São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Presidente francês sinaliza apoio a ação militar; EUA enviam estrategistas de guerra a base no Qatar

Chirac admite guerra; Londres envia tropas

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

EUA, Reino Unido e França deram sinais ontem de que uma ofensiva militar contra o Iraque está ganhando força.
O presidente francês, Jacques Chirac, alertou, em discurso a militares, que as Forças Armadas do país devem estar prontas para "todas as eventualidades", entre elas "a maneira como o Iraque aplica a resolução 1441 do Conselho de Segurança da ONU", que obriga o país a se desarmar ou enfrentar "graves consequências".
Foi o sinal mais claro até aqui de que a reticente França admite participar de uma ofensiva contra Bagdá ao lado dos EUA.
Já o governo britânico anunciou a mobilização de 1.500 reservistas e confirmou a partida de uma esquadra de navios com 3.000 marinheiros ao golfo Pérsico.
O comando militar dos EUA anunciou o envio de boa parte de seus estrategistas de guerra a uma base no Qatar de onde deve ser coordenada uma possível ação militar para depor o ditador Saddam Hussein.
O presidente americano, George W. Bush, manteve as suas ameaças contra Saddam. Voltou a exigir que ele se desarme. "Se ele escolher outro caminho (...) os EUA vão liderar uma coalizão daqueles dispostos a desarmar o regime iraquiano e libertar o seu povo", declarou. Saddam respondeu dizendo que seu país não será um alvo tão fácil de ser derrotado como foi o Taleban no Afeganistão. E voltou a chamar Bush de "criminoso de guerra".
O discurso de Chirac indica uma forte mudança de posição da França. O país, que defendia sobretudo a solução pacífica, parece ter se curvado à possibilidade de uso da força, desde que decidida pelo Conselho de Segurança da ONU. "A eventual decisão de utilizar a força deve ser explícita e tomada pelo Conselho de Segurança, tendo como base um relatório dos inspetores", disse Chirac.
Ele insistiu em que a França guardaria "sua plena liberdade de apreciação" em relação ao relatório dos inspetores que investigam se o Iraque possui ou desenvolve armas de destruição em massa. O relatório será apresentado ao Conselho no dia 27.
As declarações de Chirac imediatamente provocaram uma forte reação na França, onde a questão da guerra divide o país. O ex-ministro da Defesa Jean-Pierre Chevènement chamou de "ambígua" a posição do presidente e disse que "a França teria tudo a perder " no caso de uma guerra.
O líder do Partido Socialista Jean-Marc Ayrault acusou Chirac de "se alinhar" a Bush. "O presidente se resigna a essa guerra absurda e prepara a opinião nacional e internacional para um engajamento militar da França."

Blair
O premiê Tony Blair afirmou que "a América não deve ficar só" no combate à proliferação de armas de destruição em massa e ao terrorismo: "Se o mundo não agir... colheremos as consequências de nossa fraqueza", disse.
Já seu secretário da Defesa, Geoff Hoon, disse no Parlamento: "Eu dei hoje ordem para uma convocação de reservistas no caso de possíveis operações contra o Iraque". Segundo ele, a mobilização britânica "não significa que a utilização da força seja inevitável". Os deslocamentos militares rumo ao golfo Pérsico teriam por objetivo deixar em aberto um "leque de opções militares".
A nova posição da França muda o arranjo de forças européias em relação ao possível uso da força. Até agora, o país, com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, era um dos principais opositores a uma ação militar.
O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, tem repetido que seu país não participará da guerra, embora tenha concordado em permitir que os caças dos EUA sobrevoem a Alemanha e utilizem suas bases no país.


Com agências internacionais


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