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CATÁSTROFE NO CHILE
Tsunami paralisa economia de cidade portuária chilena
Ondas gigantes após terremoto devastaram porto de Talcahuano, impedindo pesca
Toque de recolher vigente na região torna lento o trabalho de remoção dos escombros para permitir
o recomeço de atividades
JOÃO WAINER
SILVANA ARANTES
ENVIADOS ESPECIAIS A TALCAHUANO
"O barulho era como o de um
avião", afirma o professor Benjamín Leal. Mas o que vinha na
direção da cidade chilena de
Talcahuano, na madrugada daquele sábado 27 de fevereiro,
era uma onda gigante erguida
no mar, na sequência do terremoto de magnitude 8,8 que sacudiu o país.
O maremoto carregou tudo o
que estava no porto -contêineres, navios, carros- e jogou a
80 metros de distância, na porta da casa de Leal.
Sete dias depois, o professor,
atualmente hospedado por parentes, voltou à entrada de sua
casa, para contemplar os trabalhos de remoção dos escombros. Encontrou uma paisagem
"desoladora".
"É lamentável ver a destruição. Mas pretendo sonhar que
vai se restabelecer rapidamente o fornecimento de água e
energia e pensar na possibilidade de voltar", diz.
Vizinho de Leal, o casal de
aposentados Maria Fuentes e
Luis Hernán Cortes, ambos
com 80 anos de idade, preferiu
não sonhar. Eles optaram por
continuar morando no edifício
em que vivem desde 1970.
Atualmente, são os únicos ocupantes do prédio de 42 apartamentos. "Estou cozinhando
num braseiro", conta Luis, enquanto Maria oferece um refrigerante aos repórteres, "porque está muito calor". A bebida,
porém, não é muito refrescante
-está quente, já que não há
energia para fazer uma geladeira funcionar.
"Considerando todos os males, tivemos sorte. Essa construção aguentou dois terremotos. O de agora e o de 1960 [terremoto de magnitude 9,5, o
mais forte já registrado na história]", afirma o aposentado.
Cidade pesqueira, Talcahuano se preparava para iniciar ontem a temporada de redes ao
mar. "No sábado passado, já estávamos com quase tudo pronto", dizem os pescadores Hugo
Palacios e Juan Manuel Muñoz
Torres.
Eles estão entre os poucos
moradores de Talcahuano autorizados a ingressar na área
dos escombros, ainda considerada de alto risco. Ao permitir a
passagem da Folha, o soldado
alerta: "Andem com muito cuidado, porque a estrutura está
muito frágil. Pode vir uma réplica [do terremoto] e fazer tudo desabar".
Pressa
Os pescadores explicam que
têm o direito de entrar porque
estão ali "para ajudar a organizar a limpeza e tentar torná-la
mais rápida". A pressa é uma
questão de sobrevivência.
"Com o que ganhamos nos três
meses de pescas, nós nos mantemos durante o ano todo. Agora, não sei como vou fazer para
alimentar meus filhos", afirma
Palacios, pai de dois meninos,
de 9 e 3 anos.
O operador de tratores Luis
Pacheco avalia que a remoção
dos escombros levará pelo menos mais uma semana. Assim
como ele, todos os funcionários
de empresas privadas contratados para o trabalho estão sujeitos ao toque de recolher vigente
em Talcahuano.
Até anteontem, os cidadãos
tinham de estar em suas casas
às 18h, de onde só podiam sair
às 12h do dia seguinte. Ontem,
esse horário foi flexibilizado
-o toque de recolher agora vige
das 21h às 6h. A medida de exceção é controlada pelas Forças
Armadas, enviadas para pacificar a região de Bio Bio, que viveu uma onda de saques ao comércio logo após o terremoto
seguido de tsunami.
A reconstrução completa do
centro não será feita em menos
de um ano, na opinião do trabalhador.
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