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foco
Divisão de apoios em bastião evista reflete
país em transformação
DA ENVIADA A EL ALTO E LA PAZ
El Alto é uma metrópole
majoritariamente indígena, a
4.100 metros de altitude, ao
lado (e acima) de La Paz. É um
enorme tabuleiro coalhado de
casas sem pintura externa, colorido aqui e ali pelas roupas
das mulheres indígenas e por
propagandas de celular.
É símbolo da fortaleza política dos movimentos sociais
bolivianos e do aimará Evo
Morales, que sempre abocanha mais de 80% dos votos da
quinta maior cidade do país.
Mas até lá se pode captar os
desafios e transformações da
complexa sociedade boliviana, que assiste ao fortalecimento de Morales no poder.
Ontem, a altenha Cecilia
Robles de Portugal, 25, saiu de
casa com a avó para votar. De
roupa esportiva, ela ajudava
diligentemente Hortência Rivas de Portugal, 90, vestida
com roupa tradicional de cholita, a marcar o nome do presidente na cédula. "Ela fez questão de vir. Ajudei, mas vou votar na oposição", afirma.
Hortência diz que os "karas" (homens brancos) não
respeitavam as mulheres de
"pollera" (saia rodada) como
ela. Morales, sim.
A neta, formada em pedagogia, está preocupada, não com
a valorização da identidade indígena sob Morales -"Nunca
me vesti de cholita, mas tenho
muito orgulho da minha
avó"-, mas com o poder que o
presidente pode ter no novo
mandato. "Vou votar para fortalecer a oposição, para que
Morales não faça o que quiser.
Não quero uma nova Venezuela", diz ela.
Perto dali, dois rapazes universitários, que se definem como aimarás assim como o presidente, diziam que com o governo atual "não havia mais
preconceito". Mas é só descer
até La Paz para ouvir algo
completamente distinto.
Num colégio no bairro de
classe média de Sopocachi, a
jornalista aposentada Jaqueline -ela não quis dizer o sobrenome- disse que não voltaria a votar em Morales, como em 2005.
"Tinha esperança na conciliação, mas ele incentiva o ressentimento. Todos os países
têm sua história, mas é preciso esquecer a parte ruim."
Jaqueline se queixa porque
diz que, agora, os indígenas
tratam mal os brancos. "Não
sorriem. Quando estão reunidos, nos ofendem. É verdade
que eram maltratados por
pessoas do meu nível social,
mas essa não é a solução."
Foi no colégio que o vice-presidente Álvaro García Linera votou ontem. Foi recebido com aplauso, mas também
com vaias, em um retrato da
divisão da classe média urbana em torno do evismo.
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