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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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ARTIGOS

Coragem traz esperança

RUDOLPH GIULIANI

É difícil acreditar que dois anos já se passaram desde os ataques terroristas ao World Trade Center, ao Pentágono e nos céus da Pensilvânia. O horror e a tristeza estão tão fortes hoje quanto em 11 de setembro de 2001. Nem um dia sequer passou desde então em que eu não pensei nas vítimas.
Penso em como eles deixaram de ver seus filhos crescerem. Como lhes foi roubada a chance de se apaixonar e casar. Como até mesmo os pequenos prazeres da vida, como uma partida de beisebol ou um dia bonito, foram roubados, sem razão, desses inocentes, e como seus entes queridos foram obrigados a sofrer o destino cruel de perguntar-se para sempre como o homem pôde ser tão cruel com seu irmão.
Por dolorosos que sejam esses sentimentos, agora que o segundo aniversário se aproxima, eles são acompanhados por um sentimento igualmente forte de esperança e otimismo. Nunca deve ser esquecido que o 11 de Setembro foi não apenas um dia de enorme perda americana, mas também de tremenda coragem americana.
Os funcionários uniformizados da Prefeitura de Nova York resgataram até 25 mil pessoas, num trabalho de retirada que não teve precedentes. Histórias de sacrifício pessoal se multiplicam, como a de Richard C. Rescorla, diretor de segurança da Morgan Stanley, que perdeu a vida facilitando a saída em segurança da torre sul dos funcionários que ocupavam 30 andares. Americanos comuns a bordo do vôo 93 lutaram com bravura para derrubar o avião antes que também ele pudesse ser usado contra seus compatriotas.
É crucial conservar as duas perspectivas -o senso doloroso de perda e o orgulho diante da reação americana. Isso é igualmente verdade agora que continuamos na luta global para erradicar o terrorismo.
Precisamos rezar para que a perda de vidas seja a menor possível, e, ao mesmo tempo, compreender que nosso objetivo levará tempo e determinação para ser alcançado. O presidente Bush incluiu muitos outros países na libertação do Iraque, o que mostrou que os EUA não estavam sozinhos na luta contra o terror.
Agora que Saddam Hussein foi afastado e que uma chance de liberdade foi dada à população do Iraque, o presidente foi à ONU buscar uma coalizão ainda mais ampla para esse esforço, incluindo países que não apoiaram nossos esforços no Iraque.
Nossos amigos podem discordar quanto aos métodos -discordar com veemência, se preciso for-, mas, à medida que avançamos na busca pela paz duradoura, podemos pelo menos concordar quanto a essa meta.
Nove dias após os ataques do 11 de Setembro, assisti ao discurso sobre o terrorismo que o presidente fez perante o Congresso. Acredito que aquilo que o presidente apresentou naquela noite tenha estabelecido uma doutrina inteiramente nova.


É crucial conservar a dor da perda e o orgulho diante da reação americana


O presidente deixou claro que sua meta era a erradicação do terror global e que a responsabilidade pelos atos terroristas pertence não apenas àqueles que realizam e planejam os atentados, mas também aos financiadores e aos governos que tornam possíveis essas conspirações. Ademais, o presidente explicou repetidas vezes que o que ele propunha não era um contra-ataque rápido, mas um esforço prolongado.
"Não vai terminar até que cada grupo terrorista de alcance global tenha sido encontrado, parado e derrotado", disse o presidente. "Nossa reação envolve muito mais do que retaliação instantânea e ataques isolados. A população americana não deve esperar assistir a uma batalha, mas a uma campanha prolongada que difere de qualquer outra que já vimos. Peço a paciência de todos vocês. A luta será longa."
Um dos segredos do sucesso dos EUA é que nutrimos altas expectativas. Assim, é compreensível que, apesar desses avisos, alguns americanos venham se impacientando com o ritmo dos avanços. Na realidade, já foram feitos progressos muito grandes.
Duas das mais graves ameaças mundiais à paz -Saddam Hussein, no Iraque, e o Taleban, no Afeganistão- não mais controlam os países nos quais semeavam o terror.
Apesar dos obstáculos evidentes, o surgimento de um plano de paz entre Israel e os palestinos, patrocinado pelos EUA, vem gerando mais esperança do que era vista havia muito tempo naquela região problemática. A recusa incansável do presidente em negociar com terroristas levou ao surgimento do premiê Mahmoud Abbas [mais conhecido como Abu Mazen], a primeira liderança nova apresentada pelos palestinos em cerca de 30 anos.
O "timing" da decisão tomada pela Líbia no mês passado de aceitar a responsabilidade pelo atentado contra o vôo 103 da PanAm em 1988 e contra um vôo da UTA sobre Níger em 1989 não pode, de maneira alguma, ser visto como pura coincidência.
Criar um exemplo para outros interessados em desestabilizar a paz mundial e semear o terror entre inocentes foi uma meta inteiramente legítima e eficaz do esforço americano no Iraque. Quando uma democracia funcional surgir no Iraque, como creio profundamente que vá acontecer, também isso vai servir de exemplo para os países vizinhos quanto ao poder da liberdade.
Outros países, incluindo a Indonésia, as Filipinas e a Arábia Saudita, vêm demonstrando, pela primeira vez, a disposição de reconhecer que têm terroristas em seu meio e estão tomando medidas para desmontar suas redes.
Dois anos conseguiram apagar muito pouco da memória do pior ataque já lançado contra solo americano. Mas a coragem e o amor que os americanos manifestaram uns pelos outros naquele dia, além dos avanços que já fizemos no sentido de alcançar a nobre meta de erradicar o terrorismo no mundo, infundem essas memórias com um sentimento de objetivo e esperança.


Rudolph Giuliani, 59, foi prefeito de Nova York

Tradução de Clara Allain


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