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Israel retoma construção em assentamento polêmico
Para palestinos, a área sob disputa deve fazer parte de futura capital; já israelenses dizem que colônia é parte da "Grande Jerusalém"
MICHEL BÔLE-RICHARD
DO "MONDE"
Apenas uma semana após a
cúpula de Annapolis (Maryland), a administração israelense anunciou ter aberto uma
licitação para a construção de
307 novas unidades residenciais no assentamento de Har
Homa. Esse assentamento, situado nas proximidades de Belém, já tinha provocado controvérsia aguda quando foi criado,
no final dos anos 1990.
Está previsto para 12 de dezembro o início das conversações visando a criação de um
Estado palestino, e a ampliação
de Har Homa é vista pelos palestinos como provocação. "Se
Israel não anular essa decisão,
os resultados de Annapolis terão sido sabotados antes de começarem a ser aplicados", disse
Saeb Erekat, assessor do presidente da Autoridade Nacional
Palestina, Mahmoud Abbas.
Para o governo israelense de
Ehud Olmert, o assentamento
faz parte da "Grande Jerusalém" e deveria ser acrescentado
ao que os israelenses chamam
de sua "capital unificada e indivisível". Para palestinos, Har
Homa fica no território conquistado por Israel na Guerra
dos Seis Dias (1967) e deve fazer parte de Jerusalém Oriental, onde os palestinos querem
ter sua capital.
"Selvagens"
Olmert comprometeu-se a
proibir a construção de novos
assentamentos e a desmantelar
aqueles ditos "selvagens", mas
recusou-se a impedir a ampliação dos assentamentos existentes. A questão é saber se Har
Homa vai ser vista como apêndice de Jerusalém, como afirma Mark Regev, porta-voz do
governo. "Israel estabelece
uma distinção clara entre Cisjordânia e Jerusalém, que fica
sob soberania israelense", diz.
Na perspectiva das negociações sobre o futuro de Jerusalém Oriental e sobre o traçado
das fronteiras na Palestina, Israel pretende conservar o que
já conquistou em campo. Cerca
de 180 mil colonos vivem em
Jerusalém Oriental e 267,5 mil
outros na Cisjordânia, dos
quais dois terços, aproximadamente, a oeste da "barreira de
segurança", que, quando estiver concluída, vai se estender
por 760 km. Israel quer conservar o território conquistado
com a construção dessa barreira (cerca de 10% da superfície
da Cisjordânia) e a margem ocidental do rio Jordão.
Por esse motivo, o ministro
da Defesa, Ehud Barak, propôs
no domingo, 2 de dezembro,
que seja ratificada uma lei que
prevê o pagamento de compensações aos colonos que vivem a
leste da "barreira de segurança" e que se propuserem a deixar suas casas voluntariamente. Entre 70 mil e 80 mil colonos estão nessa situação e deverão ser retirados no caso de
ser criado o Estado palestino. O
projeto provocou uma onda de
protestos entre a direita e os
partidários da "Grande Israel".
Estes últimos também são
contrários às propostas de
Ehud Olmert, que aventou a
possibilidade de serem destruídos 21 dos 105 assentamentos
"selvagens", cuja existência foi
constatada pela organização
Paz Agora.
Num relatório recente, esse
movimento, que se opõe à
construção de assentamentos
na Cisjordânia, revelou que nos
últimos dez anos apenas 107
das 3.449 ordens de demolição
emitidas foram de fato executadas. As numerosas promessas
feitas de desmantelamento dos
"selvagens" nunca chegaram a
ser cumpridas.
Tradução de CLARA ALLAIN
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