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SUCESSÃO NOS EUA / CHOQUE DE REALIDADE
Só mudança nas regras salva Hillary
Sem a cúpula de seu partido validar votos anulados na Flórida e em Michigan, candidatura da senadora à Casa Branca beira o impossível
Enfraquecida politicamente após resultados de terça, democrata afirma que vai "continuar na corrida até que haja um indicado"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Pelas atuais regras do jogo de
prova dos nove que virou a disputa pela candidatura democrata à sucessão de George W.
Bush, Hillary Clinton não tem
mais chance de ser a indicada
do partido de oposição. Após os
resultados de anteontem, se ganhar todos os delegados de todas as seis prévias do partido de
oposição que faltam acontecer
até 3 de junho, a ex-primeira-dama obterá 1.636 delegados.
São necessários 2.025 para
garantir a indicação. Hillary teria assim de depender do apoio
dos chamados "superdelegados", 796 membros proeminentes do partido que podem
votar de acordo com sua vontade, e não vinculados a resultados de prévias partidárias. Esses, porém, altamente influenciados pela opinião pública e
pelo resultado das urnas, protagonizam êxodo em direção ao
rival de Hillary, Barack Obama.
Em fevereiro, depois da Superterça, a ex-primeira-dama
liderava nesse campo com folga
de 87. Ontem, sua vantagem era
de nove. Nas últimas 24 horas
-após Obama vencer Hillary
por margem larga (56% a 42%)
na Carolina do Norte e perder
por diferença estreita (49% a
51%) em Indiana-, quatro superdelegados anunciaram seu
apoio a ele, um deles virando a
casaca, ante apenas um que
anunciou seu apoio indireto à
senadora.
Outros fizeram questão de
tornar pública a mudança de
apoio. George McGovern, candidato derrotado dos democratas à Presidência em 1972, que
não é superdelegado, mas um
velho cacique do partido, disse
que concluiu ser matematicamente impossível uma vitória
da senadora: "Chegou a hora de
nos unirmos em torno de Obama e nos prepararmos para a
eleição geral".
Em sua primeira entrevista
pós-resultados de terça, Hillary
disse que respeitava a decisão
de McGovern, mas que não desistiria. "Continuarei nessa
corrida até que haja um indicado e obviamente eu vou trabalhar duro para ser esse indicado", disse, em Shepherdstown,
na Virgínia Ocidental, Estado
que realiza primárias na próxima terça e onde ela aparece como favorita nas pesquisas.
"Nos próximos dias, veremos
Hillary repetir o papel de Mitt
Romney, e Obama, o de John
McCain logo após a Superterça", disse à Folha o analista político conservador Michael Barone. Ele se refere à demora do
ex-pré-candidato republicano
em reconhecer a derrota para o
senador apesar dos resultados
das urnas. "Quanto mais ela
permanecer na corrida, mesmo
sabendo que não tem mais
chances, mais ela ganha e mais
pode pedir lá na frente."
Caixa minguado
Outro problema são as torneiras das doações, que voltaram a secar. Já na madrugada
pós-prévias de terça, o comando da campanha de Hillary reconhecia que a senadora teve
de fazer mais três empréstimos
à própria campanha, num total
de US$ 6,4 milhões, o mais recente na segunda-feira. São
US$ 11,4 milhões até agora.
Nesse cenário, a candidata e
seus assessores voltaram a bater na tecla da questão dos votos da Flórida e de Michigan.
Os Estados, com 210 e 156 delegados respectivamente, tiveram os resultados anulados por
desrespeitarem decisão da cúpula do partido. Obama não fez
campanha no primeiro e não
apareceu na cédula no segundo.
Hillary teve 49,7% e 55,4% dos
votos, respectivamente.
Agora, ela quer mudar as regras para fazer valer os votos.
Tocou no assunto no discurso
de terça à noite, em que disse
que seria "estranho" um candidato indicado por apenas 48
Estados. Na manhã de ontem,
vendeu o novo número com o
qual trabalha, de 2.209 delegados como mínimo para ter a
candidatura. A cifra seria repetida o dia todo por assessores.
Mais do que batalhar por vitórias nas próximas seis prévias, a ex-primeira-dama quer
garantir que boa parte dos delegados vetados venha para ela. O
Comitê de Regras e Estatutos
do Partido Democrata se reúne
em Washington no próximo dia
31 para resolver a questão.
"Nós vamos argumentar que
o novo número mágico é 2.209
e que Flórida e Michigan devem ser representados por
completo [na convenção do
partido, em agosto]", disse Howard Wolfson, diretor de comunicação da campanha de Hillary. "E vamos insistir que o senador Obama não consegue ganhar nos grandes Estados e
eleitorados-chave necessários
para a vitória em novembro."
Após a reunião, votam Porto
Rico, Dakota do Sul e Montana.
É pouco provável que Hillary
tome uma decisão antes disso.
NA INTERNET
www.folha.com.br/081281
leia a íntegra dos discursos
de vitória em Indiana e Carolina
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