São Paulo, sexta-feira, 08 de maio de 2009

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análise

Preocupações passam de um vizinho a outro

DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

Quando Barack Obama anunciou sua nova estratégia para o Afeganistão e o Paquistão, ele declarou que as metas americanas na região, antes grandiosas, deveriam ser reduzidas para a de mirar contra a Al Qaeda. Para dar conta do recado, ele já estava enviando 21 mil soldados adicionais ao Afeganistão.
Só havia um porém: a Al Qaeda não vive no Afeganistão, mas no outro lado da fronteira com o Paquistão, em cujo solo nunca serão tolerados soldados americanos.
Cinco semanas mais tarde, algo que aparentava não passar de uma fissura no plano se converteu num abismo. Quando Obama se reuniu na Casa Branca na quarta com os presidentes Asif Ali Zardari, do Paquistão, e Hamid Karzai, do Afeganistão, a agenda foi dominada pela campanha que insurgentes dentro do Paquistão estão montando para conquistar o controle de grandes faixas do país.
"Hoje existe a possibilidade real de vermos um Estado jihadista emergir no Paquistão. Não é algo inevitável e nem sequer o mais provável, mas é uma possibilidade real", disse Bruce Riedel, coautor da estratégia de Obama.
Por mais que o Afeganistão seja importante para os EUA, disse ele, os acontecimentos das últimas semanas levaram os americanos a voltar sua atenção ao Paquistão.
"É onde estão os riscos estratégicos muito maiores", disse Riedel. "Ali há muito mais terroristas por quilômetro quadrado que em qualquer outro ponto do planeta, e o país possui um programa de armas nucleares que vem crescendo mais rapidamente que o de qualquer outro lugar do mundo."
O cerne da estratégia de Obama era a aposta no longo prazo: retreinar as Forças Armadas paquistanesas para que se tornassem uma força eficaz de contrainsurgência e gastar bilhões de dólares em esforços de reconstrução.
Mas construir escolas e treinar soldados requer tempo. E, com a expansão do Taleban ameaçando a principal rodovia do Paquistão, não está claro se a abordagem de longo prazo vai resolver a emergência.
Em público, os EUA dizem que o arsenal nuclear do Paquistão está em segurança. Em privado, funcionários da inteligência dizem não poder confiar em garantias vagas de que as armas estão trancadas.
Alguns funcionários defendem pressionar o Paquistão a desenvolver planos conjuntos para retirar as armas caso elas corram risco. É duvidoso que os paquistaneses, que receiam que os EUA tenham planos secretos de tomar seu arsenal, algum dia concordem com o plano.


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