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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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Relatório mantém impasse no CS

DA REDAÇÃO

Os EUA reagiram ontem ao relatório de Hans Blix afirmando que a ONU não deve "fugir" de sua responsabilidade de autorizar o uso da força para desarmar o Iraque. A maioria dos países do Conselho de Segurança (CS), porém, disse que o discurso do chefe dos inspetores de armas reforça seus argumentos de que deve-se dar mais tempo às inspeções.
As divisões no CS foram mantidas após o relato do diplomata sueco, que afirmou que a cooperação de Bagdá para o seu desarmamento aumentou, mas ainda não é completa.
Em campanha por votos para aprovar resolução que abriria o caminho para a guerra, Washington não ganhou novos aliados declarados ontem. Apenas os representantes de Reino Unido, Espanha e Bulgária, que já seguiam antes a linha americana na crise, se pronunciaram pelo aumento da pressão sobre o ditador Saddam Hussein e de uma possível solução armada.
Já os países que compõem um bloco contra a guerra -principalmente França, Rússia e China, membros permanentes com direito a veto no CS- continuaram a defender a continuação do desarmamento iraquiano pela via pacífica (inspeções).
O secretário de Estado americano, Colin Powell, disse no CS que as intenções de Saddam "não mudaram". Para ele, a atuação de Bagdá continua sendo "uma catálogo de não-cooperação [com a ONU]". Com um histórico tão extenso de violações, indagou Powell, "como podemos confiar em garantias?".
"Agora é a hora de o Conselho dizer a Saddam que o relógio não parou em razão de seus estratagemas e maquinações", acrescentou Powell.
Para ele, "o progresso limitado que vimos" no desarmamento de Bagdá só aconteceu em razão da "presença de uma grande força militar" no golfo Pérsico.
Jack Straw, chanceler britânico, e Ana Palácio, chefe da diplomacia espanhola, adotaram discursos semelhantes. O primeiro reafirmou que Bagdá se recusa a cooperar, enquanto a segunda chamou Saddam de "tirano" e disse que a credibilidade da ONU seria abalada se o organismo nada fizer para contê-lo.
Dentre os países que se mostravam indecisos sobre o apoio a uma nova resolução contra o Iraque, Chile e Paquistão apresentaram discursos mais próximos ao da França que ao dos EUA.
Guiné e Camarões permaneceram indefinidos. E o México deu sinais de que poderia acompanhar a política da superpotência vizinha. O presidente mexicano, Vicente Fox, disse que a responsabilidade pela guerra ou pela paz está nas mãos de Saddam, que deve atender às exigências da ONU e se desarmar totalmente.

França
Dentro do bloco que se formou nas últimas semanas contra a guerra, a França foi novamente a principal defensora da continuação das inspeções de armas. Seu chanceler, Dominique de Villepin, declarou: "Segundo as palavras dos próprios inspetores, [o Iraque] representa hoje um perigo menor que o que representava em 1991 [ano da Guerra do Golfo]".
Para ele, o relatório de Blix prova que tem havido um "desarmamento verdadeiro" iraquiano, o que reforça a proposta de seu país de que haja um sistema reforçado e prolongado de inspeções.
Posições semelhantes foram expressas pelos chanceleres de Rússia, China e Alemanha. O russo, Igor Ivanov, afirmou: "Não precisamos de novas resoluções do CS -já temos resoluções suficientes". "Precisamos de apoio ativo aos inspetores para que cumpram suas tarefas", acrescentou.
Tang Jiaxuan, chanceler chinês, destacou a sua preferência por uma resolução pacífica e disse que os países devem ter a "paciência e a sabedoria" como base para sua atuação diplomática.
Já o embaixador do Iraque na ONU, Mohamed Al Duri, que teve o direito de defender o seu país na reunião de ontem do CS, declarou que uma guerra não provará a existência de armas de destruição em massa em Bagdá, já que "não existem essas armas, exceto na imaginação de alguns".
"Os inspetores provaram que não havia tais armas, e o que os EUA e o Reino Unido alegam é falso", disse ele após a apresentação de Blix. "Pedimos a este augusto conselho que assuma suas responsabilidades, em particular para desarticular a agressão contra o Iraque."


Com agências internacionais


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