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Biografia resgata um anti-Che americano
William Morgan lutou contra Batista e foi fuzilado em Cuba em 1961, acusado de tramar contra-revolução
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Menos de dois anos antes, ele
estava do lado dos vencedores.
Agora, em março de 1961, numa
cela na prisão de La Cabaña, em
Havana, esperava sua morte.
"Não permitimos que eles
roubassem ou demos postos-chave àqueles que ambicionavam ser traidores: não os eliminamos, nós fizemos um acordo,
tudo pelo bem de uma unidade
que não foi completamente entendida. Esse foi o pecado da
revolução."
Palavras de Ernesto Che
Guevara, citadas no livro "The
Americano", recém-lançado
nos EUA. Segundo o autor, o
jornalista americano Aran
Shetterly, elas separavam os
combatentes que tinham deposto o ditador Fulgêncio Batista: havia os "revolucionários
puros" e os "pseudo-revolucionários". William Morgan foi
classificado no segundo grupo.
Em Toledo, Ohio, no Meio-Oeste dos EUA, Morgan era
Billy. A família de classe média
alta se mudara para a cidade logo após o seu nascimento, na
vizinha Cleveland, em 1928.
Billy, um adolescente desajustado, alistou-se na Marinha
Mercante no meio da Segunda
Guerra Mundial e, posteriormente, no Exército. No Japão,
desapareceu após conhecer
uma garota. A corte marcial o
sentenciou a três anos de prisão. Voltou a Toledo e acabou
envolvido com o tráfico de armas para os rebeldes cubanos.
Quando desembarcou na
ilha, em janeiro de 1958, o comandante Eloy Gutiérrez Menoyo desconfiou do gringo. A
habilidade com armas de fogo
de Morgan convenceu-o. Aceito na SFNE (Segunda Frente
Nacional de Escambray), passou a ser conhecido como El
Americano, a partir do qual
Shetterly conta a história da
Revolução Cubana.
Segundo o jornalista, a trajetória do guerrilheiro americano resume a revolução, um ciclo de esperança, euforia e desilusão. "Em uma revolução, há
união porque essa é a sua única
chance de derrubar o regime.
Na hora de organizar o que
vem posteriormente, aparecem os conflitos", diz.
Morgan e Che eram ambos
estrangeiros na guerrilha contra Batista. No entanto, as semelhanças paravam por aí. O
americano jamais simpatizou
com o comunismo.
"As coisas ficaram complicadas na ilha. Se você discordasse, significava que estava contra", continua Shetterly. "Morgan achava que alguma coisa
estava errada nos rumos que a
revolução tomou. O seu valor
absoluto era a liberdade."
Sob o comando de Che Guevara, dezenas de dissidentes e
contra-revolucionários foram
executados no presídio de La
Cabaña. Entre eles, em 11 de
março de 1961, Morgan. Segundo Shetterly, ele havia se manifestado favoravelmente à idéia
de uma contra-revolução aventada pelos companheiros de
Escambray, mas nunca ficou
provado que arquitetava algum
plano. Na época em que foi preso, três meses antes de ser condenado à morte, cuidava de
uma criação de rãs para vender
a carne e a pele, na qual empregava cerca de 600 camponeses.
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