São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004

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IMIGRAÇÃO

Presidente elogia os imigrantes em anúncio de medidas, vistas com desconfiança pela oposição democrata

Bush promete visto temporário a imigrantes ilegais

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Com um discurso elogioso endereçado a cerca de 35 milhões de imigrantes que vivem nos EUA, o presidente norte-americano, George W. Bush, anunciou ontem uma série de medidas para facilitar a integração de pessoas ilegais vivendo hoje no país.
O plano geral anunciado ontem contempla algumas propostas do opositor Partido Democrata e foi considerado pelos adversários do presidente como uma tentativa de ampliar sua popularidade entre os imigrantes neste ano eleitoral.
"O trabalho dos imigrantes foi uma das principais razões que levaram os EUA à posição de primeira potência do mundo", disse Bush, na Casa Branca, diante de uma centena de representantes de grupos de defesa dos imigrantes.
Os imigrantes representam hoje cerca de 12% da população dos EUA (290 milhões) e 14% da força de trabalho. Em 2000, Bush obteve apenas 35% dos votos da comunidade hispânica, tradicionalmente mais democrata, decisiva hoje em Estados fundamentais como Califórnia e Flórida.
"Gostaria de acreditar que o envolvimento do presidente nesse tema fundamental seja genuíno, não apenas uma conversão em ano eleitoral", afirmou o senador democrata Ted Kennedy.
O tom crítico também foi adotado por alguns dos nove pré-candidatos democratas à eleição.
Os democratas afirmam que há meses Bush poderia ter determinado a aprovação, no Congresso, de algumas medidas que já contam com o apoio republicano.
Algumas entidades pró-imigrantes temem que Bush repita este ano o que fez na campanha de 2000. Na época, prometeu várias políticas de cooperação na área com o governo do México, de onde vem a maior parte dos imigrantes. Os planos nunca saíram do papel, e os atentados do 11 de Setembro foram usados como principal justificativa.
O presidente mexicano, Vicente Fox, elogiou o plano de Bush, com quem conversou ontem.
A principal medida anunciada ontem, que ainda depende de aprovação do Congresso, inclui a emissão de vistos temporários de três anos (prorrogáveis por mais três) a ilegais ou novos imigrantes que chegarem ao país com um trabalho já acertado. Podem inclusive trazer a família, se provarem que podem sustentá-la.
O empregador que se dispuser a contratar um ilegal terá de provar que não há americanos dispostos a ocupar a vaga, se comprometer a pagar um piso baseado no salário mínimo e recolher contribuições à Previdência. O programa visa atender os estimados (oficialmente) 8 milhões de ilegais vivendo nos EUA. Outras estimativas falam em até 14 milhões.
Para John Wahala, do Centro para Estudos da Imigração, "é possível pensar que o ano eleitoral tenha tido forte peso na decisão de anunciar o plano agora".
Wahala afirma que dificilmente o plano poderá ter resultados extensos, por dois motivos: muitos empregadores que contratam ilegais o fazem para pagar salários menores do que o mínimo exigido por lei e a maioria dos ilegais que entra nos EUA não tem a intenção de deixar o país no futuro.
Os imigrantes que puderem se enquadrar como "trabalhadores temporários legais" poderão solicitar vistos de residência permanentes. Mas os que não obtiverem os documentos, terão de deixar os EUA no final do visto.


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