São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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Divisão de apoios em bastião evista reflete país em transformação

DA ENVIADA A EL ALTO E LA PAZ

El Alto é uma metrópole majoritariamente indígena, a 4.100 metros de altitude, ao lado (e acima) de La Paz. É um enorme tabuleiro coalhado de casas sem pintura externa, colorido aqui e ali pelas roupas das mulheres indígenas e por propagandas de celular.
É símbolo da fortaleza política dos movimentos sociais bolivianos e do aimará Evo Morales, que sempre abocanha mais de 80% dos votos da quinta maior cidade do país.
Mas até lá se pode captar os desafios e transformações da complexa sociedade boliviana, que assiste ao fortalecimento de Morales no poder.
Ontem, a altenha Cecilia Robles de Portugal, 25, saiu de casa com a avó para votar. De roupa esportiva, ela ajudava diligentemente Hortência Rivas de Portugal, 90, vestida com roupa tradicional de cholita, a marcar o nome do presidente na cédula. "Ela fez questão de vir. Ajudei, mas vou votar na oposição", afirma.
Hortência diz que os "karas" (homens brancos) não respeitavam as mulheres de "pollera" (saia rodada) como ela. Morales, sim.
A neta, formada em pedagogia, está preocupada, não com a valorização da identidade indígena sob Morales -"Nunca me vesti de cholita, mas tenho muito orgulho da minha avó"-, mas com o poder que o presidente pode ter no novo mandato. "Vou votar para fortalecer a oposição, para que Morales não faça o que quiser. Não quero uma nova Venezuela", diz ela.
Perto dali, dois rapazes universitários, que se definem como aimarás assim como o presidente, diziam que com o governo atual "não havia mais preconceito". Mas é só descer até La Paz para ouvir algo completamente distinto.
Num colégio no bairro de classe média de Sopocachi, a jornalista aposentada Jaqueline -ela não quis dizer o sobrenome- disse que não voltaria a votar em Morales, como em 2005.
"Tinha esperança na conciliação, mas ele incentiva o ressentimento. Todos os países têm sua história, mas é preciso esquecer a parte ruim."
Jaqueline se queixa porque diz que, agora, os indígenas tratam mal os brancos. "Não sorriem. Quando estão reunidos, nos ofendem. É verdade que eram maltratados por pessoas do meu nível social, mas essa não é a solução."
Foi no colégio que o vice-presidente Álvaro García Linera votou ontem. Foi recebido com aplauso, mas também com vaias, em um retrato da divisão da classe média urbana em torno do evismo.


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