São Paulo, quarta-feira, 08 de abril de 2009

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Cenário devastado de Áquila é de uma "guerra sem bombas"

DO ENVIADO A ÁQUILA

Não é à toa que guerras costumam ser comparadas a terremotos e vice-versa. As semelhanças são marcantes, e não apenas pela devastação indiscriminada. Nos dois casos, o momento da tragédia parece ficar congelado no tempo, criando cidades-fantasmas onde antes havia vida.
Nas ruas estreitas do precioso centro antigo de Áquila, portas entreabertas revelam a intimidade de famílias forçadas a deixar suas casas às pressas. Na via Roma, uma longa ladeira que leva ao coração da cidade medieval, as escadas dos prédios mostram o rastro da fuga, com sapatos e outros objetos pessoais misturados aos escombros, sob a parede rachada.
Nos varais, lençóis brancos estão cobertos da poeira densa que envolveu Áquila. Gatos e cachorros com coleiras vagam sem rumo pela cidade. Na vitrine de uma sapataria, dezenas de pares antes cuidadosamente enfileirados, agora se amontoam uns sobre os outros.
A cada esquina, moradores com olhar angustiado carregam sacolas abarrotadas de pertences que conseguiram retirar. Apartamentos, igrejas, mercearias simples e lojas de luxo, tudo está vazio por ordem da defesa civil, o que aumenta o ar fantasmagórico da cidade em ruínas.
Em algumas casas, paredes inteiras desapareceram, criando gigantescas casas de bonecas, com o interior exposto ao olhar público. Numa delas, um quarto de casal tem a cama desarrumada por pedaços de reboco que se confundem com os lençóis. Em outra, quatro fotos de artistas coladas precariamente resistiram ao tremor e continuam na parede do quarto de adolescente.
Vivendo há oito anos em Áquila, onde se divide entre o curso de medicina e o trabalho como garçom, o israelense Badir acompanha angustiado as tentativas dos bombeiros de resgatar um colega de estudos que ficou soterrado. À sua volta, praticamente nenhum prédio escapou ao terremoto.
"É como uma guerra sem bombas", resume. (MN)


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