|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fala de Obama a estudantes gera polêmica
Republicanos fazem cavalo de batalha de discurso em que presidente incentivará alunos a se esforçarem em sua educação
Democrata é acusado de induzir culto à personalidade;
discussão mostra como divisão política se acirrou em meio a debate sobre saúde
Saul Loeb/France Presse
|
|
Obama com a mulher, Michelle, e as filhas Sasha(à esq.) e Malia,
no retorno à Casa Branca após duas semanas de férias do presidente
DO "FINANCIAL TIMES",
EM WASHINGTON
Encorajar crianças a se esforçarem na escola e a estabelecerem metas para si mesmas não
parece a princípio uma mensagem incendiária. Mas a intenção do presidente dos EUA, Barack Obama, de se dirigir a estudantes amanhã detonou uma
tempestade política no país
-os críticos mais ferozes estão
comparando o democrata aos
ditadores Josef Stálin (1878-1953) e Kim Jong-il, acusando-o de tentar doutrinar as crianças com ideias socialistas.
A reação raivosa é um sinal
do quão polarizado se tornou o
cenário político nos EUA depois de um recesso parlamentar em agosto marcado pela discussão sobre a reforma de saúde impulsionada pelo presidente.
A polêmica sobre o discurso
aos estudantes não é um bom
prenúncio para a fala que Obama fará na quarta-feira ao Congresso, na qual ele apelará por
esforços bipartidários para formular uma lei sobre a reforma
do sistema de saúde que possa
ser apoiada por democratas e
republicanos. Os democratas
pretendem apresentar um projeto próprio caso não haja acordo até o próximo dia 15.
"O fato de que algo tão insípido como o presidente dizer a
crianças que devem se esforçar
tenha detonado esse tipo de
resposta mostra o nível de paranoia nos EUA neste momento. É uma indicação da falta de
vontade dos líderes republicanos de colaborarem com o presidente", disse Matthew Yglesias, do Center for American
Progress, centro de estudos de
inclinação democrata.
Encorajados pelo êxito que
vêm tendo na oposição à reforma da saúde, os republicanos
estão buscando novas oportunidades de enfraquecer o governo Obama.
Van Jones, assessor do presidente para questões de meio
ambiente, pediu demissão anteontem após ser pressionado
por comentários que fez sobre
o Partido Republicano, a quem
acusou de abusar da maioria
parlamentar que teve no passado para impulsionar legislações
daninhas ao país.
Amanhã, Obama discursará
aos alunos da escola secundária
Wakefield, em Arlington (Virgínia), sobre a necessidade de
continuar na escola e trabalhar
duro. Diretores de outras escolas em todo o país foram encorajados a deixar seus alunos assistirem ao discurso ao vivo no
site da Casa Branca.
Coreia do Norte
A reação foi feroz. "Isso não é
educação cívica, é a promoção
de um culto à personalidade. É
algo que você esperaria ver na
Coreia do Norte ou no Iraque
de Saddam Hussein", disse o
senador republicano Steve
Russell.
Depois de escolas em Estados como Illinois, Texas, Virgínia e Wisconsin dizerem que
não iriam exibir o discurso e de
alguns parentes afirmarem que
não mandariam seus filhos à
escola, a Casa Branca permitiu
divulgar a transcrição do discurso hoje para que pais e professores decidam se as crianças
devem ouvi-lo ou não.
O plano de Obama de discursar a estudantes não é novidade
nos EUA -George Bush pai fez
o mesmo em 1991 e sofreu oposição democrata então. Mas a
ferocidade da reação desta vez
mostra o abismo criado meses
após Obama assumir o cargo.
"Um setor do Partido Republicano com fobia a intervenção governamental tomou controle do megafone na política
americana, auxiliado e incentivado por direitistas nos meios
de comunicação", afirmou Bill
Galston, pesquisador do Instituto Brookings e ex-assessor do
ex-presidente Bill Clinton
(1993-2001).
Ontem, o secretário da Educação do governo Obama, Arne
Duncan, desqualificou a polêmica. "Isso é uma estupidez. As
crianças podem ir ao colégio e
não assistir [ao discurso]. É
simplesmente um discurso de
18 minutos, no qual o presidente desafiará os jovens a assumirem responsabilidade por sua
educação", disse ele à emissora
CBS.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Presidente vai traçar "linhas" de reforma Índice
|