São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CHOQUE DE REALIDADE

Só mudança nas regras salva Hillary

Sem a cúpula de seu partido validar votos anulados na Flórida e em Michigan, candidatura da senadora à Casa Branca beira o impossível

Enfraquecida politicamente após resultados de terça, democrata afirma que vai "continuar na corrida até que haja um indicado"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Pelas atuais regras do jogo de prova dos nove que virou a disputa pela candidatura democrata à sucessão de George W. Bush, Hillary Clinton não tem mais chance de ser a indicada do partido de oposição. Após os resultados de anteontem, se ganhar todos os delegados de todas as seis prévias do partido de oposição que faltam acontecer até 3 de junho, a ex-primeira-dama obterá 1.636 delegados.
São necessários 2.025 para garantir a indicação. Hillary teria assim de depender do apoio dos chamados "superdelegados", 796 membros proeminentes do partido que podem votar de acordo com sua vontade, e não vinculados a resultados de prévias partidárias. Esses, porém, altamente influenciados pela opinião pública e pelo resultado das urnas, protagonizam êxodo em direção ao rival de Hillary, Barack Obama.
Em fevereiro, depois da Superterça, a ex-primeira-dama liderava nesse campo com folga de 87. Ontem, sua vantagem era de nove. Nas últimas 24 horas -após Obama vencer Hillary por margem larga (56% a 42%) na Carolina do Norte e perder por diferença estreita (49% a 51%) em Indiana-, quatro superdelegados anunciaram seu apoio a ele, um deles virando a casaca, ante apenas um que anunciou seu apoio indireto à senadora.
Outros fizeram questão de tornar pública a mudança de apoio. George McGovern, candidato derrotado dos democratas à Presidência em 1972, que não é superdelegado, mas um velho cacique do partido, disse que concluiu ser matematicamente impossível uma vitória da senadora: "Chegou a hora de nos unirmos em torno de Obama e nos prepararmos para a eleição geral".
Em sua primeira entrevista pós-resultados de terça, Hillary disse que respeitava a decisão de McGovern, mas que não desistiria. "Continuarei nessa corrida até que haja um indicado e obviamente eu vou trabalhar duro para ser esse indicado", disse, em Shepherdstown, na Virgínia Ocidental, Estado que realiza primárias na próxima terça e onde ela aparece como favorita nas pesquisas.
"Nos próximos dias, veremos Hillary repetir o papel de Mitt Romney, e Obama, o de John McCain logo após a Superterça", disse à Folha o analista político conservador Michael Barone. Ele se refere à demora do ex-pré-candidato republicano em reconhecer a derrota para o senador apesar dos resultados das urnas. "Quanto mais ela permanecer na corrida, mesmo sabendo que não tem mais chances, mais ela ganha e mais pode pedir lá na frente."

Caixa minguado
Outro problema são as torneiras das doações, que voltaram a secar. Já na madrugada pós-prévias de terça, o comando da campanha de Hillary reconhecia que a senadora teve de fazer mais três empréstimos à própria campanha, num total de US$ 6,4 milhões, o mais recente na segunda-feira. São US$ 11,4 milhões até agora.
Nesse cenário, a candidata e seus assessores voltaram a bater na tecla da questão dos votos da Flórida e de Michigan. Os Estados, com 210 e 156 delegados respectivamente, tiveram os resultados anulados por desrespeitarem decisão da cúpula do partido. Obama não fez campanha no primeiro e não apareceu na cédula no segundo. Hillary teve 49,7% e 55,4% dos votos, respectivamente.
Agora, ela quer mudar as regras para fazer valer os votos. Tocou no assunto no discurso de terça à noite, em que disse que seria "estranho" um candidato indicado por apenas 48 Estados. Na manhã de ontem, vendeu o novo número com o qual trabalha, de 2.209 delegados como mínimo para ter a candidatura. A cifra seria repetida o dia todo por assessores.
Mais do que batalhar por vitórias nas próximas seis prévias, a ex-primeira-dama quer garantir que boa parte dos delegados vetados venha para ela. O Comitê de Regras e Estatutos do Partido Democrata se reúne em Washington no próximo dia 31 para resolver a questão.
"Nós vamos argumentar que o novo número mágico é 2.209 e que Flórida e Michigan devem ser representados por completo [na convenção do partido, em agosto]", disse Howard Wolfson, diretor de comunicação da campanha de Hillary. "E vamos insistir que o senador Obama não consegue ganhar nos grandes Estados e eleitorados-chave necessários para a vitória em novembro."
Após a reunião, votam Porto Rico, Dakota do Sul e Montana. É pouco provável que Hillary tome uma decisão antes disso.


NA INTERNET
www.folha.com.br/081281

leia a íntegra dos discursos de vitória em Indiana e Carolina



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