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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA EXTERNA
Plano Colômbia falhou, diz relatório americano
Análise foi preparada a pedido do vice-presidente eleito e recomenda corte de verbas
Meta de reduzir produção de cocaína em 50% não foi atingida, e houve aumento; opositor de Uribe diz crer que ajuda será mantida
FABIANO MAISONNAVE
EM BOSTON (EUA)
Um relatório preparado pela
unidade de investigação do
Congresso americano mostra
que o Plano Colômbia, implantado em 2000, não alcançou o
objetivo de reduzir a produção
de cocaína pela metade, embora tenha melhorado os índices
de violência interna. Feito a pedido do vice-presidente eleito,
Joe Biden, o estudo sugere a redução do repasse de recursos e
deve subsidiar a intenção declarada de Barack Obama de rever a ajuda ao país andino.
Apesar dos US$ 6 bilhões em
assistência à Colômbia, a produção de cocaína aumentou 4%
entre 2000 e 2006, afirma o estudo -índice bem longe da meta inicial, que previa uma queda
de 50% nesse período.
Segundo o estudo, a maior
parte do US$ 1,3 bilhão gasto
em ajuda não militar se destinou a programas de alternativa
econômica, "mas sem atingir a
maior parte das áreas onde a
coca é cultivada". O resultado é
que o cultivo da planta aumentou 15% entre 2000 e 2006 -as
plantações se espalharam e ficaram menos produtivas devido às fumigações aéreas.
O relatório recomenda que o
governo americano diminua o
financiamento à Colômbia,
transfira parte de suas responsabilidades operacionais e revise o programa para financiar alternativos ao cultivo de coca.
O Plano Colômbia foi aprovado pelo Congresso americano em 1999, sob os governos do
democrata Bill Clinton, nos
EUA, e do conservador Andrés
Pastrana na Colômbia. A aproximação aumentou durante os
dois governos atuais, de Álvaro
Uribe e de George W. Bush, que
defendem sua continuidade.
Durante a recém-terminada
campanha eleitoral, a ajuda à
Colômbia, fornecedora de 90%
da cocaína consumida nos
EUA, foi um dos principais temas de política externa. Obama
tem sinalizado que condicionará a ajuda ao país à melhoria de
índices ligados aos direitos humanos, sobretudo à diminuição
de assassinatos de sindicalistas.
Ontem, o ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel
Santos, disse que o governo
Uribe tentará convencer Obama a manter a ajuda financeira.
"Caso se corte, será por questões financeiras, não por falta
de vontade política." Segundo
ele, a proposta de reduzir fundos incluída no estudo "obedece a um plano de nacionalização previsto desde o início".
Mockus
Adversário político de Uribe,
o ex-prefeito de Bogotá Antanas Mockus crê que, no governo Obama, o Plano Colômbia
continue, embora menos militarizado. "Prevejo que o Plano
Colômbia reforçará seus componentes educativos e de fortalecimento da Justiça", disse ontem, ao ser questionado pela
Folha sobre o assunto durante
palestra no MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts,
na sigla em inglês).
Para Mockus, um dos grandes desafios no combate ao
narcotráfico é que o país só
atua para conter o problema
sob pressão externa, em parte
devido à relativa aceitação social entre os colombianos.
"A Colômbia tem de ser mais
pró-ativa no tema do narcotráfico. A minha impressão é que
às vezes impõem o tema à Colômbia desde fora, tarefa que
faz a contragosto. Tem de ser
uma pedagogia muito persuasiva, que chegue às famílias e ao
entorno do narcotráfico", afirmou o candidato presidencial
derrotado por Uribe em 2002.
Por outro lado, Mockus disse
que o Plano Colômbia foi bem-sucedido ao "derrotar as Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e melhorar o
desempenho institucional do
Exército, embora tenha usado
métodos muito perversos"
-alusão ao recente escândalo
em que oficiais do Exército assassinaram jovens pobres para
contabilizar falsamente como
guerrilheiros e paramilitares
mortos em combate.
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