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IRAQUE NA MIRA
Presidente francês sinaliza apoio a ação militar; EUA enviam estrategistas de guerra a base no Qatar
Chirac admite guerra; Londres envia tropas
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
EUA, Reino Unido e França deram sinais ontem de que uma
ofensiva militar contra o Iraque
está ganhando força.
O presidente francês, Jacques
Chirac, alertou, em discurso a militares, que as Forças Armadas do
país devem estar prontas para
"todas as eventualidades", entre
elas "a maneira como o Iraque
aplica a resolução 1441 do Conselho de Segurança da ONU", que
obriga o país a se desarmar ou enfrentar "graves consequências".
Foi o sinal mais claro até aqui de
que a reticente França admite
participar de uma ofensiva contra
Bagdá ao lado dos EUA.
Já o governo britânico anunciou
a mobilização de 1.500 reservistas
e confirmou a partida de uma esquadra de navios com 3.000 marinheiros ao golfo Pérsico.
O comando militar dos EUA
anunciou o envio de boa parte de
seus estrategistas de guerra a uma
base no Qatar de onde deve ser
coordenada uma possível ação
militar para depor o ditador Saddam Hussein.
O presidente americano, George W. Bush, manteve as suas
ameaças contra Saddam. Voltou a
exigir que ele se desarme. "Se ele
escolher outro caminho (...) os
EUA vão liderar uma coalizão daqueles dispostos a desarmar o regime iraquiano e libertar o seu
povo", declarou. Saddam respondeu dizendo que seu país não será
um alvo tão fácil de ser derrotado
como foi o Taleban no Afeganistão. E voltou a chamar Bush de
"criminoso de guerra".
O discurso de Chirac indica
uma forte mudança de posição da
França. O país, que defendia sobretudo a solução pacífica, parece
ter se curvado à possibilidade de
uso da força, desde que decidida
pelo Conselho de Segurança da
ONU. "A eventual decisão de utilizar a força deve ser explícita e tomada pelo Conselho de Segurança, tendo como base um relatório
dos inspetores", disse Chirac.
Ele insistiu em que a França
guardaria "sua plena liberdade de
apreciação" em relação ao relatório dos inspetores que investigam
se o Iraque possui ou desenvolve
armas de destruição em massa. O
relatório será apresentado ao
Conselho no dia 27.
As declarações de Chirac imediatamente provocaram uma forte reação na França, onde a questão da guerra divide o país. O ex-ministro da Defesa Jean-Pierre
Chevènement chamou de "ambígua" a posição do presidente e
disse que "a França teria tudo a
perder " no caso de uma guerra.
O líder do Partido Socialista
Jean-Marc Ayrault acusou Chirac
de "se alinhar" a Bush. "O presidente se resigna a essa guerra absurda e prepara a opinião nacional e internacional para um engajamento militar da França."
Blair
O premiê Tony Blair afirmou
que "a América não deve ficar só"
no combate à proliferação de armas de destruição em massa e ao
terrorismo: "Se o mundo não
agir... colheremos as consequências de nossa fraqueza", disse.
Já seu secretário da Defesa,
Geoff Hoon, disse no Parlamento:
"Eu dei hoje ordem para uma
convocação de reservistas no caso
de possíveis operações contra o
Iraque". Segundo ele, a mobilização britânica "não significa que a
utilização da força seja inevitável". Os deslocamentos militares
rumo ao golfo Pérsico teriam por
objetivo deixar em aberto um "leque de opções militares".
A nova posição da França muda
o arranjo de forças européias em
relação ao possível uso da força.
Até agora, o país, com direito a veto no Conselho de Segurança da
ONU, era um dos principais opositores a uma ação militar.
O chanceler (premiê) alemão,
Gerhard Schröder, tem repetido
que seu país não participará da
guerra, embora tenha concordado em permitir que os caças dos
EUA sobrevoem a Alemanha e
utilizem suas bases no país.
Com agências internacionais
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