|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUROPA
Derrota eleitoral após assumir discurso centrista leva o partido a retomar bandeiras como rejeição a privatizações
Socialistas franceses voltam à esquerda
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
O Partido Socialista francês decidiu reforçar o seu discurso de
esquerda, depois da derrota que
sofreu nas últimas eleições presidenciais.
O conselho nacional do PS
aprovou ontem, por unanimidade, o documento intitulado "Pelo
progresso, rumo à esquerda", um
programa de governo que prioriza "conquistas sociais", sobretudo em relação às "classes populares".
O programa é a arma eleitoral
dos socialistas para as eleições legislativas, que acontecem em junho. Ele é composto de oito objetivos, entre os quais consta a criação de mais empregos, o combate às más condições de trabalho, a
rejeição à privatização dos serviços públicos e a atenção com a segurança pública, bandeira tradicional da direita e demanda principal do eleitorado francês.
União
Ao mesmo tempo, os socialistas
avançaram na coligação que vai
reuni-los ao Partido Comunista,
aos Verdes e ao Partido Radical de
Esquerda para enfrentarem juntos as legislativas, com candidaturas únicas.
A "esquerda unida", como está
sendo chamada, pode receber
ainda o apoio de Jean-Pierre Chèvenement.
O centro-direita já está aglomerado num bloco partidário que
associou a legenda do presidente
reeleito, Jacques Chirac, a duas
outras formações.
Segundo Martiny Aubry, ex-ministra de Assuntos Sociais, o novo
programa socialista "não é mais
ou menos de esquerda, ele é de esquerda". Ela insistiu que ele visa
responder às "expectativas fortes
das classes populares, mas não
apenas, que têm a impressão de
que a França melhorou, embora
não para elas".
Esquerda "amena"
As dramáticas eleições presidenciais francesas obrigaram os
principais partidos do país a se
reestruturar e a repensar seus
programas políticos.
Para os socialistas, as eleições
representaram uma grave derrota, depois que o primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin, foi
eliminado do segundo turno pelo
líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen.
Em comparação com as eleições
de 1995, a esquerda em geral perdeu em 2002 cerca de 1 milhão de
eleitores.
Uma das explicações correntes
para o fracasso de Jospin é que ele
cometeu o erro tático de amenizar
o seu discurso de esquerda. "Eu
sou de esquerda, mas meu programa não é", disse ele no início
da campanha. Os votos de eleitores dessa tendência evadiram então para outros partidos, inclusive os de extrema esquerda.
Correção de rumo
O novo programa "corrige"
mais à esquerda os planos de Jospin e acrescenta novos tópicos.
Tenta responder às demandas sociais concretas do eleitorado,
atendendo também às reivindicações da base militante do partido.
No plano trabalhista, os socialistas se comprometem a abrir
cerca de 900 mil vagas de trabalho
no país e a aumentar o poder de
compra do trabalhador.
Aspiram também a melhorar as
condições de trabalho, punindo
as empresas que não as oferecem,
e defendem uma "revalorização
significativa das pequenas aposentadorias".
O programa é contra "a privatização dos serviços públicos" e se
opõe à "toda nova desregulamentação" no nível da União Européia. Os socialistas afirmam que irão "parar toda nova abertura à
concorrência até que uma diretiva
européia defina claramente os
serviços de interesse geral e garanta o direito de cada Estado de
manter o monopólio de certos setores".
No plano da segurança pública,
o programa diz que é "indispensável" uma "firmeza sem falhas"
diante de todo ato criminoso e de
incivilidade, mas que é também
necessária uma nova política de
prevenção da delinquência.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Itália emperra acordo em Belém Próximo Texto: Novo premiê francês anuncia seu gabinete Índice
|