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Brilho de Clegg não consegue alavancar liberais-democratas
DO ENVIADO A LONDRES
A grande surpresa das eleições britânicas foi o fato de não
ter havido a surpresa chamada
Nick Clegg.
Catapultado à fama instantânea pelo desempenho no primeiro dos três debates pela TV,
novidade absoluta nas eleições
do Reino Unido, Clegg não levou seu partido, o Liberal-Democrata, a um desempenho capaz de romper com o bipartidarismo de fato que existe desde
sempre no país.
Ao contrário, os "lib dem",
como são chamados na mídia,
perderam cinco cadeiras, na
comparação com o pleito anterior, em 2005, ficando com
apenas 57.
A explicação mais razoável
para o fenômeno que não o foi é
o sistema eleitoral britânico.
Não há propriamente uma eleição nacional, mas 650 eleições
distritais (anteontem, foram
649, porque um distrito adiou o
pleito devido à morte de um
dos candidatos).
O brilho de Clegg no debate
não contagiou os demais candidatos liberais.
Ele só podia, é claro, ser candidato em um distrito. Ganhou,
em Sheffield Hallam, com expressivos 53% dos votos, mais
que o dobro do segundo colocado e sete pontos acima da votação que obteve em 2005.
Mas, nos demais distritos,
prevaleceu a fidelidade habitual: nos últimos 40 anos, em
49% dos distritos ganha sempre o mesmo partido, seja conservador, seja trabalhista, seja
liberal ou outro qualquer.
Esse sistema distrital puro
prejudica claramente os liberais, tanto que, embora tenham
aumentado sua porcentagem
de votos (de 22% para 23%),
perderam cinco cadeiras.
Mais que em pleitos anteriores, ficou claro que o partido de
Clegg tem uma votação espalhada nacionalmente, o que
exige um maior número de votos para ganhar cada distrito do
que votações concentradas como as dos trabalhistas.
A distorção fez com que ficassem com 8,7% das vagas no
Parlamento, um terço apenas
da porcentagem de votos.
Distorções à parte, o analista
Will Hutton, ex-editor-chefe
do jornal "The Observer",
acrescenta erros pontuais graves cometidos nos debates:
Clegg mencionou a regularização de imigrantes clandestinos
e manifestou simpatia pelo euro, dois assuntos que ainda são
um anátema no Reino Unido.
(CLÓVIS ROSSI)
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