São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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Para analista, Chirac acha guerra inevitável

DE PARIS

Segundo o cientista político Bruno Tertrais, as declarações de Jacques Chirac indicam que o presidente concluiu pela inevitabilidade de uma guerra. "A França nunca foi completamente oposta a uma guerra. O que ela afirma é que a guerra deve ser a última solução. Penso que o presidente esteja dizendo agora que, infelizmente, talvez tenhamos chegado a essa última solução."
Tertrais acredita que Chirac talvez tenha "informações que lhe dizem que os americanos irão [ao ataque] mais rápido do que o previsto". Para ele, a guerra pode estourar logo após o dia 27 de janeiro, quando os inspetores da ONU apresentam seu relatório sobre o Iraque. A França só confirmaria sua participação depois de debate e votação na ONU.
Tertrais é mestre de pesquisas da Fundação pela Pesquisa Estratégica, órgão de observação militar e geopolítica que presta apoio ao governo francês. Leia trechos de sua entrevista à Folha. (ALN)
 

Folha - Por que a França, que já foi tão vigorosa contra a guerra ao Iraque, mudou de idéia?
Bruno Tertrais -
Desde o início, a França sempre disse que a solução para o Iraque são as inspeções e o quadro jurídico da ONU. As inspeções estão em curso, vão indo bem, mas o Iraque não deu provas de uma completa boa vontade, como se vê no relatório que divulgou no mês passado. A França, porém, nunca foi completamente oposta a uma guerra. O que ela afirma é que a guerra deve ser a última solução. Penso que o presidente esteja dizendo agora que, infelizmente, talvez tenhamos chegado a essa última solução. Creio que ele tenha chegado à conclusão de que é muito improvável que a guerra não aconteça e quer preparar a opinião pública francesa para ela e para a possibilidade do engajamento francês.

Folha - Se houver a guerra, quando ela deverá começar?
Tertrais -
A probabilidade mais forte é que aconteça a partir de fevereiro, depois da apresentação do relatório dos inspetores, em 27 de janeiro. Se o presidente [Chirac] agora se exprime assim, é talvez porque ele tenha informações que lhe dizem que os americanos irão mais rápido que o previsto.

Folha - O Partido Socialista diz que Chirac está se alinhando ao governo Bush. O sr. concorda?
Tertrais -
Não. O presidente continua pensando que a guerra contra o Iraque é a pior das soluções e que, se deve haver uma guerra, esta precisa estar inscrita num quadro jurídico internacional claro. Os EUA estão prontos a fazer a guerra ao Iraque mesmo na ausência desse quadro jurídico.

Folha - Mas o engajamento da França na guerra não significaria um alinhamento com os EUA?
Tertrais -
Não, não significa um alinhamento político, mas significa a possibilidade de que haja uma ação comum da França e dos Estados Unidos em relação ao Iraque. A diferença entre a posição americana e a francesa é que a França não participará diretamente dessa operação se não houver um quadro jurídico claro.


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