São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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CATÁSTROFE NO CHILE

Tsunami paralisa economia de cidade portuária chilena

Ondas gigantes após terremoto devastaram porto de Talcahuano, impedindo pesca

Toque de recolher vigente na região torna lento o trabalho de remoção dos escombros para permitir o recomeço de atividades

JOÃO WAINER
SILVANA ARANTES

ENVIADOS ESPECIAIS A TALCAHUANO

"O barulho era como o de um avião", afirma o professor Benjamín Leal. Mas o que vinha na direção da cidade chilena de Talcahuano, na madrugada daquele sábado 27 de fevereiro, era uma onda gigante erguida no mar, na sequência do terremoto de magnitude 8,8 que sacudiu o país.
O maremoto carregou tudo o que estava no porto -contêineres, navios, carros- e jogou a 80 metros de distância, na porta da casa de Leal.
Sete dias depois, o professor, atualmente hospedado por parentes, voltou à entrada de sua casa, para contemplar os trabalhos de remoção dos escombros. Encontrou uma paisagem "desoladora".
"É lamentável ver a destruição. Mas pretendo sonhar que vai se restabelecer rapidamente o fornecimento de água e energia e pensar na possibilidade de voltar", diz.
Vizinho de Leal, o casal de aposentados Maria Fuentes e Luis Hernán Cortes, ambos com 80 anos de idade, preferiu não sonhar. Eles optaram por continuar morando no edifício em que vivem desde 1970. Atualmente, são os únicos ocupantes do prédio de 42 apartamentos. "Estou cozinhando num braseiro", conta Luis, enquanto Maria oferece um refrigerante aos repórteres, "porque está muito calor". A bebida, porém, não é muito refrescante -está quente, já que não há energia para fazer uma geladeira funcionar.
"Considerando todos os males, tivemos sorte. Essa construção aguentou dois terremotos. O de agora e o de 1960 [terremoto de magnitude 9,5, o mais forte já registrado na história]", afirma o aposentado.
Cidade pesqueira, Talcahuano se preparava para iniciar ontem a temporada de redes ao mar. "No sábado passado, já estávamos com quase tudo pronto", dizem os pescadores Hugo Palacios e Juan Manuel Muñoz Torres.
Eles estão entre os poucos moradores de Talcahuano autorizados a ingressar na área dos escombros, ainda considerada de alto risco. Ao permitir a passagem da Folha, o soldado alerta: "Andem com muito cuidado, porque a estrutura está muito frágil. Pode vir uma réplica [do terremoto] e fazer tudo desabar".

Pressa
Os pescadores explicam que têm o direito de entrar porque estão ali "para ajudar a organizar a limpeza e tentar torná-la mais rápida". A pressa é uma questão de sobrevivência. "Com o que ganhamos nos três meses de pescas, nós nos mantemos durante o ano todo. Agora, não sei como vou fazer para alimentar meus filhos", afirma Palacios, pai de dois meninos, de 9 e 3 anos.
O operador de tratores Luis Pacheco avalia que a remoção dos escombros levará pelo menos mais uma semana. Assim como ele, todos os funcionários de empresas privadas contratados para o trabalho estão sujeitos ao toque de recolher vigente em Talcahuano.
Até anteontem, os cidadãos tinham de estar em suas casas às 18h, de onde só podiam sair às 12h do dia seguinte. Ontem, esse horário foi flexibilizado -o toque de recolher agora vige das 21h às 6h. A medida de exceção é controlada pelas Forças Armadas, enviadas para pacificar a região de Bio Bio, que viveu uma onda de saques ao comércio logo após o terremoto seguido de tsunami.
A reconstrução completa do centro não será feita em menos de um ano, na opinião do trabalhador.


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