São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Ataque deixa mais de 140 feridos e visa importante templo xiita de Bagdá, acirrando conflito sectário

Vestidos de mulher, suicidas matam 74

Ahmad al Rubaye/France Presse
Retrato de Ali, precursor do xiismo, na entrada da mesquita


DA REDAÇÃO

Três terroristas suicidas vestidos com trajes femininos mataram pelo menos 74 pessoas em uma mesquita no norte de Bagdá, no mais sangrento ataque sectário dos últimos três meses no Iraque. O atentado, que também deixou mais de 140 feridos, foi cometido na mesquita xiita de Buratha, uma das mais importantes da capital e bastião do Conselho Supremo da Revolução Islâmica (CSRI), o principal partido da aliança xiita majoritária no Parlamento iraquiano.
Segundo testemunhas, dois dos terroristas, ambos homens, conseguiram entrar na mesquita antes de acionar os explosivos que escondiam sob os trajes negros típicos das mulheres xiitas. Uma terceira bomba foi detonada por uma mulher na entrada do templo. "Foi um ato covarde", lamentou o bombeiro Jawwad Kathim, segurando o dedo de uma das vítimas. "Toda vez que eu vejo essas cenas sangrentas meu coração se despedaça."
Foi o pior atentado suicida contra um alvo xiita desde novembro de 2005 e o mais grave ato de violência em geral desde 5 de janeiro, quando terroristas suicidas mataram cerca de 70 pessoas em Ramadi. "Os xiitas são o alvo, e este é um ato sectário", disse Jalal al Deen, um dos líderes do CSRI, que estava na mesquita no momento das explosões. "Não há outra motivação para um ato como este além do ódio sectário."
Jalal Eddin al Sagheer, o imã da mesquita e um dos principais líderes da coalizão xiita no Parlamento, confirmou que havia três terroristas. Segundo o clérigo, que escapou ileso, um dos homens-bomba tentou entrar em seu escritório antes de explodir.
Sagheer acusou políticos e clérigos sunitas de inflamar seus seguidores com uma campanha de "distorções e mentiras" contra a mesquita Buratha, afirmando que no local funciona uma prisão e um cemitério sunitas.
As explosões ocorreram no momento em que os fiéis deixavam a mesquita, após as orações de sexta-feira. Horas antes, o Ministério do Interior havia recomendado ao público evitar aglomerações próximas a mesquitas devido a um alerta de carro-bomba.
Em entrevista à BBC, o embaixador dos EUA no Iraque, Zalmay Khalilzad, advertiu que a guerra sectária que divide o Iraque ameaça engolfar toda a região. "Essa é uma possibilidade se não fizermos tudo para que este país funcione", disse Khalilzad. "O que está acontecendo aqui tem enormes implicações para a região e para o mundo."
O diplomata americano reafirmou a posição dos EUA de que um governo de união é a única forma de conter a violência. Divergências entre sunitas, xiitas e curdos, exacerbadas pela recusa do premiê Ibrahim al Jaafari em abrir mão de um segundo mandato, têm impedido a formação do governo desde a eleição parlamentar, realizada em dezembro.
As tensões religiosas se acirraram no Iraque depois da explosão da Mesquita Dourada da cidade de Samarra, um dos principais santuários xiitas do país, no dia 22 de fevereiro. Desde então, o ciclo de violência deixou milhares de mortos e colocou o país à beira da guerra civil.

Com agências internacionais

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