São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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EUROPA

Derrota eleitoral após assumir discurso centrista leva o partido a retomar bandeiras como rejeição a privatizações

Socialistas franceses voltam à esquerda

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O Partido Socialista francês decidiu reforçar o seu discurso de esquerda, depois da derrota que sofreu nas últimas eleições presidenciais.
O conselho nacional do PS aprovou ontem, por unanimidade, o documento intitulado "Pelo progresso, rumo à esquerda", um programa de governo que prioriza "conquistas sociais", sobretudo em relação às "classes populares".
O programa é a arma eleitoral dos socialistas para as eleições legislativas, que acontecem em junho. Ele é composto de oito objetivos, entre os quais consta a criação de mais empregos, o combate às más condições de trabalho, a rejeição à privatização dos serviços públicos e a atenção com a segurança pública, bandeira tradicional da direita e demanda principal do eleitorado francês.

União
Ao mesmo tempo, os socialistas avançaram na coligação que vai reuni-los ao Partido Comunista, aos Verdes e ao Partido Radical de Esquerda para enfrentarem juntos as legislativas, com candidaturas únicas.
A "esquerda unida", como está sendo chamada, pode receber ainda o apoio de Jean-Pierre Chèvenement.
O centro-direita já está aglomerado num bloco partidário que associou a legenda do presidente reeleito, Jacques Chirac, a duas outras formações.
Segundo Martiny Aubry, ex-ministra de Assuntos Sociais, o novo programa socialista "não é mais ou menos de esquerda, ele é de esquerda". Ela insistiu que ele visa responder às "expectativas fortes das classes populares, mas não apenas, que têm a impressão de que a França melhorou, embora não para elas".

Esquerda "amena"
As dramáticas eleições presidenciais francesas obrigaram os principais partidos do país a se reestruturar e a repensar seus programas políticos.
Para os socialistas, as eleições representaram uma grave derrota, depois que o primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin, foi eliminado do segundo turno pelo líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen.
Em comparação com as eleições de 1995, a esquerda em geral perdeu em 2002 cerca de 1 milhão de eleitores.
Uma das explicações correntes para o fracasso de Jospin é que ele cometeu o erro tático de amenizar o seu discurso de esquerda. "Eu sou de esquerda, mas meu programa não é", disse ele no início da campanha. Os votos de eleitores dessa tendência evadiram então para outros partidos, inclusive os de extrema esquerda.

Correção de rumo
O novo programa "corrige" mais à esquerda os planos de Jospin e acrescenta novos tópicos. Tenta responder às demandas sociais concretas do eleitorado, atendendo também às reivindicações da base militante do partido.
No plano trabalhista, os socialistas se comprometem a abrir cerca de 900 mil vagas de trabalho no país e a aumentar o poder de compra do trabalhador.
Aspiram também a melhorar as condições de trabalho, punindo as empresas que não as oferecem, e defendem uma "revalorização significativa das pequenas aposentadorias".
O programa é contra "a privatização dos serviços públicos" e se opõe à "toda nova desregulamentação" no nível da União Européia. Os socialistas afirmam que irão "parar toda nova abertura à concorrência até que uma diretiva européia defina claramente os serviços de interesse geral e garanta o direito de cada Estado de manter o monopólio de certos setores".
No plano da segurança pública, o programa diz que é "indispensável" uma "firmeza sem falhas" diante de todo ato criminoso e de incivilidade, mas que é também necessária uma nova política de prevenção da delinquência.


Com agências internacionais


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