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IRAQUE NA MIRA
Chefe de inspetores pede ao Conselho meses para concluir desarmamento, mas ainda vê falhas do Iraque
Blix vê progresso na cooperação iraquiana
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O Conselho de Segurança (CS)
da ONU viveu um dia dramático
ontem em relação ao Iraque.
O chefe dos inspetores da ONU,
o sueco Hans Blix, abriu o dia dizendo que Bagdá melhorou sua
cooperação, ressalvando, porém,
que o país pode fazer mais para se
desarmar.
Já os EUA, o Reino Unido e a Espanha reformularam sua proposta de resolução ao CS para autorizar uma guerra, dando um ultimato até o dia 17 para Bagdá mostrar uma cooperação mais ativa
com os inspetores.
Tanto o relatório de Blix quanto
a proposta de resolução geraram
intenso debate entre os 15 membros do CS.
Blix chamou de "medida substancial" de desarmamento a destruição de mísseis empreendida
recentemente por Bagdá.
"Não estamos assistindo à destruição de palitos de dente. Armas
letais estão sendo destruídas",
afirmou Blix, que pediu mais tempo para o desarmamento iraquiano. "Não pode ser instantâneo.
Não vai levar anos nem semanas,
mas meses."
Logo após a fala de Blix, o egípcio Mohamed El Baradei, diretor
da Agência Internacional de
Energia Atômica, fez um relato ligeiramente favorável ao Iraque.
"Após três meses de inspeções,
nós não encontramos até aqui nenhuma indicação plausível de
reativação do programa nuclear
no Iraque", disse.
Pouco depois, o secretário de
Estado dos EUA, Colin Powell,
que representou o país na sessão
de ontem do CS, atacou a entidade comandada por El Baradei, dizendo que, em 1991, a Agência
Atômica esteve "a dias" de declarar que o Iraque não desenvolvia
um programa nuclear. "Logo depois descobrimos que não era assim", disse Powell.
Diplomata de carreira, Blix esquivou-se de responder à pergunta que o presidente George W.
Bush havia formulado no dia anterior: "O Iraque se desarmou total e incondicionalmente?".
Na ONU, o sueco disse que "as
respostas podem ser vistas nas
descrições factuais que ele fizera".
Blix vem dizendo que a decisão de
atacar o Iraque é uma decisão política a ser decidida pelos membros do CS. Ele disse que é preciso
aumentar o tamanho de sua equipe no Iraque e reforçar o programa de entrevistas com cientistas
locais. E enfatizou a importância
de que elas sejam conduzidas fora
do país, para diminuir a pressão
do regime do ditador Saddam
Hussein sobre os entrevistados.
Apesar de dizer que ainda há
muitos "pontos de interrogação"
em relação ao Iraque, Blix rebateu
acusações feitas pelos EUA ao
país. Por exemplo: "Serviços de
inteligência dizem que armas de
destruição em massa são transportadas no Iraque por caminhões; especificamente, que existem unidades móveis para a produção de armas biológicas. Muitas inspeções ocorreram. Vimos
laboratórios para testes de comidas e contêineres para processamento de sementes. Nenhuma
prova de atividades proibidas foi
encontrada até agora."
Ou ainda: "Há relatos de que
atividades proibidas ocorrem no
subsolo. Os inspetores examinaram a estrutura de prédios e usaram radar em vários lugares. Nenhuma fábrica ou estoque de armas químicas e biológicas foi encontrada no subsolo".
Mas Blix também criticou o Iraque, dizendo que o país relutou
em cooperar ativamente, como
exigia resolução do CS de novembro, e que dados sobre estoques
de armas proibidas ainda não foram fornecidos. Segundo ele, a
cooperação de Bagdá não foi
"imediata", mas, possivelmente,
resultado de "pressão externa"
-referência aos cerca de 300 mil
soldados que EUA e Reino Unido mobilizaram para atacar o país.
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