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Mianmar retarda emissão de vistos a equipes de ajuda
França propõe que ONU use "responsabilidade de proteger";
mortos são 22.980, mas podem chegar a 100 mil, dizem EUA
1ª ajuda da ONU chega hoje; sobreviventes do Nargis reclamam de lentidão de junta militar, que liberou importação de combustível
DA REDAÇÃO
Sob pressão de organizações
internacionais e de países como EUA e França para agilizar
a emissão de vistos de entrada
para equipes de ajuda, o governo militar de Mianmar anunciou ontem que o número de vítimas do ciclone Nargis subiu
para 22.980. Há outros 42.119
desaparecidos. Estima-se que 1
milhão de pessoas tenham ficado desabrigadas.
Mas as mortes podem chegar
a 100 mil, previu Shari Villarosa, a mais importante diplomata dos EUA em Mianmar. Para
John Holmes, secretário-geral-adjunto para Assuntos Humanitários da ONU, o número de
mortos pode aumentar "muito
significativamente". "Não temos como verificar os números
de modo independente."
Documentos da ONU obtidos pela Associated Press mostram que os militares -que
controlam Mianmar desde
1962- estão retardando a
emissão de vistos. Um deles
afirma: "Não é claro quando serão emitidos". Três pessoas do
governo dos EUA acreditam
que a junta militar aceitaria
apenas o dinheiro americano.
O secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, insistiu que
Mianmar emita logo as autorizações. "Dada a magnitude do
desastre, o secretário-geral insta ao governo de Mianmar que
responda ao fluxo de assistência", disse num comunicado.
O chanceler francês, Bernard
Kouchner, pediu que a ONU
use o preceito de "responsabilidade de proteger", em geral
aplicado em casos de genocídio
e de limpeza étnica. "Devemos
checar se não é o caso de o governo ser forçado a permitir
que a ajuda necessária entre em
Mianmar. A ONU precisa provar sua determinação."
Um diplomata francês afirmou que é preciso discutir como a medida seria tomada.
Uma possibilidade é uma resolução do Conselho de Segurança, do qual a França é parte.
Os EUA pediram que seus
parceiros asiáticos pressionem
a junta. Diplomatas conversaram com a Embaixada de
Mianmar em Washington, mas
não sabem quando os vistos serão emitidos. "É um regime paranóico, eles são paranóicos
com os EUA", disse Villarosa.
A primeira ajuda da ONU só
deve chegar hoje a Yangun: são
quatro aviões do Programa
Mundial de Alimentos.
Lojas abertas
Ontem, algumas lojas no delta do Irrawaddy, a área mais
afetada pelos ventos de até 190
km/h, abriram, segundo Paul
Risley, porta-voz do programa
alimentar da ONU em Bancoc.
"Ocorreram algumas brigas."
Irritada, uma mulher gritava
num mercado no subúrbio de
Yangun: "Mesmo se o peixe fosse fresco [como anunciam], não
tenho água para cozinhá-lo".
Segundo um morador de
Yangun, que visitou a área atingida, bebe-se água-de-coco,
pois a casca dura preserva a
qualidade. Equipes de ajuda estão distribuindo mingau de arroz, que a população coloca em
sacolas plásticas sujas.
Algumas partes de Yangun
voltaram a ter luz, mas os moradores se irritam com o preço
crescente de alimentos e a redução dos estoques de água potável -além da demora do governo em agir. Os jornais, controlados pelos militares, pediam paciência ontem.
"Antes, se uma pessoa tivesse
um cartaz de protesto, soldados
apareciam em cinco minutos.
Agora ninguém ajuda, dizem
que temos de fazer tudo por
conta própria", disse o jornalista aposentado Ludu Sein Win.
A situação é tão crítica que o
governo -que detinha o monopólio de importação de combustível- permitiu que companhias privadas o vendessem.
Com agências internacionais
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