São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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Partidos franceses miram eleição de junho

Socialistas tentam manter unidade para recuperar, na votação para o Legislativo, espaço perdido com derrota de domingo

Sistema eleitoral dificulta aliança entre a esquerda e o centro; centristas tendem a se aliar aos partidários do presidente eleito

Jean-Philippe Ksiazek/France Presse
Jovens anti-Sarkozy enfrentam a polícia em Lyon, pela segunda noite consecutiva; protestos também se repetiram em Paris


JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

A direção do Partido Socialista reuniu-se ontem por duas horas e decidiu por enquanto abafar as divergências internas, desencadeadas pela derrota de Ségolène Royal no segundo turno de anteontem das presidenciais francesas.
O partido irá às urnas com "uma direção colegiada". Isso significa que a máquina partidária não ficará mais nas mãos exclusivas de seu secretário-geral, François Hollande, e de Ségolène, sua mulher, criticada por ter feito uma campanha em que os marqueteiros foram mais influentes que os líderes históricos do partido.
"Os eleitores não compreenderiam esse tipo de disputa quando a prioridade é a de nos prepararmos para as legislativas [de 10 e 17 de junho]", disse o ex-premiê Laurent Fabius, líder da ala esquerda.
Dominique Strauss-Kahn, ex-ministro das Finanças e líder da ala social-democrata, não deu declarações. Mas "Le Monde" publicou que na noite de domingo ele se esforçou para desfazer a impressão -ele se colocou à disposição para dirigir o PS- de liderar um movimento interno contra Hollande. Ségolène, estopim involuntário dessa lavagem de roupa suja, disse ao final da reunião do Birô Nacional que foi "numa atmosfera serena" que se fez um balanço das urnas.
Ela dá sinais de que se prepara para disputar pela segunda vez a Presidência, em 2012. O candidato centrista François Bayrou, eliminado no primeiro turno de 22 de abril, e com um cacife de 18,6% dos votos, também. Essa é a primeira dificuldade para o plano de Strauss-Kahn e da própria Ségolène de formar um novo bloco político com grupos do centro.
Estes, por sua vez, tendem mais naturalmente a se aliar à direita -como já prenunciaram os 22 dos 29 deputados do partido de Bayrou, que anunciaram apoio a Nicolas Sarkozy, o presidente eleito- em razão do sistema eleitoral francês.
Um deputado é eleito pelo voto distrital. Qualificam-se para o segundo turno os candidatos com 20% ou mais dos votos. Negociam-se, então, acordos de desistência para que a divisão interna não favoreça o campo dos adversários. A regra praticada até agora leva a direita e o centro a atuarem nessa etapa como parceiros. O fato é que, mesmo sem definir linha política ou aliança, os socialistas dificilmente evitarão que a direita ligada a Sarkozy obtenha uma ampla maioria na eleição legislativa do mês que vem.

Sarkozy em Malta
O presidente eleito no domingo deixou um pouco antes do meio-dia o hotel da avenida dos Champs-Elysées em que passou a noite. Dirigiu-se a um aeroporto de vôos executivos, embarcou num jatinho em direção à ilha de Malta, pequeno Estado independente do Mediterrâneo. Seu destino permaneceu uma incógnita até por volta das 20h. Dizia-se que ele estava na Córsega, num mosteiro ao sul da França ou num chalé da região dos Alpes. Sarkozy disse que tiraria três ou quatro dias para descansar "e pensar na formação do governo", que anunciará depois de tomar posse, no dia 16.
Seu partido, a UMP (União por um Movimento Popular), reuniu-se ontem de manhã para discutir a campanha legislativa. François Fillon, unanimemente visto como o futuro premiê, não participou do encontro, a exemplo de "Sarkô".
A bolsa de Paris fechou ontem o pregão estável (alta de 0,04%). Não houve euforia pela derrota de Ségolène. Prova de que os investidores não se sentiam de fato ameaçados.


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