São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / O PAPEL DO VICE

Biden refuta modelo Cheney e se vê como um conselheiro

Novo vice-presidente deve reduzir tendência de fortalecimento dos poderes do cargo

Democrata deve investir em relações com o Congresso, onde esteve por 35 anos, e oferecer expertise em temas de política externa a Obama

DANIEL DOMBEY
DO "FINANCIAL TIMES"

Bem antes da eleição que o conduziu à Vice-Presidência dos EUA, Joe Biden já deixara bem claros os seus planos: não queria repetir Dick Cheney.
"O vice-presidente Cheney provavelmente foi o mais perigoso vice-presidente da história americana", disse Biden no debate com sua oponente republicana, Sarah Palin.
A declaração era uma referência à longa busca de Cheney por uma ampliação dos poderes do Executivo, especialmente em áreas como o uso da força, tratamento de prisioneiros e política externa.
Em contraste com Cheney, que passou a maior parte dos anos em Washington como membro do Executivo, Biden foi senador por 35 anos e vê seu papel como o de trabalhar com o Congresso e oferecer conselhos e seu conhecimento de política externa ao presidente.
Os assessores de Biden deixaram claro que não têm planos de estabelecer um governo paralelo, como Cheney foi acusado de fazer. O atual vice-presidente colocou figuras leais a ele em postos chaves de diversas áreas do governo e sua equipe recebia cópias da correspondência de outros funcionários da Casa Branca.
Biden poderia representar um abandono da tendência de aumento do poder da Vice-Presidência nas últimas décadas.
Mas, de algumas maneiras, Biden e Cheney são bastante parecidos. Como o vice-presidente, Biden, após duas tentativas frustradas de conquistar a indicação presidencial, diz que não pretende voltar a disputar o posto. E, como Cheney, ele também deixou clara sua falta de entusiasmo por projetos que vice-presidentes anteriores foram encarregados de conduzir para mantê-los ocupados como o programa de "reinvenção do governo" que Al Gore dirigiu.
E Barack Obama, como George W. Bush, optou por um veterano de Washington em parte para reassegurar os eleitores preocupados com sua experiência limitada.
Os conhecimentos de Biden foram ainda mais apreciados porque as questões de política externa ganharam destaque na agenda nos dias que antecederam sua seleção como companheiro de chapa de Obama, quando irrompeu a guerra entre Rússia e Geórgia em agosto.
Enquanto John McCain conquistava elogios por sua resposta dura às ações russas, Biden exibia suas credenciais com uma viagem à capital georgiana, Tbilisi, menos de uma semana depois de ser escolhido como candidato a vice.
Ele também determinou a agenda para a política dos EUA quanto à Geórgia, pedindo US$ 1 bilhão em assistência ao país, a soma que o governo Bush terminou por oferecer.
Na terça, Biden foi eleito para mais um mandato no Senado por Delaware -nos EUA, é possível concorrer simultaneamente a dois cargos. O substituto deve ser nomeado pelo governador do Estado, e um dos cotados é o filho de Biden, Beau, capitão da Guarda Nacional atualmente se preparando para missão no Iraque.
Ontem, Biden ainda estava celebrando em Delaware, antes de voltar a Chicago para reuniões com Obama e a equipe de transição.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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