São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Chávez diz que só governará até o fim do mandato atual

Anúncio foi recebido ontem com ceticismo pela oposição; general Baduel, ex-aliado do presidente, pede Constituinte

Na véspera, presidente anunciara sua "segunda ofensiva" por reforma da Carta; ex-embaixador no Brasil cai após críticas

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Um dia depois de anunciar a "segunda ofensiva" para aprovar sua reforma constitucional, o presidente Hugo Chávez disse ontem que só governará até o fim de seu mandato atual, em janeiro de 2013. As declarações, porém, foram recebidas com ceticismo pela oposição e nem sequer receberam destaque na imprensa oficial.
"Uma coisa são os gritos, outra coisa é a realidade", disse Chávez, em breve discurso durante evento oficial. "Não se aprovou a reforma, portanto, tenho de sair do governo em 2013. Trabalharei sem descanso até o último dia que ficar aqui", prometeu.
Na véspera, Chávez havia dito que a proposta de reforma constitucional, que prevê a reeleição indefinida para presidente, seria reapresentada por meio de coleta de assinaturas. E na madrugada de segunda-feira, ao reconhecer a derrota no referendo de domingo, disse que era "por agora".
Os meios oficiais reproduziram outras partes da fala. A Agência Bolivariana de Notícias (ABN) ressaltou trecho em que Chávez diz que "quem votou pelo "não" favoreceu [George W.] Bush e quem não votou acabou fazendo o mesmo".
No Un Novo Tempo (UNT), um dos principais partidos da oposição, a promessa tampouco foi levada a sério. "De um regime que se move por capricho, qualquer coisa se pode esperar", disse à Folha o vice-presidente William Ojeda, ex-deputado constituinte chavista. "Um dia diz uma coisa, outro dia diz outra, conforme os seus hormônios."
Ojeda também criticou a proposta de relançar a reforma constitucional: "A proposta soviética do governo militar-cívico venezuelano foi derrotada. O resto é reação de dor".
A derrota de domingo provocou a primeira baixa no governo: o ex-embaixador da Venezuela no Brasil Vladimir Villegas se demitiu do cargo de vice-ministro da Chancelaria para a Ásia após ter dado uma entrevista com duras críticas à campanha eleitoral chavista.
Em declarações ao "El Nacional", afirmou que "Chávez tem de escutar a nossa reflexão. O presidente precisa estar acompanhado de gente que diga as coisas".
O ex-ministro da Defesa Raúl Baduel convocou ontem uma entrevista coletiva para propor a convocação de uma Assembléia Constituinte para evitar que Chávez relance sua reforma constitucional rejeitada no domingo. "Pretende-se criar fissuras no muro intransponível que colocamos no domingo", afirmou, ele, que em julho deixou o governo e participou ativamente da campanha contra as mudanças propostas pelo ex-aliado, às quais chamou de "golpe de Estado".


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