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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Abu Mazen, que vinha perdendo poder, apresentou pedido a Arafat; Israel, EUA e Europa defendem sua permanência

Desgastado, premiê palestino renuncia

Suhaib Salem/Reuters
Palestinos fogem após ataque de Israel na faixa de Gaza


DA REDAÇÃO

O premiê palestino, Mahmoud Abbas, mais conhecido como Abu Mazen, apresentou sua renúncia ontem ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat.
Não estava claro, até o fechamento desta edição, se Arafat aceitaria a renúncia.
Israel, EUA, Rússia e União Européia manifestaram apoio à permanência do moderado Mazen. Ele sofria perda de popularidade e desgaste por causa de uma briga de poder com Arafat e do colapso do novo plano de paz.
Sua renúncia foi vista por alguns analistas e políticos como uma jogada para obter mais poder de Arafat. Se sua queda for confirmada, porém, será mais um duro golpe no moribundo plano de paz para a região.
Ressaltando as dificuldades do premiê, aeronave israelense disparou contra uma casa em Gaza, ferindo levemente na mão o principal líder do grupo terrorista Hamas, o xeque Ahmed Yassin, 68, e 15 outras pessoas. O ataque deve endurecer ainda mais a posição do grupo terrorista, bastante popular em Gaza, que vinha negociando nova trégua.
Arafat deixou os políticos confusos sobre a sua resposta ao pedido de renúncia. Parlamentares disseram, após encontro com ele, que o pedido fora aceito. Mas o ministro palestino Ghassan Khatib afirmou: "Arafat lamentou que ele [Mazen] tenha feito isso, mas não fez nenhuma declaração sobre se aceita a renúncia". Outros dois ministros teriam confirmado a aceitação da renúncia.
Israel disse que não negociará com nenhum governo controlado por Arafat ou alguém leal a ele, e alguns ministros israelenses voltaram a sugerir sua expulsão.
O moderado Mazen defendia o fim das ações terroristas e assumiu o cargo em 30 de abril último, apoiado por Israel e EUA. Ele disse a uma sessão fechada do Parlamento palestino ontem em Ramallah que sua decisão era final.
Ao listar suas razões, incluiu o que chamou de indisposição de Israel de implementar suas obrigações do novo plano de paz e o "duro e perigoso incitamento interno contra o governo". Disse ainda que os EUA "não exerceram influência suficiente sobre Israel". Parlamentares disseram que Mazen estava chocado com as acusações de que era um traidor da causa palestina.
A legislação prevê três semanas para a aprovação de um novo premiê. Nesse intervalo, Mazen segue no cargo. Os nomes dos moderados Ahmed Korei, presidente do Parlamento, Salam Fayyad, ministro das Finanças e ex-funcionário do FMI, e Hani al Hassan, ministro do Interior, surgiram como possíveis sucessores.
Mazen e Arafat, antigos aliados, estão em confronto desde que Arafat o nomeou premiê em abril, após intensa pressão de EUA e Israel. Mazen queria unificar sob seu comando as forças de segurança palestinas para ter mais poder para confrontar os grupos terroristas, como exige o novo plano de paz. Arafat resistia.
O gabinete do premiê israelense, Ariel Sharon, disse que a renúncia era assunto interno palestino, mas ressaltou que "não aceitará uma situação em que o controle da ANP volte a Arafat ou a um de seus partidários".
Israel e EUA acusam Arafat -confinado por Israel em seu QG semidestruído em Ramallah- de tolerar ou mesmo incentivar o terrorismo. Ele nega.
A saída de Mazen seria mais um golpe muito duro no plano de paz, lançado em 4 de junho. Ele previa o fim imediato da violência e um Estado palestino em 2005. Sem o premiê, Israel e EUA não teriam interlocutor palestino.
O secretário da Segurança Interna dos EUA, Tom Ridge, disse na Itália que a renúncia atrasaria o processo de paz: "Havia grande esperança, mas [Mazen] era sempre minado por elementos da ANP. Arafat não colaborou".
O parlamentar palestino Hassan Khreishe disse que a renúncia poderia ser tática. "Pode ser uma jogada para aumentar a pressão sobre Arafat para que ele aponte Mazen premiê novamente, com mais poder." Uma renomeação pode abrir caminho para um novo gabinete sem alguns desafetos de Arafat, como o seu chefe da segurança, Mohammed Dahlan.
A renúncia de Mazen aumentaria as chances de Israel agir contra Arafat. "Resistimos a transferi-lo a África ou Europa por pedido da Casa Branca, mas Washington pode repensar essa posição", disse o ministro da Justiça israelense, Yosef Lapid.

Hamas
Os chanceleres da União Européia aprovaram ontem, em reunião na Itália, classificar o braço político do Hamas como grupo terrorista, congelando os bens do grupo no continente. Israel e EUA defendiam a medida. O braço armado do grupo já era classificado como tal.


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