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"A França sempre quis promover a assepsia social"
DE SÃO PAULO
"Quando a violência não é
ritualizada, ela se torna perversa -no sentido de "perdida", diz Michel Maffesoli em
entrevista por telefone.
Essa é a razão por que ele
acha que seu país está condenado a repetir os ciclos de
violência como os de 2005 ou
do mês passado.
(MFP)
Folha - Em 2005, o sr. afirmou
que as revoltas eram "previsíveis" e "se reproduziriam". O
sr. acha que novos distúrbios
estão para acontecer?
Michel Maffesoli - A minha
hipótese é de que sempre haverá distúrbios numa sociedade policiada demais como
a francesa, em que não há
cultura, esporte suficientes.
Não acredita em razões econômicas para os distúrbios?
Não, podem ser no máximo uma das razões. O verdadeiro problema é que é preciso haver, em todas as sociedade equilibradas, momentos de desregramento. É o
que Aristóteles chamou de
"catarse" ou purgação.
Quando olhamos as sociedade medievais, havia momentos como o Carnaval, as
festas de inversão -o que
Émile Durkheim chamava de
desregramentos autorizados.
O problema é que isso não
existe mais na França.
Essa é a razão por que esses
distúrbios parecem ocorrer
somente na França?
Sim, pois existe aqui, desde Descartes, uma tradição
racionalista da sociedade,
que busca conter as emoções, as paixões etc.É uma
razão cultural!
E ela também explica os distúrbios nas periferias?
Sim, e isso não depende da
classe política. Tanto esquerda quanto direita buscam
uma espécie de assepsia da
vida social. Logo, não há lugares ritualizados de expressão da efervescência -como
o Carnaval, por exemplo.
O modelo republicano também tem culpa no cartório?
Sim, porque a concepção
de república "una e indivisível" implica a dificuldade em
lidar com a especificidade
comunitária -sejam árabes,
ciganos etc.
Mas sou partidário do modelo latino, inspirado na Roma Antiga, onde havia uma
coerência segundo a qual diversos elementos viviam juntos. Havia reafirmação contínua da especificidade.
Toda a Europa se confronta hoje com uma mudança de
paradigma. Ela foi o lar da
modernidade, mas tem hoje
muita dificuldade em aceitar
a pós-modernidade.
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