São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Israel retoma construção em assentamento polêmico

Para palestinos, a área sob disputa deve fazer parte de futura capital; já israelenses dizem que colônia é parte da "Grande Jerusalém"

MICHEL BÔLE-RICHARD
DO "MONDE"

Apenas uma semana após a cúpula de Annapolis (Maryland), a administração israelense anunciou ter aberto uma licitação para a construção de 307 novas unidades residenciais no assentamento de Har Homa. Esse assentamento, situado nas proximidades de Belém, já tinha provocado controvérsia aguda quando foi criado, no final dos anos 1990. Está previsto para 12 de dezembro o início das conversações visando a criação de um Estado palestino, e a ampliação de Har Homa é vista pelos palestinos como provocação. "Se Israel não anular essa decisão, os resultados de Annapolis terão sido sabotados antes de começarem a ser aplicados", disse Saeb Erekat, assessor do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
Para o governo israelense de Ehud Olmert, o assentamento faz parte da "Grande Jerusalém" e deveria ser acrescentado ao que os israelenses chamam de sua "capital unificada e indivisível". Para palestinos, Har Homa fica no território conquistado por Israel na Guerra dos Seis Dias (1967) e deve fazer parte de Jerusalém Oriental, onde os palestinos querem ter sua capital.

"Selvagens" Olmert comprometeu-se a proibir a construção de novos assentamentos e a desmantelar aqueles ditos "selvagens", mas recusou-se a impedir a ampliação dos assentamentos existentes. A questão é saber se Har Homa vai ser vista como apêndice de Jerusalém, como afirma Mark Regev, porta-voz do governo. "Israel estabelece uma distinção clara entre Cisjordânia e Jerusalém, que fica sob soberania israelense", diz.
Na perspectiva das negociações sobre o futuro de Jerusalém Oriental e sobre o traçado das fronteiras na Palestina, Israel pretende conservar o que já conquistou em campo. Cerca de 180 mil colonos vivem em Jerusalém Oriental e 267,5 mil outros na Cisjordânia, dos quais dois terços, aproximadamente, a oeste da "barreira de segurança", que, quando estiver concluída, vai se estender por 760 km. Israel quer conservar o território conquistado com a construção dessa barreira (cerca de 10% da superfície da Cisjordânia) e a margem ocidental do rio Jordão.
Por esse motivo, o ministro da Defesa, Ehud Barak, propôs no domingo, 2 de dezembro, que seja ratificada uma lei que prevê o pagamento de compensações aos colonos que vivem a leste da "barreira de segurança" e que se propuserem a deixar suas casas voluntariamente. Entre 70 mil e 80 mil colonos estão nessa situação e deverão ser retirados no caso de ser criado o Estado palestino. O projeto provocou uma onda de protestos entre a direita e os partidários da "Grande Israel".
Estes últimos também são contrários às propostas de Ehud Olmert, que aventou a possibilidade de serem destruídos 21 dos 105 assentamentos "selvagens", cuja existência foi constatada pela organização Paz Agora.
Num relatório recente, esse movimento, que se opõe à construção de assentamentos na Cisjordânia, revelou que nos últimos dez anos apenas 107 das 3.449 ordens de demolição emitidas foram de fato executadas. As numerosas promessas feitas de desmantelamento dos "selvagens" nunca chegaram a ser cumpridas.


Tradução de CLARA ALLAIN


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