São Paulo, quarta-feira, 08 de abril de 2009

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Novos tremores mantêm Itália alerta

Réplicas ao sismo de segunda dificultam resgate na região de Abruzzo; número de mortos chega a 235

Áquila, cidade mais afetada pelo terremoto, é centro universitário e boa parte dos mortos é de estudantes; 17 mil perderam as suas casas


Chris Helgren/Reuters
Família caminha em meio à destruição no vilarejo de Onna, na região de Abruzzo, atingida por terremoto na madrugada de segunda

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ÁQUILA (ITÁLIA)

Desde a madrugada de segunda, quando o terremoto mais letal em três décadas na Itália atingiu em cheio o seu quarteirão, o estudante português Gustavo Botelho tenta voltar ao apartamento que divide com três colegas, no centro histórico de Áquila.
Na primeira tentativa, logo após o tremor que matou 235 pessoas, de acordo com a última contagem, foi dissuadido pelo rombo aberto no telhado, a nuvem de poeira e as largas rachaduras nas paredes. Na segunda vez, ontem, foi avisado pelos bombeiros para manter-se afastado, devido ao perigo iminente de novos choques.
O alerta não era em vão. Pouco depois, enquanto as equipes de salvamento completavam seu segundo dia de buscas por sobreviventes nos escombros, a terra voltou a tremer na região de Abruzzo, e especialmente em sua capital, Áquila. A intensidade foi de 5,6 na escala Richter, pouco menor que o devastador terremoto da segunda-feira (que atingiu entre 5,8 e 6,3, dependendo da medição).
Dessa vez não houve vítimas, mas o novo sismo, que chegou a ser sentido até na capital, Roma, a mais de 100 km de Abruzzo, manteve entre os italianos a tensa expectativa de que o pior pode se repetir. Além disso, reavivou entre os sobreviventes a memória dos 20 segundos de horror da segunda-feira.
Só ontem, ao ver a poeira recriada pelas escavadeiras da defesa civil, Gustavo se deu conta do que ela lhe lembrou na noite do terremoto. "Parecia o 11 de Setembro", disse o estudante de 21 anos, que refugiou-se na casa de amigos em Pizzoli, pequena aldeia ao lado de Áquila.
Cidade universitária, conhecida por receber estudantes do mundo inteiro, Áquila transformou-se num enorme campus em luto. Enrolados em cobertores, abraçados e com os olhos vermelhos, dezenas de jovens aguardavam notícias de colegas. Entre mortos e desaparecidos, grande parte era de universitários.
Em uma das muitas repúblicas de estudantes, dezenas de bombeiros e voluntários tentavam retirar ontem quatro jovens desaparecidos sob toneladas de concreto. Um deles, era Hussein, 22, israelense de origem árabe, que cursa o segundo ano de medicina.
"Conversamos no telefone às 2h30 de segunda, ele estava tranquilo, no quarto", contou o amigo Badir, também israelense. "Meia hora depois, o quarto inteiro havia desaparecido."

Novos danos
Antes do mais forte, já no início da noite, vários outros tremores secundários foram sentidos ontem em Áquila e nas outras duas dezenas de cidades da região atingidas pelo terremoto de segunda, prejudicando os resgates. Alguns prédios desabaram de vez e construções históricas sofreram novos danos, como a basílica de Áquila, que perdeu parte do teto.
O número oficial de desabrigados caiu para 17 mil, três vezes menor que o estimado inicialmente. O governo italiano montou vários acampamentos para os que perderam suas casas com barracas familiares e cozinhas comunitárias. O maior inimigo passou a ser o frio, que cai a 5C à noite.
"Vou ter que usar dois cobertores", disse Alessandro Messineu, 23, cuja casa foi parcialmente destruída. Morador de Paganica, uma das cidades mais atingidas, ele passou a primeira noite após o terremoto num carro, com o irmão.
O número de mortos aumentou durante todo o dia de ontem, à medida em que prosseguiam os trabalhos dos bombeiros. Num dos momentos mais dramáticos do resgate, um bombeiro da cidade costeira de Pescara encontrou a filha, que estudava em Áquila, morta sob os escombros.
Mas também houve lances de pura sorte. Maria D'Antuono, 98, foi resgatada sem ferimentos após ficar 30 horas presa nas ruínas de sua casa, também em Áquila. Aos bombeiros que quiseram saber o que fizera durante a espera, ela respondeu: "Fiz crochê".


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