São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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"O problema das periferias das cidades é político", diz sociólogo

DE SÃO PAULO

"O problema das revoltas nas periferias [das cidades francesas] é político", defende Didier Lepeyronnie. Seus moradores não têm canais de representação junto à sociedade, o que acentua as formas de rejeição -"como o racismo", diz o sociólogo na entrevista abaixo, concedida por telefone de Paris. (MFP)

 

Folha - Em artigo no jornal "Libération", o sr. disse que as periferias das grandes cidades estão abandonadas.
Didier Lepeyronnie
- A situação se degradou desde 2005; as pessoas estão mais pobres, as desigualdades aumentaram... Hoje, a situação é mais tensa. Por outro lado, o governo [do presidente Nicolas] Sarkozy desenvolveu uma política repressiva e não foi bem-sucedido em combater o desemprego, sobretudo entre os jovens.

Isso é uma represália?
Acho que não. Trata-se, antes, de uma certa ingenuidade política e, ao mesmo tempo, de exploração do medo junto a seu eleitorado.

A crise de 2008-09 piorou essa situação?
Sim, porque parte da população estava empregada na indústria, em que o desemprego aumentou muito.

Por que os policiais que perseguiram os dois jovens que morreram -e que seria o estopim da crise- ainda não foram julgados?
Provavelmente porque houve pressão por parte do governo. E também porque a Justiça na França não é muito independente, além de ser extremamente lenta quando se trata de julgar policiais.

O que a sociedade aprendeu com as revoltas de 2005?
Não sei o que aprendeu, porque ela só se interessa pelas periferias quando ocorrem revoltas.

O país pode presenciar novas revoltas?
Aparentemente não, porque elas pressupõem elementos detonadores, como a morte dos dois adolescentes.
Mas a miséria, o desemprego, o sentimento de ser abandonado pelo Estado e de ser fonte de problemas para a sociedade... Todos esses ingredientes também estão presentes hoje.

Os manifestantes seguiam alguma orientação?
Eles eram muito jovens e não seguiam nenhuma lógica ou ideologia.

O multiculturalismo à inglesa pode ser uma boa opção para solucionar os problemas das periferias francesas?
Não, porque o problema vem do fechamento da sociedade e do sistema político. É isso que explica os distúrbios -e não a questão cultural.


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