São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006 |
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ARTIGO Condi e Rummy
THOMAS FRIEDMAN
Na condição de alguém que acredita na importância de construir uma política progressista no Iraque, no coração do mundo árabe, me dói dizer o que direi agora: estamos mergulhados em problemas sérios aqui. Alguns críticos acham que a invasão do Iraque esteve relacionada unicamente ao petróleo. Eles estão tão enganados! Na verdade, é algo muito mais maluco -e mais nobre- do que isso. Essa região só conheceu monólogos ditados de cima para baixo: potências coloniais, depois reis e ditadores, sempre governando a população de cima para baixo e se impondo com mão-de-ferro. O que estamos tentando promover no Iraque é algo que não tem precedentes: o primeiro diálogo horizontal, de baixo para cima, entre comunidades que compõem um Estado árabe. O que estamos vendo no Iraque hoje é esse diálogo horizontal, entre árabes xiitas, curdos e árabes sunitas -comunidades que nunca foram autorizadas a forjar seu próprio contrato social- para que não tenham que ser governadas de cima para baixo. Se os árabes xiitas, os árabes sunitas e os curdos iraquianos conseguirem forjar seu próprio contrato social, a democracia será possível nessa parte do mundo. Se não conseguirem, então o futuro será feito de reis e ditadores a perder de vista. E, como foram décadas desse tipo de política que geraram as patologias que resultaram no 11 de Setembro, isso seria extremamente lamentável. Nosso trabalho era fazer uma coisa certa: criar um ambiente de segurança, para que os iraquianos pudessem ter um diálogo horizontal razoavelmente racional e pacífico, o que é difícil, em vista do legado de medo de Saddam. Fracassamos em grande medida porque Rumsfeld, que foi avisado do contrário, se negou a enviar tropas em número suficiente. Rumsfeld tomou essa decisão porque -a julgar pela história da Guerra do Iraque escrita por Michael Gordon e Bernard Trainor, "Cobra 2"- estava mais interessado em transformar o Pentágono do que em transformar o Iraque. Ele nunca se dispôs a dedicar os recursos militares sem precedentes que seriam necessários para dar conta da missão iraquiana, também sem precedentes. Bush, Condi Rice e Dick Cheney embarcaram nessa viagem com ele. Tentaram fazer história pagando pouco. Mas não se pode querer alcançar os fins sem se dispor a desembolsar os meios. Isso é matéria básica da disciplina da teoria estratégica, e ignorá-lo não é um simples "erro tático". Tradução de Clara Allain Texto Anterior: EUA: Bush registra seu pior índice de aprovação Próximo Texto: Panorâmica - Oriente Médio: EUA e UE suspendem ajuda ao governo palestino; ataque de Israel mata seis Índice |
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