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Jovem austríaca afirma que a fuga era sua fixação
Michael Leckel/Reuters
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Em café de Viena, clientes acompanham a entrevista da menina seqüestrada por oito anos |
Natascha, que foi refém por 8 anos e conseguiu escapar, dá primeiras entrevistas
Presa em cativeiro sob a garagem e sem se alimentar bem, ela se sentia "galinha na gaiola" e fugiu pesando o mesmo do dia do seqüestro
DA REDAÇÃO
A jovem austríaca que passou
oito de seus 18 anos de vida como refém deu entrevistas, e logo três, pela primeira vez desde
sua fuga. Disse que tudo em que
conseguia pensar era em escapar de sua "gaiola" e que o seqüestrador a levava para passear, mas sempre a vigiando.
O canal ORF, a revista
"News" e o jornal "Kronen-Zeitung", todos austríacos, veicularam as entrevistas com Natascha Kampusch ontem, duas
semanas após ela escapar da casa onde era mantida presa nos
arredores de Viena. Depois da
fuga, o seqüestrador, Wolfgang
Priklopil, 44, cometeu suicídio,
se atirando sob um trem.
"Perguntava a mim mesma
várias e várias vezes por que,
entre milhões de pessoas, isso
havia ocorrido comigo", declarou. "Eu me sentia uma galinha
na gaiola", contou, referindo-se
às linhas de produção em que
são mantidas as aves criadas
em cativeiro. "Prometia a mim
mesma que nunca desistiria da
intenção de fugir."
A menina afirmou que Priklopil a levava às vezes para
passear e ficava atento aos seus
passos. "Ele sempre queria que
eu andasse na frente, e não
atrás." Mesmo com a vigilância,
ela tentou uma vez pular do
carro, mas o seqüestrador "me
segurou e acelerou". Apesar da
vontade de escapar, Natascha
temia que Priklopil a matasse
no caso de não dar certo.
A TV não pagou pela entrevista de 40 minutos, mas venderá os direitos internacionais
e depositará o dinheiro em nome da menina, que havia pedido antes para não ser assediada
pela mídia. Segundo a ORF, a
entrevistada escolheu as perguntas e vetou as íntimas. A
possibilidade de abuso sexual
durante o seqüestro ainda não
foi confirmada pela polícia.
Protegendo freqüentemente
seus olhos contra a luz do estúdio, Natascha disse à TV que vivia perturbada e nervosa no cativeiro subterrâneo na garagem
do seqüestrador. Ela relatou
que, no começo, costumava atirar coisas na parede para aliviar
sua revolta e que teria enlouquecido se Priklopil não tivesse
permitido que saísse seis meses
após o seqüestro, em 1998.
Desde a fuga e ainda sem que
as pessoas soubessem quem
era, a menina afirmou que conseguia sair para tomar sorvete e
passar desapercebida. "Era legal sorrir para as pessoas e não
ser reconhecida por ninguém",
disse, com lágrimas nos olhos.
Outro problema para ela durante o seqüestro foi a alimentação. Nem sempre havia comida suficiente, contou. Segundo
a revista "Profil", Natascha pesava no dia da fuga os mesmos
42 kg de quando foi levada a caminho da escola, aos dez anos.
A menina declarou que sentia palpitações no cativeiro,
que, às vezes, deixam sua vista
turva. Assim, antes de dar a entrevista para a "News", no hospital-geral de Viena, um cardiologista a submeteu a exames.
O dia da fuga
Depois de a tão esperada fuga
ter dado certo, Natascha pôde
agora detalhá-la e a qualificou
de "totalmente espontânea".
"Passei pelo portão do jardim
e tive vertigem. [...] Corri em
pânico por uma propriedade e
abordei as pessoas. Elas simplesmente davam de ombros e
saiam andando. Fui para outros
locais, pulei a cerca, em pânico
como num filme de ação. Então, vi uma janela aberta com
uma mulher na cozinha e pedi a
ela para chamar a polícia." A
mulher ainda demorou um
pouco para decidir ajudá-la.
Sobre Priklopil, voltou a afirmar que lamentava seu suicídio, "porque ele podia ter explicado muito mais para mim e a
polícia", mas acrescentou que
não pretendia mais falar dele.
Os planos da menina agora
são cursar o ensino secundário
e escolher uma carreira. Suas
opções por ora são jornalismo,
psicologia e artes. Quer também se envolver em campanhas por mulheres vítimas de
violência e estuda se publica ou
não um livro sobre sua vida.
Outro ponto tratado foi sua
família. Natascha, que continua
sob tratamento, afastada dos
pais, disse amar os dois, que são
separados. Ela tem falado com
a mãe. Do pai, porém, não voltou a perguntar desde que o reviu após escapar. "Foi pior para
eles do que para mim. Eles pensavam que eu estava morta."
Com agências internacionais
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