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IRAQUE SOB TUTELA
Legislação permite suspensão temporária de direitos civis; medida visa facilitar combate à insurgência
Novo governo anuncia lei de emergência
DA REDAÇÃO
O premiê interino do Iraque,
Iyad Allawi, anunciou ontem a Lei
Nacional de Segurança, um conjunto de medidas emergenciais
que amplia seus poderes e abre a
porta para a suspensão temporária dos direitos dos cidadãos, visando conter a crescente deterioração da segurança no país.
As medidas dão ao premiê o direito de declarar estado de emergência em qualquer lugar do país
em que a vida de iraquianos seja
ameaçada por uma campanha de
violência persistente que vise prejudicar o processo político -situação em que o Iraque está hoje.
"Vidas iraquianas estão em perigo, são ameaçadas por forças do
mal, por gangues de terroristas",
declarou o ministro iraquiano dos
Direitos Humanos, Bakhityar
Amin, que comparou a lei especial com o Patriot Act -um conjunto de leis adotado pelos EUA
após o 11 de Setembro que restringe algumas liberdades civis, como
o direito à privacidade, em prol
do combate ao terrorismo.
Entre os poderes que o governo
adquire sob o estado de emergência, estão os de congelar ativos financeiros de suspeitos, interceptar comunicações, impor um toque de recolher, dissolver associações e recorrer à Força Multinacional de 160 mil homens comandada pelos EUA para executar
"operações especiais". Quem desobedecer à lei pode ser condenado a três anos de prisão ou a pagar
uma multa de 1 milhão de dinares
(cerca de R$ 2.000).
O secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, disse que a lei
torna o governo iraquiano "mais
eficiente". Mas os membros do
gabinete e seus assessores se esforçaram para diferenciar os novos e extensos poderes do premiê
dos desmandos do ex-ditador
Saddam Hussein. No pacote de
medidas, há uma que proíbe Allawi de abolir a Constituição interina e outra que impede o adiamento das eleições diretas de 2005.
Além disso, o ministro da Justiça, Malik Dohan al Hassan, disse
que, para implementar cada uma
das medidas, o premiê precisará
do aval de um tribunal iraquiano.
"Sabemos que essas leis podem
restringir algumas liberdades,
mas há também uma série de garantias. Tentamos garantir a justiça e os direitos humanos."
Mesmo com a transição da administração do país, no último
dia 28, das autoridades americanas para um governo interino iraquiano, soberano perante a ONU,
e da presença de 160 mil soldados
estrangeiros comandados pelos
EUA, a situação de segurança no
Iraque continua precária.
As forças iraquianas ainda são
incipientes. Ataques e atentados
ocorrem quase diariamente, com
alto saldo de vítimas civis. Ontem,
quatro pessoas morreram e 27 foram feridas em um confronto entre insurgentes e policiais, apoiados por soldados dos EUA, em
Bagdá, onde a polícia também desarmou um carro-bomba estacionado perto de uma mesquita.
Um civil filipino que trabalhava
na reconstrução foi seqüestrado
por um grupo que ameaça matá-lo caso Manila não retire os cerca
de 50 soldados que mantém no
Iraque. Também na capital, insurgentes atacaram com morteiros uma área próxima à sede do
partido de Allawi, ferindo seis
pessoas. Na semana passada, insurgentes ameaçaram matar o
premiê caso ele decretasse a lei especial de segurança, cujo anúncio
foi adiado duas vezes.
O decreto de ontem não incluiu
uma esperada anistia dos insurgentes que combateram as forças
americanas sem matar ninguém.
Também ficou de fora a reinstauração da pena de morte, suspensa
pelos EUA. Os dois tópicos ainda
estão em discussão.
Allawi viaja para Bruxelas na
próxima semana, onde deve se
encontrar com chanceleres europeus e pedir colaborações.
Estrangeiros
O governo iraquiano anunciou
que apenas 29 dos cerca de 5.500
presos no país sob acusação de
pertencer à insurgência são estrangeiros. O número contrasta
com a freqüente alegação do comando dos EUA e do governo interino de que a violência no país é
promovida sobretudo por combatentes que chegam pelas fronteiras com a Síria e com o Irã.
Com agências internacionais
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