São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

Texto Anterior | Índice

Militares apertam o cerco contra saqueadores e recuperam bens

DOS ENVIADOS A TALCAHUANO

Mãos atadas, nariz sangrando, rosto contra o solo, o corpo do homem treme incessantemente. Ele está sob o poder de militares armados com metralhadoras. Acaba de ser detido, enquanto tentava roubar gasolina de um posto em Talcahuano, onde a venda de combustível está racionada.
A Folha chega ao local minutos depois. Tempo suficiente para que, de acordo com moradores que observaram a detenção, "os milicos, que já mataram quatro por aqui" tenham "espancado o ladrão", além de "jogarem terra na cara dele".
Quando os repórteres se aproximam da cena, um cidadão se arma de coragem para interpelar os soldados.
Em tom pausado, ele diz: "Sou cristão. Esse homem é um ser humano, que já está rendido. Não há necessidade de tanta violência".
O soldado que o ouve responde com a ênfase da irritação: "Senhor, é por causa de pessoas como ele que esta cidade está do jeito que está. Por favor, cale-se e retire-se".

Rejeição
A julgar por pesquisa divulgada ontem pelo jornal "El Mercurio", a maioria dos chilenos está alinhada com o pensamento do militar, e não com o do cidadão que tentou interceder pelo detido. O levantamento mostrou que, para 71% dos entrevistados, os saques que se sucederam ao terremoto "são reprováveis e não têm justificativa". Só 26% acreditam que os saques são justificáveis em caso de necessidade.
Tendo em vista a má repercussão popular aos saques, o governo iniciou uma operação para recuperar os bens roubados. Militares percorreram ontem a periferia de Concepción, a segunda maior cidade chilena e uma das mais afetadas pelo terremoto, ordenando por meio de altos-falantes aos moradores que devolvessem os produtos de saques, sob a pena de terem suas casas revistadas e serem detidos.
A presidente Michelle Bachelet visitou um ginásio municipal onde foram descarregados 35 caminhões com bens recuperados, como TVs e máquinas de lavar.
"Esses saques não têm nada a ver com sobrevivência, têm a ver com gente que busca lucrar no meio da dor. Há vizinhos indignados com as pessoas que estavam vendendo esses produtos", disse ela, que estimou o valor dos bens recuperados em US$ 2 milhões. (JW e SA)


Texto Anterior: Resposta de governo a sismo é reprovada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.