São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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Mianmar retarda emissão de vistos a equipes de ajuda

França propõe que ONU use "responsabilidade de proteger"; mortos são 22.980, mas podem chegar a 100 mil, dizem EUA

1ª ajuda da ONU chega hoje; sobreviventes do Nargis reclamam de lentidão de junta militar, que liberou importação de combustível

DA REDAÇÃO

Sob pressão de organizações internacionais e de países como EUA e França para agilizar a emissão de vistos de entrada para equipes de ajuda, o governo militar de Mianmar anunciou ontem que o número de vítimas do ciclone Nargis subiu para 22.980. Há outros 42.119 desaparecidos. Estima-se que 1 milhão de pessoas tenham ficado desabrigadas.
Mas as mortes podem chegar a 100 mil, previu Shari Villarosa, a mais importante diplomata dos EUA em Mianmar. Para John Holmes, secretário-geral-adjunto para Assuntos Humanitários da ONU, o número de mortos pode aumentar "muito significativamente". "Não temos como verificar os números de modo independente."
Documentos da ONU obtidos pela Associated Press mostram que os militares -que controlam Mianmar desde 1962- estão retardando a emissão de vistos. Um deles afirma: "Não é claro quando serão emitidos". Três pessoas do governo dos EUA acreditam que a junta militar aceitaria apenas o dinheiro americano.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, insistiu que Mianmar emita logo as autorizações. "Dada a magnitude do desastre, o secretário-geral insta ao governo de Mianmar que responda ao fluxo de assistência", disse num comunicado.
O chanceler francês, Bernard Kouchner, pediu que a ONU use o preceito de "responsabilidade de proteger", em geral aplicado em casos de genocídio e de limpeza étnica. "Devemos checar se não é o caso de o governo ser forçado a permitir que a ajuda necessária entre em Mianmar. A ONU precisa provar sua determinação."
Um diplomata francês afirmou que é preciso discutir como a medida seria tomada. Uma possibilidade é uma resolução do Conselho de Segurança, do qual a França é parte.
Os EUA pediram que seus parceiros asiáticos pressionem a junta. Diplomatas conversaram com a Embaixada de Mianmar em Washington, mas não sabem quando os vistos serão emitidos. "É um regime paranóico, eles são paranóicos com os EUA", disse Villarosa.
A primeira ajuda da ONU só deve chegar hoje a Yangun: são quatro aviões do Programa Mundial de Alimentos.

Lojas abertas
Ontem, algumas lojas no delta do Irrawaddy, a área mais afetada pelos ventos de até 190 km/h, abriram, segundo Paul Risley, porta-voz do programa alimentar da ONU em Bancoc. "Ocorreram algumas brigas." Irritada, uma mulher gritava num mercado no subúrbio de Yangun: "Mesmo se o peixe fosse fresco [como anunciam], não tenho água para cozinhá-lo".
Segundo um morador de Yangun, que visitou a área atingida, bebe-se água-de-coco, pois a casca dura preserva a qualidade. Equipes de ajuda estão distribuindo mingau de arroz, que a população coloca em sacolas plásticas sujas.
Algumas partes de Yangun voltaram a ter luz, mas os moradores se irritam com o preço crescente de alimentos e a redução dos estoques de água potável -além da demora do governo em agir. Os jornais, controlados pelos militares, pediam paciência ontem.
"Antes, se uma pessoa tivesse um cartaz de protesto, soldados apareciam em cinco minutos. Agora ninguém ajuda, dizem que temos de fazer tudo por conta própria", disse o jornalista aposentado Ludu Sein Win.
A situação é tão crítica que o governo -que detinha o monopólio de importação de combustível- permitiu que companhias privadas o vendessem.


Com agências internacionais


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