São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

Próximo Texto | Índice

Protestos derrubam governo do Quirguistão

Violentos confrontos deixam ao menos 40 mortos e obrigam presidente da ex-república soviética na Ásia central a fugir

Manifestantes reclamam do encarecimento de serviços públicos e da corrupção no país, chave para interesses de EUA e Rússia na região


Ivan Sekretarev/Associated Press
Forças de segurança se agrupam em confrontos na capital do Quirguistão

DA REDAÇÃO

Manifestantes opositores estimados em milhares destituíram o presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiev, e assumiram ontem o governo da ex-república soviética da Ásia central em meio a violentos conflitos na capital, Bishkek, que deixaram pelo menos 40 mortos. Segundo relatos, quirguizes enfurecidos com uma espiral de aumento nos preços de serviços públicos e o estado de corrupção endêmica tomaram um prédio das forças de segurança, a sede de uma TV estatal, além de outras instituições oficiais.
O presidente, que assumira em 2005 também após revolta popular, fugiu num avião particular para a cidade de Och, a segunda maior do país e na qual mantém residência, segundo líderes opositores -embora relatos indicassem que Bakiev teria se exilado no Cazaquistão. À noite, a ex-ministra do Exterior Roza Otunbaieva anunciou que assumia a "coordenação" das discussões para a formação do novo governo, a despeito de o presidente ainda não ter renunciado formalmente.
"[O governo interino] vai vigorar por meio ano, durante o qual produziremos uma nova Constituição e criaremos condições para uma eleição [presidencial] livre e justa", afirmou à agência Reuters a ex-chanceler, que também esteve na linha de frente do movimento que havia conduzido Bakiev ao governo.
No ano passado, a oposição já havia alegado fraudes generalizadas no pleito que reelegeu o presidente quirguiz com cerca de 90% dos votos, depois que rivais desistiram de concorrer. Durante os confrontos, forças de segurança tentaram inicialmente deter os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha e canhões de água. No entanto, acuadas e ante o fracasso dos esforços para a contenção dos opositores, passaram a efetuar disparos com armas de fogo.
"Quando as pessoas começaram a marchar na direção do palácio presidencial, atiradores de elite no telhado abriram fogo, com balas reais!", disse ao jornal "New York Times" o diretor de um grupo de direitos humanos local, Dmitri Kabak. O Ministério da Saúde estimava ontem os mortos em 40, mas opositores elevavam o número a cem. Ao menos outras 400 pessoas ficaram feridas.
Na raiz dos protestos -que tiveram início anteontem na cidade de Talas (a oeste de Bishkek) antes de se difundirem pela capital e outras partes do país- estão a insatisfação com o cerceamento das liberdades civis e o aumento da repressão nos últimos anos, além da rápida deterioração da economia.
Bakiev assumira em 2005 em circunstâncias similares, após a deposição do então presidente Askar Akaiev -no cargo desde 1991, quando o Quirguistão obteve a independência da União Soviética-, prometendo abertura e a modernização do país.
O episódio havia sido à época saudado no Ocidente como a continuação da onda de revoltas contra governos pró-Moscou nas ex-repúblicas soviéticas que já resultara na queda dos líderes de Geórgia e Ucrânia nos dois anos anteriores.

EUA e Rússia
O empobrecido país de 5,4 milhões de habitantes é considerado chave na região tanto por abrigar bases militares dos EUA -crucial para o Afeganistão- e da Rússia quanto por estar localizado numa região que Moscou até hoje considera sua esfera natural de influência. Membros do governo deposto chegaram a acusar ontem a Rússia de estar por trás dos protestos, mas as alegações foram rejeitadas pelo Kremlin.
O Departamento de Estado dos EUA condenou os episódios de violência e disse que a base militar -cujo fechamento é pedido pela oposição- funcionava ontem normalmente.

Com agências internacionais

Veja galeria de fotos dos protestos no Quirguistão

www.folha.com.br/1009710



Próximo Texto: Saiba mais: País é escala dos EUA rumo ao Afeganistão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.