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Economia indiana já sente desaceleração e espera pacote
Crescimento anual do país deve passar de 9% para 4% em 2009; salários caem
Apesar dos efeitos da crise, Índia ainda cria empregos; para líder empresarial, diversificação e baixo custo ajudam país a sobressair
DO ENVIADO A MUMBAI
Um pacote de estímulo à economia indiana com 750 bilhões
de rúpias (R$ 36 bilhões), além
do uso de US$ 10 bilhões das reservas internacionais, deve ser
anunciado nesta semana.
Depois de crescer cerca de
9% ao ano nos últimos três
anos, o PIB indiano deve aumentar 6,5% neste ano, e entre
4% e 5% no ano que vem.
O pacote pretende bancar
grandes projetos de infra-estrutura, estender linhas de crédito a bancos para empréstimos a pequenas e médias empresas e resgatar empresas do
setor têxtil e imobiliário.
Já o setor de tecnologia e serviços, que inclui os milhares de
call centers indianos, já sente a
recessão dos países desenvolvidos: criou 200 mil novos empregos este ano, 50 mil menos
que o previsto, segundo a Associação Indiana de Software e
Indústrias de Serviço.
"A falta de crédito é o maior
desafio, pois apesar de haver liquidez, nossos bancos têm
aversão a risco e só emprestam
às grandes empresas", disse à
Folha o deputado Rajeev
Chandrashekhar, presidente
da poderosa Federação das Câmaras da Indústria e Comércio
da Índia (FICCI), versão local
da Fiesp. Para ele, o governo
precisa ser menos conservador,
investir em infra-estrutura e
incentivar o crédito.
Mas, seguindo opinião corrente no país, Chandrashekhar
é otimista quanto ao desempenho da economia indiana: "Crises passadas beneficiaram a Índia, pois forçam empresas ocidentais a cortar custos e transferir parte de suas unidades para a Índia. Somos muito competitivos".
O empresário diz que não espera demissões em massa nem
quebradeira de empresas, como na China. "A economia indiana é bem mais diversificada
que a da China, não somos tão
dependentes das exportações,
do humor do consumidor nos
EUA ou na Europa", afirma.
Até meados dos anos 90, a Índia era uma das economias
mais fechadas do mundo. Com
alíquotas altas para importação, criou uma indústria altamente subsidiada. Nos últimos
anos, virou exportadora de serviços e recebeu investimentos
pesados. No último ano, foram
US$ 32 bilhões em investimentos externos diretos.
Chandrashekhar diz que o
desafio real é manter o avanço
do consumo doméstico, "o motor do crescimento da Índia nos
últimos dez anos, graças à expansão do crédito". Ele, que
possui um conglomerado de
empresas nas áreas de telecomunicação e tecnologia em
Bangalore, diz que o governo "é
muito devagar, cauteloso".
Após os atentados em Mumbai, o premiê Manmohan Singh
decidiu acumular o Ministério
da Economia. Ele transferiu o
então ministro para o problemático Ministério do Interior,
responsável pela segurança do
país, em crise após os ataques.
Singh foi ministro da Economia no início dos anos 90,
quando abriu o país depois de
décadas de substituição de importações e mercado fechado.
Ele quer comandar pessoalmente a reação aos efeitos da
crise global na Índia -haverá
eleições em maio.
60 mil desempregados
O setor de tecnologia, um dos
que mais crescem no país, pode
deixar mais de 60 mil pessoas
desempregadas em 2009.
As grandes empresas de tecnologia, como Google, Dell, Microsoft, HP e IBM, ainda não
anunciaram demissões, mas a
renovação de contratos com
funcionários terceirizados caiu
10% neste ano. A Accenture,
que tem 40 mil funcionários na
Índia, já começou a dispensar
empregados terceirizados.
Segundo a consultoria Head
Hunters India, as 25 maiores
empresas da indústria tecnológica do país têm pelo menos 60
mil funcionários terceirizados,
cerca de 10% do quadro total.
As renovações de contratos
no final deste ano têm oferecido salários 15% menores em
média.
(RAUL JUSTE LORES)
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