São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Dilma à flor da pele

"Presidente búlgara do Brasil" diz que viveu uma das maiores emoções de sua vida em visita à cidade natal de seu pai, que atraiu milhares de pessoas às ruas; com fama de líder durona, ela não chorou -mas quase

Roberto Stuckert Filho/PR/Divulgação
Dilma é cercada por curiosos durante visita ao colégio onde seu pai estudou, em Gabrovo

VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL À BULGÁRIA

Não teve choro. Mas quase. E nada de negócios ou eventos oficiais, apenas familiares. Foi assim o segundo e último dia da visita da presidente Dilma Rousseff à Bulgária, ontem.
Conhecida por ser durona, ela ficou com a voz embargada durante discurso e disse que visitar Gabrovo, a cidade onde seu pai nasceu, foi um dos momentos "de emoção mais profunda" de sua vida.
E enumerou os momentos anteriores: quando a filha e o neto nasceram, quando foi eleita presidente e no dia em que se despediu das companheiras de cela após ser libertada pela ditadura.
"Realizo, aqui em Gabrovo, o sonho que era do meu pai, de um dia voltar à Bulgária", afirmou, em discurso na escola onde estudou Pétar Russév, que deixou o país em 1929. Segundo alguns, foi por razões econômicas (estava falido). Segundo outros, por motivos políticos (era ligado aos comunistas num país monarquista).
Milhares de pessoas foram para a praça na frente da escola para ver a "presidente búlgara do Brasil", como ela é chamada pelos jornais e pela população local. Ao menos três passaram mal e desmaiaram com o calor.
"Ela é muito famosa e é motivo de orgulho para nós, búlgaros. Por isso, vim", disse Hristina Hristova, uma estudante de 16 anos que tinha um broche com a bandeira do Brasil, presente dos organizadores da visita.
O discurso da maioria era o mesmo. Dilma é um orgulho nacional num momento em que o país tem pouco a comemorar: está com a economia estagnada, desemprego crescente, e o conflito étnico envolvendo os ciganos se agravou, com mortes e protestos nas ruas nas últimas semanas.

MEIO-IRMÃO
A presidente começou o dia com uma visita ao túmulo do meio-irmão que nunca conheceu, Luben. Quando fugiu da Bulgária, Pétar deixou a mulher grávida. Prometeu voltar, o que não cumpriu. Luben chegou a trocar cartas com ela, mas morreu em 2007, antes de um encontro.
Tsanka Komenova, filha de um tio de Dilma, foi com ela ao cemitério. As duas acenderam uma vela e ficaram no local por cerca de 20 minutos. Quase não falaram. Dilma colocou no local uma coroa de flores brancas.
Depois, a presidente foi visitar a cidade de Veliko Tarnovo, que foi a capital da Bulgária até o século 19. Lá, visitou as ruínas de um castelo. Na sequência, seguiu para Gabrovo.
Além da escola onde estudou o pai, foi ao museu da cidade, que mantém a exposição "As Raízes Búlgaras de Dilma Rousseff". São 65 fotos: da avó, do pai quando jovem, do meio-irmão, de tios e primos.
Há também fotos de Dilma e dos dois irmãos brasileiros quando eram crianças em Belo Horizonte. Foi no museu que ela teve tempo de conversar com parentes. Estavam lá, além de Tsanka, Ralitsa Negentsova e Vessela Kovácheva (primas de segundo grau) e Toshka Kovácheva (viúva de um primo seu).
Elas dizem que Dilma se empolgou com a conversa, prometeu manter contato e as convidou para vir ao Brasil. "Disse que se a gente for, nos espera no aeroporto", disse Toshka. Ela, que vive em Gabrovo, disse que chorou. Dilma, não.


Texto Anterior: Destino está na moda entre os brasileiros, diz dono de pousada
Próximo Texto: Foco: Com 300 militares, fragata parte para missão no Líbano
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.