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Militares apertam o cerco contra saqueadores e recuperam bens
DOS ENVIADOS A TALCAHUANO
Mãos atadas, nariz sangrando, rosto contra o solo, o corpo
do homem treme incessantemente. Ele está sob o poder de
militares armados com metralhadoras. Acaba de ser detido,
enquanto tentava roubar gasolina de um posto em Talcahuano, onde a venda de combustível está racionada.
A Folha chega ao local minutos depois. Tempo suficiente
para que, de acordo com moradores que observaram a detenção, "os milicos, que já mataram quatro por aqui" tenham
"espancado o ladrão", além de
"jogarem terra na cara dele".
Quando os repórteres se
aproximam da cena, um cidadão se arma de coragem para
interpelar os soldados.
Em tom pausado, ele diz:
"Sou cristão. Esse homem é um
ser humano, que já está rendido. Não há necessidade de tanta violência".
O soldado que o ouve responde com a ênfase da irritação: "Senhor, é por causa de
pessoas como ele que esta cidade está do jeito que está. Por favor, cale-se e retire-se".
Rejeição
A julgar por pesquisa divulgada ontem pelo jornal "El
Mercurio", a maioria dos chilenos está alinhada com o pensamento do militar, e não com o
do cidadão que tentou interceder pelo detido. O levantamento mostrou que, para 71% dos
entrevistados, os saques que se
sucederam ao terremoto "são
reprováveis e não têm justificativa". Só 26% acreditam que os
saques são justificáveis em caso
de necessidade.
Tendo em vista a má repercussão popular aos saques, o
governo iniciou uma operação
para recuperar os bens roubados. Militares percorreram ontem a periferia de Concepción,
a segunda maior cidade chilena
e uma das mais afetadas pelo
terremoto, ordenando por
meio de altos-falantes aos moradores que devolvessem os
produtos de saques, sob a pena
de terem suas casas revistadas
e serem detidos.
A presidente Michelle Bachelet visitou um ginásio municipal onde foram descarregados 35 caminhões com bens recuperados, como TVs e máquinas de lavar.
"Esses saques não têm nada a
ver com sobrevivência, têm a
ver com gente que busca lucrar
no meio da dor. Há vizinhos indignados com as pessoas que
estavam vendendo esses produtos", disse ela, que estimou o
valor dos bens recuperados em
US$ 2 milhões.
(JW e SA)
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