São Paulo, sábado, 08 de maio de 2010

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Brilho de Clegg não consegue alavancar liberais-democratas

DO ENVIADO A LONDRES

A grande surpresa das eleições britânicas foi o fato de não ter havido a surpresa chamada Nick Clegg.
Catapultado à fama instantânea pelo desempenho no primeiro dos três debates pela TV, novidade absoluta nas eleições do Reino Unido, Clegg não levou seu partido, o Liberal-Democrata, a um desempenho capaz de romper com o bipartidarismo de fato que existe desde sempre no país.
Ao contrário, os "lib dem", como são chamados na mídia, perderam cinco cadeiras, na comparação com o pleito anterior, em 2005, ficando com apenas 57.
A explicação mais razoável para o fenômeno que não o foi é o sistema eleitoral britânico. Não há propriamente uma eleição nacional, mas 650 eleições distritais (anteontem, foram 649, porque um distrito adiou o pleito devido à morte de um dos candidatos).
O brilho de Clegg no debate não contagiou os demais candidatos liberais.
Ele só podia, é claro, ser candidato em um distrito. Ganhou, em Sheffield Hallam, com expressivos 53% dos votos, mais que o dobro do segundo colocado e sete pontos acima da votação que obteve em 2005.
Mas, nos demais distritos, prevaleceu a fidelidade habitual: nos últimos 40 anos, em 49% dos distritos ganha sempre o mesmo partido, seja conservador, seja trabalhista, seja liberal ou outro qualquer.
Esse sistema distrital puro prejudica claramente os liberais, tanto que, embora tenham aumentado sua porcentagem de votos (de 22% para 23%), perderam cinco cadeiras.
Mais que em pleitos anteriores, ficou claro que o partido de Clegg tem uma votação espalhada nacionalmente, o que exige um maior número de votos para ganhar cada distrito do que votações concentradas como as dos trabalhistas.
A distorção fez com que ficassem com 8,7% das vagas no Parlamento, um terço apenas da porcentagem de votos.
Distorções à parte, o analista Will Hutton, ex-editor-chefe do jornal "The Observer", acrescenta erros pontuais graves cometidos nos debates: Clegg mencionou a regularização de imigrantes clandestinos e manifestou simpatia pelo euro, dois assuntos que ainda são um anátema no Reino Unido. (CLÓVIS ROSSI)


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