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Para analista, Chirac
acha guerra inevitável
DE PARIS
Segundo o cientista político
Bruno Tertrais, as declarações de
Jacques Chirac indicam que o
presidente concluiu pela inevitabilidade de uma guerra. "A França nunca foi completamente
oposta a uma guerra. O que ela
afirma é que a guerra deve ser a
última solução. Penso que o presidente esteja dizendo agora que,
infelizmente, talvez tenhamos
chegado a essa última solução."
Tertrais acredita que Chirac talvez tenha "informações que lhe
dizem que os americanos irão [ao
ataque] mais rápido do que o previsto". Para ele, a guerra pode estourar logo após o dia 27 de janeiro, quando os inspetores da ONU
apresentam seu relatório sobre o
Iraque. A França só confirmaria
sua participação depois de debate
e votação na ONU.
Tertrais é mestre de pesquisas
da Fundação pela Pesquisa Estratégica, órgão de observação militar e geopolítica que presta apoio
ao governo francês. Leia trechos
de sua entrevista à Folha.
(ALN)
Folha - Por que a França, que já
foi tão vigorosa contra a guerra ao
Iraque, mudou de idéia?
Bruno Tertrais - Desde o início, a
França sempre disse que a solução para o Iraque são as inspeções
e o quadro jurídico da ONU. As
inspeções estão em curso, vão indo bem, mas o Iraque não deu
provas de uma completa boa vontade, como se vê no relatório que
divulgou no mês passado. A França, porém, nunca foi completamente oposta a uma guerra. O
que ela afirma é que a guerra deve
ser a última solução. Penso que o
presidente esteja dizendo agora
que, infelizmente, talvez tenhamos chegado a essa última solução. Creio que ele tenha chegado à
conclusão de que é muito improvável que a guerra não aconteça e
quer preparar a opinião pública
francesa para ela e para a possibilidade do engajamento francês.
Folha - Se houver a guerra, quando ela deverá começar?
Tertrais - A probabilidade mais
forte é que aconteça a partir de fevereiro, depois da apresentação
do relatório dos inspetores, em 27 de janeiro. Se o presidente [Chirac] agora se exprime assim, é talvez porque ele tenha informações
que lhe dizem que os americanos
irão mais rápido que o previsto.
Folha - O Partido Socialista diz
que Chirac está se alinhando ao governo Bush. O sr. concorda?
Tertrais - Não. O presidente continua pensando que a guerra contra o Iraque é a pior das soluções e
que, se deve haver uma guerra, esta precisa estar inscrita num quadro jurídico internacional claro.
Os EUA estão prontos a fazer a
guerra ao Iraque mesmo na ausência desse quadro jurídico.
Folha - Mas o engajamento da
França na guerra não significaria
um alinhamento com os EUA?
Tertrais - Não, não significa um
alinhamento político, mas significa a possibilidade de que haja
uma ação comum da França e dos
Estados Unidos em relação ao Iraque. A diferença entre a posição
americana e a francesa é que a
França não participará diretamente dessa operação se não houver um quadro jurídico claro.
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