São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
USA - por Kathleen Parker Para onde vai Sarah?
O QUE SERÁ feito de Sarah Palin agora? É essa a pergunta de um milhão de dólares da semana nos EUA. Ela se tornará a figura central de um Partido Republicano novo e melhorado? Uma candidata presidencial em 2012? Uma apresentadora de talk show? Não é segredo que tenho sido intransigente com Palin, mas não é por não gostar dela ou por ter ciúmes dela. (Por favor, podemos pelo menos deixar as mulheres fazerem críticas legítimas a outras mulheres sem serem caracterizadas como maldosas? Os homens nunca são acusados disso.) A objeção que fiz a Palin era simples: ela não estava preparada nem qualificada para a Vice-Presidência, ou, pior, a Presidência. A maioria dos americanos concorda com essa avaliação -logo, ela não deve ser controversa. Nunca foi uma coisa pessoal. Palin parece ser uma pessoa simpática. Aparentemente, é uma mulher bem casada e mãe amorosa. Ela é também uma governadora popular, cujo amor por seu país não está em dúvida. É uma política nata, com grande futuro e que possui a qualidade rara, mas palpável, que descrevemos como "it". Sarah Palin tem "it" ao cubo. Quando ela entra num lugar, absorve todo o oxigênio do ambiente. Como me disse um jornalista homem: "Não gosto de suas atitudes, mas não consigo tirar os olhos dela". Observação devidamente notada. O que o futuro reserva para Palin? Quem sabe? Ela quer mergulhar nos livros e informar-se sobre os problemas sérios? (Alguém precisa lhe dizer que ela se traiu quando disse que lê "The Economist". Ninguém lê a "Economist". É como "Ulisses". Sabemos que deveríamos ler esse livro, mas nunca encontramos tempo.) Está muito claro que ela tem uma base de fãs e é uma "marca" que todo o mundo reconhece. Além disso, ela exala autoconfiança e tem ambição de sobra. O Partido Republicano a adora. Isso não basta. Nas próximas semanas e nos próximos meses, quando os líderes republicanos procurarem sua identidade perdida, desconfio que vão descobrir que têm divergências inconciliáveis com relação a Palin. Essas divergências podem ter estado em ação o tempo todo, e a campanha não ajudou. Palin prejudicou a chapa republicana. Ponto. E John McCain perdeu votos por sua causa. O que o Partido Republicano precisa reconhecer é que a parte do partido à qual Palin agradou em cheio com o seu jeitinho feminino popularesco, -somado a suas crenças religiosas fundamentalistas e a seu jeito de quem se orgulha de ser comum- não é mais uma fórmula que funciona para um segmento grande da população. Não digo isso com a intenção de fazer pouco caso dos evangélicos brancos, a base do Partido Republicano, a maioria dos quais apenas quer um país que consiga reconhecer. Eles se sentem atacados por uma cultura que é hostil a seus valores tradicionais. E se sentem desrespeitados por uma mídia que vêem como elitista e em conluio com os democratas. Eles não estão inteiramente enganados. Apesar disso, a tática da divisão populista e uma ideologia que freqüentemente fomenta uma política da exclusão não vão convencer num país em que a diversidade é cada vez maior. A nação avançou além disso. Quando o Partido Republicano se reinventar, seus líderes podem pensar na possibilidade de ampliar sua base. A Grande Tenda prometida muito tempo atrás vem encolhendo nos últimos anos: 93% das pessoas que assistiram à Convenção Republicana eram brancas. E Sarah Palin, se quiser tornar-se a estrela republicana, terá que começar a moderar suas posturas. Se não, tanto ela quanto o partido conservador estarão acabados. Tradução de CLARA ALLAIN KATHLEEN PARKER é colunista do "Washington Post" e comentarista da NBC; ela escreveu esta coluna para a Folha Texto Anterior: EUA - por Contardo Calligaris: Culpa branca, festa africana e socialismo Próximo Texto: Americanas Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |