escolas públicas e privadas, os protestos ganharam também a adesão de associações empresariais, sindicatos e organizações de direitos humanos.
Até mesmo argentinos que vivem no exterior manifestaram
apoio por meio de e-mails dirigidos aos organizadores.
A grande adesão mostrou o
grau de descontentamento com
os níveis atuais de violência, um
fenômeno novo para a maioria
dos argentinos.
Influenciado pela prolongada
crise econômica e os índices recorde de desemprego, o crescimento das taxas de homicídios e
sequestros fez com que Buenos
Aires deixasse de ser considerada
a cidade mais segura da América
do Sul, como há alguns anos.
Apesar da cidade ainda ser mais
segura que a maioria das capitais
brasileiras, seus moradores não
estão acostumados a conviver
com o avanço da criminalidade.
"Não é possível conviver com a
violência atual, com crimes patéticos que transformam até mesmo crianças em vítimas", disse à
Folha o diretor da Red Solidaria,
Juan Carr, que em uma semana
organizou a manifestação.
Ele se disse "comovido" com a
adesão da população, que superou as expectativas. "Até mesmo
em cidades como Mendoza, onde
não havia sido organizado nada,
houve milhares de pessoas protestando", afirmou.
"Estarei em todas as manifestações e convoco todas a mães que
amam seus filhos para que também saiam às ruas para protestar", disse, emocionada, Emilse
Peralta, mãe de Diego, 17, que foi
sequestrado e assassinado há quase um mês na Grande Buenos Aires. O crime chocou o país.
O presidente Eduardo Duhalde
colocou em funcionamento ontem uma comissão de especialistas criminais para auxiliar as forças de segurança no combate a sequestros. A comissão terá 15 dias
para apresentar propostas para a
reformulação da legislação penal
e para frear a escalada da onda de
delitos.
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