São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA EXTERNA

Plano Colômbia falhou, diz relatório americano

Análise foi preparada a pedido do vice-presidente eleito e recomenda corte de verbas

Meta de reduzir produção de cocaína em 50% não foi atingida, e houve aumento; opositor de Uribe diz crer que ajuda será mantida

FABIANO MAISONNAVE
EM BOSTON (EUA)

Um relatório preparado pela unidade de investigação do Congresso americano mostra que o Plano Colômbia, implantado em 2000, não alcançou o objetivo de reduzir a produção de cocaína pela metade, embora tenha melhorado os índices de violência interna. Feito a pedido do vice-presidente eleito, Joe Biden, o estudo sugere a redução do repasse de recursos e deve subsidiar a intenção declarada de Barack Obama de rever a ajuda ao país andino.
Apesar dos US$ 6 bilhões em assistência à Colômbia, a produção de cocaína aumentou 4% entre 2000 e 2006, afirma o estudo -índice bem longe da meta inicial, que previa uma queda de 50% nesse período.
Segundo o estudo, a maior parte do US$ 1,3 bilhão gasto em ajuda não militar se destinou a programas de alternativa econômica, "mas sem atingir a maior parte das áreas onde a coca é cultivada". O resultado é que o cultivo da planta aumentou 15% entre 2000 e 2006 -as plantações se espalharam e ficaram menos produtivas devido às fumigações aéreas.
O relatório recomenda que o governo americano diminua o financiamento à Colômbia, transfira parte de suas responsabilidades operacionais e revise o programa para financiar alternativos ao cultivo de coca.
O Plano Colômbia foi aprovado pelo Congresso americano em 1999, sob os governos do democrata Bill Clinton, nos EUA, e do conservador Andrés Pastrana na Colômbia. A aproximação aumentou durante os dois governos atuais, de Álvaro Uribe e de George W. Bush, que defendem sua continuidade.
Durante a recém-terminada campanha eleitoral, a ajuda à Colômbia, fornecedora de 90% da cocaína consumida nos EUA, foi um dos principais temas de política externa. Obama tem sinalizado que condicionará a ajuda ao país à melhoria de índices ligados aos direitos humanos, sobretudo à diminuição de assassinatos de sindicalistas.
Ontem, o ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, disse que o governo Uribe tentará convencer Obama a manter a ajuda financeira. "Caso se corte, será por questões financeiras, não por falta de vontade política." Segundo ele, a proposta de reduzir fundos incluída no estudo "obedece a um plano de nacionalização previsto desde o início".

Mockus
Adversário político de Uribe, o ex-prefeito de Bogotá Antanas Mockus crê que, no governo Obama, o Plano Colômbia continue, embora menos militarizado. "Prevejo que o Plano Colômbia reforçará seus componentes educativos e de fortalecimento da Justiça", disse ontem, ao ser questionado pela Folha sobre o assunto durante palestra no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na sigla em inglês).
Para Mockus, um dos grandes desafios no combate ao narcotráfico é que o país só atua para conter o problema sob pressão externa, em parte devido à relativa aceitação social entre os colombianos.
"A Colômbia tem de ser mais pró-ativa no tema do narcotráfico. A minha impressão é que às vezes impõem o tema à Colômbia desde fora, tarefa que faz a contragosto. Tem de ser uma pedagogia muito persuasiva, que chegue às famílias e ao entorno do narcotráfico", afirmou o candidato presidencial derrotado por Uribe em 2002.
Por outro lado, Mockus disse que o Plano Colômbia foi bem-sucedido ao "derrotar as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e melhorar o desempenho institucional do Exército, embora tenha usado métodos muito perversos" -alusão ao recente escândalo em que oficiais do Exército assassinaram jovens pobres para contabilizar falsamente como guerrilheiros e paramilitares mortos em combate.


Texto Anterior: Sucessão nos EUA / O papel do vice: Biden refuta modelo Cheney e se vê como um conselheiro
Próximo Texto: Após escândalo, EUA cortam ajuda a militares
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.