São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004

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Washington considera Kirchner mais radical do que Lula, afirma analista

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Para Washington, as políticas do governo do presidente argentino, Néstor Kirchner, têm um teor muito mais radical e são mais preocupantes do que as do colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, cujo discurso de esquerda não é colocado em prática.
A análise é de Eduardo Gamarra, diretor do Centro de América Latina e Caribe da Universidade Internacional da Flórida.
"Os EUA não estão realmente felizes com Kirchner. Por algumas razões: suas reiteradas declarações contra os EUA -ou pelo menos entendidas assim-, seus encontros com [o líder socialista boliviano] Evo Morales e sua intenção de assumir algum tipo de liderança que pode ser entendida como pró-Castro", disse o cientista político boliviano.
Para Gamarra, o governo americano tem uma percepção distinta de Lula: "Apesar de toda a retórica, Lula tem se mantido na linha. Ele disse muitas coisas, mas realmente não fez nada".
"As declarações de Kirchner, por outro lado, estão em todos os lugares. De certa forma, ele faz isso para assegurar apoio político interno. Com uma base econômica bastante precária, não sei até onde ele pode ir. No final, Lula será sua cobertura", prevê Gamarra.
Sobre as relações entre Brasil e EUA, disse: "Há uma interessante e cautelosa dose de respeito, o que acho extremamente positiva".
O cientista político, no entanto, não crê que os EUA tenham iniciado uma grande ofensiva contra governos de esquerda latino-americanos e disse que as críticas contra Cuba e Venezuela têm se repetido ao longo do tempo.

Ano eleitoral
Para o cientista político americano Anthony Pereira, da Universidade Tulane (EUA), especialista em América Latina com ênfase no Brasil, essas declarações já fazem parte da estratégia de reeleição do presidente George W. Bush.
"Bush está totalmente envolvido na campanha, levantando quantias inéditas de dinheiro e se relacionando a atos voltados à conquista de votos nesta eleição. Esse tipo de posicionamento está de acordo com o influente voto cubano-americano na Flórida."
Gamarra discorda. "É bastante óbvio que o voto dos cubano-americanos é de Bush. Não há risco de ele perder esses votos."


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