São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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TRABALHISMO EM CRISE

Ministros deixam gabinete para pressionar Blair a sair

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

O primeiro-ministro Tony Blair foi acossado ontem por uma revolta de parlamentares de seu partido, o Trabalhista, por sua resistência em anunciar a data em que deixará o poder. Oito "ministros juniores" -auxiliares diretos dos secretários de Estado-, todos anteriormente leais ao premiê, pediram demissão de seus cargos ontem.
O mais graduado dos demissionários, Tom Watson -subordinado direto do Secretário de Defesa, Des Browne-, afirmou em sua carta de demissão que a continuidade do governo Blair contrariava os interesses "do partido e da nação".
"Partilho da visão da enorme maioria do partido e do país de que a única maneira de o governo se renovar é com a mudança urgente de sua liderança", escreveu Watson.
O premiê qualificou a atitude de "desleal, descortês e errada" e escreveu uma carta em resposta a Watson: "A renovação e uma nova vitória [nas eleições] não virão da tentativa divisionista de retirar o líder do partido menos de 15 meses após nossa histórica reeleição para um terceiro mandato".
A disputa dentro do Partido Trabalhista começou a se acirrar no ano passado, quando Blair anunciou, após ser reeleito pela segunda vez, que não disputaria novo mandato em 2010.
Partidários descontentes com o apoio do governo à invasão do Iraque, que se refletiu em derrotas nas eleições municipais deste ano, começaram a defender uma saída antecipada do premiê, que seria substituído por Gordon Brown, atual ministro das Finanças.
A continuação do apoio de Blair à política externa do governo Bush, na recente crise entre Líbano e Israel, acirrou ainda mais as críticas e a divisão entre "blairites" (grupo leal ao premiê) e "brownites" (que apóiam Brown).
Analistas políticos avaliam que a disputa se transformará em uma "guerra civil" durante a convenção do Partido Trabalhista, que começa no próximo dia 25, em Manchester. "Esperamos ter um novo líder no posto para a conferência [trabalhista] de 2007", disse à BBC o ministro da Exclusão Social, Hilary Armstrong, numa tentativa de acalmar os ânimos.
Mas os críticos dentro do governo querem que o próprio premiê confirme em público a data de sua saída -algo que Blair tem se recusado a fazer, por medo de se tornar uma figura decorativa. Os apoiadores mais radicais de Gordon Brown pedem não apenas a confirmação da data, mas uma saída imediata, com medo de que Blair aja para "acorrentar" o ministro das Finanças em sua agenda de reformas e de política externa.


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