São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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"A França sempre quis promover a assepsia social"

DE SÃO PAULO

"Quando a violência não é ritualizada, ela se torna perversa -no sentido de "perdida", diz Michel Maffesoli em entrevista por telefone. Essa é a razão por que ele acha que seu país está condenado a repetir os ciclos de violência como os de 2005 ou do mês passado. (MFP)

 

Folha - Em 2005, o sr. afirmou que as revoltas eram "previsíveis" e "se reproduziriam". O sr. acha que novos distúrbios estão para acontecer?
Michel Maffesoli
- A minha hipótese é de que sempre haverá distúrbios numa sociedade policiada demais como a francesa, em que não há cultura, esporte suficientes.

Não acredita em razões econômicas para os distúrbios?
Não, podem ser no máximo uma das razões. O verdadeiro problema é que é preciso haver, em todas as sociedade equilibradas, momentos de desregramento. É o que Aristóteles chamou de "catarse" ou purgação.
Quando olhamos as sociedade medievais, havia momentos como o Carnaval, as festas de inversão -o que Émile Durkheim chamava de desregramentos autorizados.
O problema é que isso não existe mais na França.

Essa é a razão por que esses distúrbios parecem ocorrer somente na França?
Sim, pois existe aqui, desde Descartes, uma tradição racionalista da sociedade, que busca conter as emoções, as paixões etc.É uma
razão cultural!

E ela também explica os distúrbios nas periferias?
Sim, e isso não depende da classe política. Tanto esquerda quanto direita buscam uma espécie de assepsia da vida social. Logo, não há lugares ritualizados de expressão da efervescência -como o Carnaval, por exemplo.

O modelo republicano também tem culpa no cartório?
Sim, porque a concepção de república "una e indivisível" implica a dificuldade em lidar com a especificidade comunitária -sejam árabes, ciganos etc.
Mas sou partidário do modelo latino, inspirado na Roma Antiga, onde havia uma coerência segundo a qual diversos elementos viviam juntos. Havia reafirmação contínua da especificidade.
Toda a Europa se confronta hoje com uma mudança de paradigma. Ela foi o lar da modernidade, mas tem hoje muita dificuldade em aceitar a pós-modernidade.


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