São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2010

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Guerra entre jornais atinge Cameron

Premiê é acusado de ter atendido pedidos de dono do "Wall Street Journal" e de tabloide britânico, por apoio

Em reação, "New York Times" denuncia chefe de comunicação oficial por estimular atos ilegais da concorrência


Oli Scarff- 13.abr.2010/Associated Press
Andy Coulson, chefe de comunicação do governo britânico, é acusado de estimular escutas ilegais por repórteres no país

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

A guerra entre dois gigantes das comunicações com sede em Nova York atravessou o Atlântico e atingiu o centro do poder no Reino Unido.
O chefe da comunicação do governo britânico é acusado de ter acobertado ou incentivado atos ilegais. A polícia, de fazer corpo mole nas investigações. O primeiro-ministro, de atender pedidos de um magnata da mídia em troca de apoio.
De um lado do ringue está o "New York Times". De outro, Rupert Murdoch, dono de jornais espalhados pelo mundo, incluindo tabloides sensacionalistas em Londres e o "Wall Street Journal", principal publicação econômica dos EUA que recentemente resolveu disputar o leitor do "NYT".
O mais recente lance nesta guerra foi dado pelo "NYT". O jornal mandou para Londres alguns de seus melhores repórteres para investigar supostas ações criminosas do "News of The World", tabloide dominical de Murdoch.
A acusação é que o ex-diretor do jornal, Andy Coulson, incentivava seus repórteres a invadir a caixa postal dos celulares de membros da realeza, celebridades, políticos e esportistas. Tudo para encontrar escândalos que fazem as manchetes do jornal.
Coulson deixou o "News of the World", trabalhou para o Partido Conservador e hoje é o chefe de comunicações do primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Segundo a reportagem do "New York Times", Coulson aproximou Cameron de Murdoch durante a campanha para as eleições de maio.
Os jornais de Murdoch, que por um certo tempo apoiaram o Partido Trabalhista, passaram a defender a eleição dos conservadores.
Os trabalhistas afirmam que o apoio não foi gratuito. Murdoch teria pedido, entre outras coisas, o enfraquecimento da BBC, TV pública do Reino Unido e principal concorrente da Sky, que pertence ao próprio Murdoch.
Coincidência ou não, desde que tomou posse, em maio, o novo governo faz ataques à BBC e ameaça cortar seu financiamento.

ESCUTAS
O caso das escutas nos celulares não é novo. Começou em 2005, quando descobriu-se que dois funcionários do "News of the World" invadiram as caixas postais de secretários da família real. Coulson era o editor-chefe à época. Disse que não sabia de nada, mas se demitiu.
O que o "NYT" diz agora é que Coulson não só sabia, como incentivava a prática.
Diz também que a polícia foi leniente na investigação e que não avisou várias pessoas que tiveram o sigilo telefônico quebrado.
Isso, segundo a reportagem, poupou o jornal, e o próprio Murdoch, de processos de indenização que poderiam ultrapassar milhões de reais cada um.
A polícia diz que a investigação foi cuidadosa e que a reportagem não traz elementos para reabrir o inquérito.
O "News of the World" foi bem mais duro. O jornal, que vende 2,9 milhões de exemplares aos domingos, diz que a "investigação do "Times" foi manchada por um grande interesse em seu resultado".
Afirma ainda que foram ouvidos ex-repórteres não confiáveis e questiona: "Qual seria a reação de vocês se Jason Blair apresentasse alegações sobre as práticas editoriais do "NYT" a um jornal de um grupo rival?".
Blair foi demitido do "NYT" após a descoberta de que inventava reportagens.
Coulson disse que aceita falar com a polícia outra vez sobre as escutas. Cameron não comentou o caso.


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