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OCUPAÇÃO
Tomada de palácios presidenciais e destruição de estátuas visa abalar moral do inimigo
Símbolo do regime é alvo estratégico
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A estratégia americana em Bagdá consiste em tentar separar as
forças leais ao ditador Saddam
Hussein do resto da população.
Reides, ataques pontuais e ocupação de locais simbólicos, como
palácios, são um modo de atrair o
inimigo para destruí-lo.
Derrubar as estátuas e rasgar os
pôsteres de Saddam Hussein pode parecer uma vingança boba e
uma perda de tempo dos soldados envolvidos na tarefa. Mas é,
na verdade, uma das táticas de
guerra mais inteligentes, baratas e
eficazes da coalizão anglo-americana no território iraquiano.
Assim como o ditador totalitário conhecido como "Grande Irmão", do romance "1984", do escritor inglês George Orwell, a
imagem de Saddam Hussein está
em toda a parte. "O Grande Irmão
está de olho em você" indicava
que toda resistência seria esmagada, que não valeria a pena nem
pensar em resistir.
A cada estátua que cai, aumenta
a sensação da população local de
que o ditador bigodudo vai de fato deixar de governar o país.
Um curioso comunicado britânico logo no começo do conflito
falava na destruição de cinco tanques e duas estátuas de Saddam
no sul do país. Devido à vital necessidade de conquistar os "corações e mentes" da população, hoje
se percebe que esse comunicado
algo exótico refletia perfeitamente
a estratégia anglo-americana.
A destruição das duas estátuas
provavelmente foi mais útil à coalizão anglo-americana do que a de
cinco tanques iraquianos para lá
de obsoletos.
O Exército do Iraque pouco se
modernizou desde a derrota de
1991. O único momento em que
os oficiais de Saddam tiveram alguma liberdade operacional foi
durante momentos de crise durante a longa guerra contra o vizinho Irã, de 1980 a 1988. Voltada a
paz, retornaram as amarras à
criatividade na Forças Armadas.
Como é praxe em ditaduras, generais com idéias próprias e competentes no campo de batalha são
temidos pelo "grande líder". São
golpistas em potencial, sua competência militar atrai seguidores.
O Exército do Iraque foi treinado pelos soviéticos, cujo sistema
rígido de "comando e controle"
abafava a iniciativa individual. Na
guerra principalmente estática e
defensiva com o Irã esse era um
problema menor. Contra um inimigo sofisticado, é o caminho para a derrota.
Com sua rede de comunicação
destruída ou precária, comandar
as forças que restam fica cada vez
mais difícil. Os oficiais e soldados,
sem orientação do alto, têm de
encontrar eles próprios maneiras
de resistir. A péssima qualidade
do corpo de oficiais iraquiano resulta em uma resistência pouco
eficaz.Os partidários de Saddam
Hussein não podem ficar quietos
vendo os símbolos do regime destruídos um após outro. Perdem o
respeito e param de ser temidos
pela população. A melhor opção é
a fuga, e, no caso daqueles com
um passado duvidoso, o combate
até a morte.
Bolsões de resistência deste tipo
vão ser encontrados em vários
pontos do país. É a "brigada dos
que não têm nada a perder". Mas
não vão ter tanques nem blindados à disposição. Esses são alvos
prioritários.
Os ataques aéreos continuam
intensos a tudo o que se move pelo Iraque. Um dos efeitos esperados é o aumento dos incidentes de
"fogo amigo" (ou "azul contra
azul", no jargão militar). Como os
iraquianos também usam veículos civis, a chance de incidentes
como o que atingiu curdos no
norte do país é uma constante.
O fim da guerra pode não ser algo tão preciso, tão demarcado como foram os finais de outras
guerras, especialmente se Saddam Hussein não for morto ou
capturado. Os EUA temiam, no final da Segunda Guerra, que Adolf
Hitler se estabelecesse em um
bunker nos Alpes junto de um
grupo determinado de seguidores
fanáticos. Mas isso não aconteceu. Hitler se suicidou em Berlim.
Saddam poderia optar por um
final de "mártir" ou então tornar-se um novo Osama bin Laden, o
inimigo número um dos Estados
Unidos cuja localização ainda é
um mistério.
Mas isso só seria possível se o ditador conseguisse apoio de setores da população do seu país. Seria um interessante teste da sua
popularidade.
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