São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / O BOLSO E AS URNAS

Crise de efeito lento tira trunfo de Obama

Empate com McCain em pesquisas contraria o histórico de reveses governistas quando economia americana vai mal

Explicação pode ser fato de que percalços econômicos, como alta do desemprego, ainda não afetaram parte significativa da população

FERNANDO RODRIGUES ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Há décadas, os pragmáticos eleitores norte-americanos costumam se perguntar na hora de votar se estão melhores ou piores do que quatro anos antes. No início da década passada, o democrata Bill Clinton venceu uma eleição martelando contra o péssimo estado da economia. Um bordão de sua campanha se eternizou: "É a economia, estúpido".
Economia em queda é sinal de que o partido na Casa Branca pode perder o poder. Neste ano, entretanto, há um enigma eleitoral. A economia do país está à beira de uma de suas piores recessões, como vários indicadores atestam, mas o candidato governista e republicano John McCain se mantém praticamente empatado nas pesquisas de intenção de voto com o democrata Barack Obama.
Uma hipótese para explicar esse possível paradoxo é que a crise econômica tal qual tem sido noticiada na mídia, por causa dos indicadores ruins, ainda não afetou com força uma parcela considerável do eleitorado.
O exemplo mais evidente é a taxa de desemprego de agosto, anunciada anteontem. Pulou de 5,7% em julho para 6,1% no mês passado. É alta para padrões dos EUA, mas ainda é uma fração dos percentuais verificados em outros países desenvolvidos, sobretudo na Europa Ocidental.
Há também notícias positivas. O preço do petróleo recuou para perto de US$ 100 o barril depois de ter rondado a casa dos US$ 150. Em julho, o valor médio do galão (3,8 litros, que é como os norte-americanos medem a gasolina na bomba) chegou a US$ 4,11. Na sexta-feira, estava em US$ 3,67, uma diferença de 44 centavos por galão.
A percepção, ou sensação real na vida cotidiana, sobre a economia é importante para que o eleitor médio julgue se as coisas vão bem ou não. E assim decida em quem votar. "A taxa de desemprego subiu, mas não há desemprego generalizado. Mais de 90% não foram afetados", diz Nigel Gault, economista-chefe nos EUA da Macroeconomic Advisers and Global Insight, conceituada na área de previsões econômicas.
O mesmo pode ser dito sobre a crise no setor imobiliário, que fez milhares de pessoas perderem suas casas por falta de pagamento das prestações de seus financiamentos bancários. O problema é dramático para uma parte da população norte-americana, mas não está disseminado para todos os setores.
Apesar de todos esses sinais contraditórios, a Global Insight tem um modelo matemático segundo o qual Obama deve superar McCain por sete pontos percentuais no voto popular no dia 4 de novembro.
"O elemento principal no nosso cálculo é o PIB per capita real. Houve queda de um ano para cá. Por essa razão, a chance de uma vitória democrata é maior. O PIB per capita era de US$ 28.639 no terceiro trimestre de 2007, e agora, pelos nossos cálculos preliminares, em 2008, está em US$ 28.469", diz o economista Gault.
Mas por que então as pesquisas não mostram uma vantagem mais sólida de Obama? "Tudo depende, é claro, de a economia ser de fato um item de grande relevância na eleição", diz. "Notícias recentes ajudam um pouco a estratégia dos republicanos de tirar o assunto da agenda, como o resultado do PIB para o segundo trimestre, que foi de 3,3%."
Ray Fair, economista e professor da Universidade Yale, estuda desde os anos 70 o efeito de variáveis econômicas sobre as eleições nos EUA. Se o estado da economia atual for levado em conta, afirma ele, "não há nenhuma vitória acachapante no horizonte". No seu cálculo matemático, o oposicionista Obama deve ganhar por uma margem apertada de menos de três pontos percentuais.
"A percepção da economia por parte dos eleitores é diferente daquilo que muitas vezes verificamos na mídia. Se continuar havendo algum tipo de alívio pontual, mas perceptível nos próximos dois meses, como a queda do preço da gasolina, pode ser uma boa notícia para McCain e péssima notícia para Obama", diz Ray Flair.


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