São Paulo, sábado, 07 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Irã é problema do mundo todo, diz israelense

Às vésperas de chegar ao Brasil para visita, presidente Shimon Peres diz que ameaça nuclear iraniana não deve preocupar só Israel

Político confia na diplomacia como saída para conflito com Teerã, mas não espera que Brasil possa servir de ponte entre país persa e Ocidente

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Apesar da enorme desconfiança que ronda o assunto em seu país, o presidente de Israel, Shimon Peres, ainda acredita na diplomacia como o melhor caminho para resolver o impasse nuclear com o Irã.
Para Peres, 86, que desembarca no Brasil na terça-feira para visita oficial de cinco dias, o programa atômico do Irã não pode ser visto como um problema apenas de Israel. Esta será uma de suas mensagens na conversa privada que terá com o presidente Lula e também deverá marcar o discurso que fará no Congresso Nacional.
Menos de duas semanas após a visita de Peres, será a vez do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ser recebido por Lula em Brasília. Cauteloso, o presidente israelense não comenta as escolhas da diplomacia brasileira, mas não esconde o que pensa de Ahmadinejad.
"Estou visitando o Brasil e não pretendo debater o tema Ahmadinejad. Espero que Lula seja um homem de valores", disse Peres em conversa com jornalistas brasileiros. "Sobre o presidente do Irã, todos sabem quem ele é. Ele prega a destruição de Israel, nega o Holocausto, fornece armas ao terror. É suficiente. Não quero impor nossas opiniões ao governo brasileiro."
O argumento de que o Brasil pode servir de ponte entre o Irã e o Ocidente, é visto com ceticismo por Peres, um veterano em negociações diplomáticas. "Talvez sim. Mas não tenho essa expectativa", diz Peres.
"Para promover a paz é preciso combater a ameaça do terrorismo e recrutar apoio à causa da paz. Se o Brasil está ciente destes desafios, gostaria de vê-lo participando mais."
Segundo o presidente israelense, há um consenso entre as principais potências mundiais de que é preciso conter as ambições nucleares do Irã. "Israel não quer monopolizar o problema iraniano", afirma. "O Irã é um problema do mundo, não apenas de Israel."
Sentado no relativamente modesto gabinete presidencial, cercado de imagens da história de Israel, da qual ele próprio é um dos últimos símbolos vivos, Peres fala de forma pausada, a voz baixa. Deixa claro que considera o atual regime iraniano uma ameaça, mas vê alternativas ao uso da força.
"Eu não colocaria uma ação militar no topo das opções. Temos que fazer tudo o que for possível para encontrar uma solução pacífica", diz.
Vencedor do Nobel da Paz de 1994, pelo acordo com os palestinos que hoje parece estar num beco sem saída, Peres acredita que um acordo é inteiramente possível. E critica a decisão da liderança palestina, de não retomar as negociações enquanto Israel não congelar a construção de assentamentos na Cisjordânia.
"No começo, os palestinos se recusavam a negociar, e continuam assim até hoje. Eu digo: meu Deus, se trata-se apenas de 3% ou 4%, vamos tentar negociar, vamos fechar essa diferença. Eles não deveriam rejeitar essa negociação", diz.

"Erro de julgamento"
Peres chega ao Brasil num momento de desgaste da imagem internacional de Israel, causado pela investigação da ONU que acusou o país de cometer crimes de guerra em Gaza, no inicio do ano. Na avaliação do presidente, o Brasil cometeu "um erro de julgamento", ao votar a favor do Relatório Goldstone, que enumerou as conclusões da investigação.
"O único crime de Israel é não ter maioria na ONU", queixa-se Peres afirmando que há "uma maioria automática" na organização contra Israel.
"Quando a Liga Árabe, a Conferência Islâmica e o bloco dos não alinhados se juntam, não nos sobra muita chance."
Visto durante anos em Israel como uma das personalidades mais controvertidas da política e um perdedor nato de eleições, Peres é hoje uma das figuras públicas mais respeitadas do país. Sua transformação em consenso nacional começou a se cristalizar em 1995, quando teve que substituir o premiê Yitzhak Rabin, assassinado por um radical judeu.
Para muitos, foi ali também que o processo de paz começou a morrer. Peres discorda. "Foi uma interrupção que prejudicou, ou atrasou, o processo de paz. Mas a maioria dos israelenses quer a paz, e ela se mantém viva", afirma Peres.


Leia a íntegra da entrevista com Peres
www.folha.com.br/0931013



Texto Anterior: Clóvis Rossi: O real, a moeda do século 21?
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.