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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Chefe de inspetores pede ao Conselho meses para concluir desarmamento, mas ainda vê falhas do Iraque

Blix vê progresso na cooperação iraquiana

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O Conselho de Segurança (CS) da ONU viveu um dia dramático ontem em relação ao Iraque.
O chefe dos inspetores da ONU, o sueco Hans Blix, abriu o dia dizendo que Bagdá melhorou sua cooperação, ressalvando, porém, que o país pode fazer mais para se desarmar.
Já os EUA, o Reino Unido e a Espanha reformularam sua proposta de resolução ao CS para autorizar uma guerra, dando um ultimato até o dia 17 para Bagdá mostrar uma cooperação mais ativa com os inspetores.
Tanto o relatório de Blix quanto a proposta de resolução geraram intenso debate entre os 15 membros do CS.
Blix chamou de "medida substancial" de desarmamento a destruição de mísseis empreendida recentemente por Bagdá.
"Não estamos assistindo à destruição de palitos de dente. Armas letais estão sendo destruídas", afirmou Blix, que pediu mais tempo para o desarmamento iraquiano. "Não pode ser instantâneo. Não vai levar anos nem semanas, mas meses."
Logo após a fala de Blix, o egípcio Mohamed El Baradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, fez um relato ligeiramente favorável ao Iraque.
"Após três meses de inspeções, nós não encontramos até aqui nenhuma indicação plausível de reativação do programa nuclear no Iraque", disse.
Pouco depois, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, que representou o país na sessão de ontem do CS, atacou a entidade comandada por El Baradei, dizendo que, em 1991, a Agência Atômica esteve "a dias" de declarar que o Iraque não desenvolvia um programa nuclear. "Logo depois descobrimos que não era assim", disse Powell.
Diplomata de carreira, Blix esquivou-se de responder à pergunta que o presidente George W. Bush havia formulado no dia anterior: "O Iraque se desarmou total e incondicionalmente?".
Na ONU, o sueco disse que "as respostas podem ser vistas nas descrições factuais que ele fizera". Blix vem dizendo que a decisão de atacar o Iraque é uma decisão política a ser decidida pelos membros do CS. Ele disse que é preciso aumentar o tamanho de sua equipe no Iraque e reforçar o programa de entrevistas com cientistas locais. E enfatizou a importância de que elas sejam conduzidas fora do país, para diminuir a pressão do regime do ditador Saddam Hussein sobre os entrevistados.
Apesar de dizer que ainda há muitos "pontos de interrogação" em relação ao Iraque, Blix rebateu acusações feitas pelos EUA ao país. Por exemplo: "Serviços de inteligência dizem que armas de destruição em massa são transportadas no Iraque por caminhões; especificamente, que existem unidades móveis para a produção de armas biológicas. Muitas inspeções ocorreram. Vimos laboratórios para testes de comidas e contêineres para processamento de sementes. Nenhuma prova de atividades proibidas foi encontrada até agora."
Ou ainda: "Há relatos de que atividades proibidas ocorrem no subsolo. Os inspetores examinaram a estrutura de prédios e usaram radar em vários lugares. Nenhuma fábrica ou estoque de armas químicas e biológicas foi encontrada no subsolo".
Mas Blix também criticou o Iraque, dizendo que o país relutou em cooperar ativamente, como exigia resolução do CS de novembro, e que dados sobre estoques de armas proibidas ainda não foram fornecidos. Segundo ele, a cooperação de Bagdá não foi "imediata", mas, possivelmente, resultado de "pressão externa" -referência aos cerca de 300 mil soldados que EUA e Reino Unido mobilizaram para atacar o país.


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