São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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DIPLOMACIA

Ex-presidente da Costa Rica é escolhido o novo secretário-geral da entidade; Powell elogia o plebiscito na Venezuela

OEA deve agir mais na Alca, diz novo líder

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

A Assembléia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que termina hoje em Quito (Equador), designou ontem por unanimidade o ex-presidente da Costa Rica Miguel Angel Rodríguez (1998-2002) como o novo secretário-geral da entidade. A partir de setembro, ele substitui o ex-presidente colombiano César Gaviria, no cargo há dez anos.
Em entrevista à Folha ontem, Rodríguez adotou um discurso de continuidade, mas defendeu uma maior participação da OEA nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Com relação a outros dois temas sensíveis, o papel da OEA de observador na crise política venezuelana e de monitor da complexa desmobilização dos paramilitares colombianos, Rodríguez elogiou as atuais diretrizes.
No discurso de abertura, Gaviria exortou os países-membros a melhorar "a utilização" do fórum continental para que "se recupere a credibilidade da OEA como baluarte" de cooperação.
Em sua intervenção, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, elogiou Hugo Chávez e a oposição do país por terem encerrado o processo que aprovou um plebiscito revogatório do mandato do presidente venezuelano.
Ontem, pequenas bombas explodiram em três cidades do Equador, enquanto indígenas bloquearam uma estrada para exigir a saída do presidente Lucio Gutierrez. Não houve feridos.
Economista de formação, Rodríguez, 64, promoveu várias medidas liberalizantes durante sua Presidência, como a abertura do sistema bancário e uma conturbada política de privatização. Na política externa, envolveu-se em vários atritos com Cuba.
Leia, a seguir, a entrevista concedida ontem por Rodríguez à Folha, por e-mail:
 

Folha - A OEA convive com velhas e novas organizações, como a ONU, o Mercosul, o Nafta e, eventualmente, a Alca. Por outro lado, o principal país-membro, os EUA, começaram uma guerra sem respaldo das Nações Unidas. Como fica a entidade em meio a tantas siglas e ao unilateralismo de Washington?
Miguel Angel Rodríguez -
É parte da realidade da OEA ter em seu seio tanto a única superpotência quanto países de pequenos e de grande tamanho, como Brasil, Canadá, Argentina e México. Essa realidade obriga a um processo constante de busca de equilíbrio entre os interesses de uns e as necessidades de outros. Há muitos casos de sucesso da OEA na busca desses equilíbrios, que têm levado a ações multilaterais de bastante sucesso, como no caso de direitos humanos e de promoção da democracia.

Folha - Lula tem declarado que a América do Sul é sua prioridade na política externa. Essa proposta já é tangível ou o Brasil continua tímido em questões regionais, como o conflito colombiano e a demanda boliviana para a saída ao mar?
Rodríguez -
O Brasil tem sido sempre um ator de muito peso no sistema interamericano. Não percebo essa timidez. Sob o presidente Da Silva e o chanceler Amorim, tem sido um participante muito ativo dos processos.

Folha - O sr. propõe que um dos objetivos da OEA seja "propiciar um intercâmbio comercial eqüitativo". A OEA deve ter mais envolvimento nas negociações da Alca?
Rodríguez -
As negociações da Alca que os países do hemisfério estão desenvolvendo são processos muito complicados e exigem importantes recursos humanos, financeiros e de outra natureza, os quais, em muitas ocasiões, não estão ao alcance de países pequenos. É função natural da organização fortalecer sua capacidade de apoio a esses países e a qualquer um que requisite respaldo técnico e assessoria, a fim de incrementar suas possibilidades de negociar acordos que sejam adequados a sua realidade e interesses e, efetivamente, contribuir assim a propiciar um intercâmbio comercial eqüitativo. A OEA já tem trabalhado nessa linha e participado da secretaria técnica, mas acredito que essa seja uma área em que, por sua transcendência aos diferentes países e para o hemisfério como um todo, tenhamos que intensificar os esforços.

Folha - A OEA sofreu recentemente muitas críticas do governo venezuelano por seu trabalho de observador. O sr. pretende mudar a forma como a organização atua na crise política do país?
Rodríguez -
"Pelos seus frutos os conhecereis", diz o Evangelho, e os frutos colhidos pela OEA na sua tarefa de apoiar o governo e o povo venezuelano para encontrar uma solução negociada, democrática, eleitoral e pacífica para as diferenças existentes falam por si. A contribuição da OEA e do Centro Carter nesse processo, de benefício indubitável a todos os venezuelanos, merece o reconhecimento entusiasmado.


Com agências internacionais


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