São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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Economia indiana já sente desaceleração e espera pacote

Crescimento anual do país deve passar de 9% para 4% em 2009; salários caem

Apesar dos efeitos da crise, Índia ainda cria empregos; para líder empresarial, diversificação e baixo custo ajudam país a sobressair


DO ENVIADO A MUMBAI

Um pacote de estímulo à economia indiana com 750 bilhões de rúpias (R$ 36 bilhões), além do uso de US$ 10 bilhões das reservas internacionais, deve ser anunciado nesta semana.
Depois de crescer cerca de 9% ao ano nos últimos três anos, o PIB indiano deve aumentar 6,5% neste ano, e entre 4% e 5% no ano que vem.
O pacote pretende bancar grandes projetos de infra-estrutura, estender linhas de crédito a bancos para empréstimos a pequenas e médias empresas e resgatar empresas do setor têxtil e imobiliário.
Já o setor de tecnologia e serviços, que inclui os milhares de call centers indianos, já sente a recessão dos países desenvolvidos: criou 200 mil novos empregos este ano, 50 mil menos que o previsto, segundo a Associação Indiana de Software e Indústrias de Serviço.
"A falta de crédito é o maior desafio, pois apesar de haver liquidez, nossos bancos têm aversão a risco e só emprestam às grandes empresas", disse à Folha o deputado Rajeev Chandrashekhar, presidente da poderosa Federação das Câmaras da Indústria e Comércio da Índia (FICCI), versão local da Fiesp. Para ele, o governo precisa ser menos conservador, investir em infra-estrutura e incentivar o crédito.
Mas, seguindo opinião corrente no país, Chandrashekhar é otimista quanto ao desempenho da economia indiana: "Crises passadas beneficiaram a Índia, pois forçam empresas ocidentais a cortar custos e transferir parte de suas unidades para a Índia. Somos muito competitivos".
O empresário diz que não espera demissões em massa nem quebradeira de empresas, como na China. "A economia indiana é bem mais diversificada que a da China, não somos tão dependentes das exportações, do humor do consumidor nos EUA ou na Europa", afirma.
Até meados dos anos 90, a Índia era uma das economias mais fechadas do mundo. Com alíquotas altas para importação, criou uma indústria altamente subsidiada. Nos últimos anos, virou exportadora de serviços e recebeu investimentos pesados. No último ano, foram US$ 32 bilhões em investimentos externos diretos.
Chandrashekhar diz que o desafio real é manter o avanço do consumo doméstico, "o motor do crescimento da Índia nos últimos dez anos, graças à expansão do crédito". Ele, que possui um conglomerado de empresas nas áreas de telecomunicação e tecnologia em Bangalore, diz que o governo "é muito devagar, cauteloso".
Após os atentados em Mumbai, o premiê Manmohan Singh decidiu acumular o Ministério da Economia. Ele transferiu o então ministro para o problemático Ministério do Interior, responsável pela segurança do país, em crise após os ataques.
Singh foi ministro da Economia no início dos anos 90, quando abriu o país depois de décadas de substituição de importações e mercado fechado. Ele quer comandar pessoalmente a reação aos efeitos da crise global na Índia -haverá eleições em maio.

60 mil desempregados
O setor de tecnologia, um dos que mais crescem no país, pode deixar mais de 60 mil pessoas desempregadas em 2009.
As grandes empresas de tecnologia, como Google, Dell, Microsoft, HP e IBM, ainda não anunciaram demissões, mas a renovação de contratos com funcionários terceirizados caiu 10% neste ano. A Accenture, que tem 40 mil funcionários na Índia, já começou a dispensar empregados terceirizados.
Segundo a consultoria Head Hunters India, as 25 maiores empresas da indústria tecnológica do país têm pelo menos 60 mil funcionários terceirizados, cerca de 10% do quadro total.
As renovações de contratos no final deste ano têm oferecido salários 15% menores em média. (RAUL JUSTE LORES)


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