São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

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HISTÓRIA

Agência promete reconhecer vínculos no pós-guerra

CIA cede e aceita abrir arquivos sobre suas relações com nazistas

DOUGLAS JEHL
DO ""NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Pressionada pelo Congresso americano, a CIA (agência de inteligência) acatou formalmente uma nova e ampla interpretação de uma lei de 1998 que exige que sejam abertos arquivos sigilosos relacionados a criminosos de guerra nazistas.
Ao aceitar a decisão, a CIA inverteu a posição legal segundo a qual, anteriormente, vinha argumentando que a lei exigia a abertura apenas dos arquivos ligados a crimes de guerra, não a criminosos, e que não se aplicava a informações sobre as relações mantidas pela agência com ex-nazistas após a guerra.
A CIA prometeu explicitamente, pela primeira vez, "reconhecer qualquer vínculo" entre a agência e integrantes da SS (a tropa de elite nazista), independentemente da existência ou não de informações vinculando os últimos especificamente a crimes de guerra.
A CIA também concordou que documentos "relativos a atos cometidos por criminosos de guerra nazistas, incluindo membros da SS, em nome da CIA", são relevantes e, sob os termos da lei, estão sujeitos a serem trazidos a público.
Mas ainda não ficou claro se a CIA vai concordar em entregar todos os registros que o grupo de trabalho do governo encarregado de rever os arquivos pede, que podem chegar a centenas de milhares de páginas. A agência possui o poder de reivindicar isenção da lei para alguns materiais, sob a alegação de que contêm informações sensíveis demais para serem levadas a público.
Até agora a agência já levou a público mais de 1,2 milhão de páginas de documentos, embora a grande maioria destes sejam da agência que a precedeu durante a Segunda Guerra Mundial, o OSS (Office of Strategic Services).
Anteontem, um porta-voz da CIA disse que a reação da agência à lei foi ""um processo metódico, conduzido ao longo de anos, de revisão e desclassificação de documentos".
""A CIA já trouxe a público todas as informações constantes de seus arquivos sobre crimes de guerra e também materiais sobre relações entre criminosos de guerra e a inteligência americana", disse o porta-voz. ""Em vista da importância de que seja compreendido esse capítulo da história, a agência se apressou em desclassificar esses registros, em cumprimento de sua obrigação legal de proteger fontes e métodos da inteligência."
A lei de 1990 que criou o grupo de trabalho do governo previu que a CIA deveria ""localizar, identificar, inventariar, recomendar para desclassificação e disponibilizar para o público, na Administração Nacional de Arquivos e Registros, todos os registros classificados como sigilosos referentes a criminosos de guerra nazistas nos Estados Unidos".
Previa-se que o mandato do grupo de trabalho terminaria em março passado, mas, no ano passado, o Congresso o ampliou por um ano para dar tempo à comissão e à CIA resolverem a disputa. Como parte de sua nova interpretação, a CIA disse em sua mensagem que vai pedir ao Congresso que o mandato seja prorrogado mais uma vez.
O senador republicano de Ohio Mike DeWine elogiou a ação da CIA, que descreveu como avanço de importância maior numa disputa que vem sendo travada de maneira reservada há mais de dois anos. Na semana passada, DeWine presidiu uma reunião, que descreveu como ""muito franca", com representantes da CIA para tratar do assunto. Ele tinha ameaçado convocar o diretor da agência, Porter J. Goss, para depor publicamente sobre a questão.


Tradução de Clara Allain

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