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Protestos derrubam governo do Quirguistão
Violentos confrontos deixam ao menos 40 mortos e obrigam presidente da ex-república soviética na Ásia central a fugir
Manifestantes reclamam do encarecimento de serviços públicos e da corrupção no país, chave para interesses de EUA e Rússia na região
Ivan Sekretarev/Associated Press
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Forças de segurança se agrupam em confrontos na capital do Quirguistão
DA REDAÇÃO
Manifestantes opositores estimados em milhares destituíram o presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiev, e assumiram ontem o governo da ex-república soviética da Ásia central em meio a violentos conflitos na capital, Bishkek, que deixaram pelo menos 40 mortos.
Segundo relatos, quirguizes
enfurecidos com uma espiral
de aumento nos preços de serviços públicos e o estado de corrupção endêmica tomaram um
prédio das forças de segurança,
a sede de uma TV estatal, além
de outras instituições oficiais.
O presidente, que assumira
em 2005 também após revolta
popular, fugiu num avião particular para a cidade de Och, a segunda maior do país e na qual
mantém residência, segundo líderes opositores -embora relatos indicassem que Bakiev teria se exilado no Cazaquistão.
À noite, a ex-ministra do Exterior Roza Otunbaieva anunciou que assumia a "coordenação" das discussões para a formação do novo governo, a despeito de o presidente ainda não
ter renunciado formalmente.
"[O governo interino] vai vigorar por meio ano, durante o
qual produziremos uma nova
Constituição e criaremos condições para uma eleição [presidencial] livre e justa", afirmou à
agência Reuters a ex-chanceler,
que também esteve na linha de
frente do movimento que havia
conduzido Bakiev ao governo.
No ano passado, a oposição já
havia alegado fraudes generalizadas no pleito que reelegeu o
presidente quirguiz com cerca
de 90% dos votos, depois que
rivais desistiram de concorrer.
Durante os confrontos, forças de segurança tentaram inicialmente deter os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha e canhões de água. No entanto,
acuadas e ante o fracasso dos
esforços para a contenção dos
opositores, passaram a efetuar
disparos com armas de fogo.
"Quando as pessoas começaram a marchar na direção do
palácio presidencial, atiradores
de elite no telhado abriram fogo, com balas reais!", disse ao
jornal "New York Times" o diretor de um grupo de direitos
humanos local, Dmitri Kabak.
O Ministério da Saúde estimava ontem os mortos em 40,
mas opositores elevavam o número a cem. Ao menos outras
400 pessoas ficaram feridas.
Na raiz dos protestos -que
tiveram início anteontem na cidade de Talas (a oeste de Bishkek) antes de se difundirem pela capital e outras partes do
país- estão a insatisfação com
o cerceamento das liberdades
civis e o aumento da repressão
nos últimos anos, além da rápida deterioração da economia.
Bakiev assumira em 2005 em
circunstâncias similares, após a
deposição do então presidente
Askar Akaiev -no cargo desde
1991, quando o Quirguistão obteve a independência da União
Soviética-, prometendo abertura e a modernização do país.
O episódio havia sido à época
saudado no Ocidente como a
continuação da onda de revoltas contra governos pró-Moscou nas ex-repúblicas soviéticas que já resultara na queda
dos líderes de Geórgia e Ucrânia nos dois anos anteriores.
EUA e Rússia
O empobrecido país de 5,4
milhões de habitantes é considerado chave na região tanto
por abrigar bases militares dos
EUA -crucial para o Afeganistão- e da Rússia quanto por estar localizado numa região que
Moscou até hoje considera sua
esfera natural de influência.
Membros do governo deposto chegaram a acusar ontem a
Rússia de estar por trás dos
protestos, mas as alegações foram rejeitadas pelo Kremlin.
O Departamento de Estado
dos EUA condenou os episódios de violência e disse que a
base militar -cujo fechamento
é pedido pela oposição- funcionava ontem normalmente.
Com agências internacionais
Veja galeria de fotos dos
protestos no Quirguistão
www.folha.com.br/1009710
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