São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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REINO UNIDO

Medida provoca controvérsia entre grupos islâmicos; ala conservadora no Parlamento afirma que não dará apoio

Londres propõe lei contra ódio religioso

DA REDAÇÃO

O governo britânico anunciou ontem que levará ao Parlamento -"o quanto antes"- um projeto de lei que transforma a incitação ao ódio religioso em crime.
"Temos de combater o extremismo e o racismo em todas as suas formas se quisermos promover um senso de cidadania e identidade britânicas que seja positivo", disse David Blunkett, ministro do Interior.
O anúncio da medida aconteceu depois de um reforço do cerco oficial contra certos membros da comunidade muçulmana. Eles são considerados suspeitos de ligação com o terrorismo.
Dirigentes islâmicos do Reino Unido acusam a mídia e a polícia de "demonizar" os muçulmanos e de promover uma perseguição injusta contra eles depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Desde então, cerca de 500 pessoas foram detidas no país com base em leis antiterroristas. Cerca de 90 foram acusadas de crimes relacionados ao terror.
Principal aliado dos EUA na Guerra do Iraque e também na guerra ao terrorismo internacional, o Reino Unido agora está preocupado com o aumento do extremismo e da alienação das comunidades muçulmanas. Segundo Blunkett, muitos líderes extremistas não representam suas comunidades. Para ele, cabe a todos desafiar "os mitos e estereótipos" usados pelos extremistas para "transformar medo e insegurança em ressentimento e preconceito".
Numa contradição, no entanto, Blunkett disse ontem que o teólogo islâmico Yusuf al Qaradawi, que condenou o 11 de Setembro -mas apóia alguns ataques suicidas-, terá seus discursos monitorados enquanto estiver no Reino Unido.
O anúncio da lei foi motivo de controvérsia entre grupos islâmicos. O Conselho Muçulmano do Reino Unido, de tendência moderada, apoiou a proposta.
"Ela irá cobrir um buraco na lei, visto que, enquanto a incitação ao ódio racial era proibida, a incitação ao ódio religioso não era", explicou Iqbal Sacraine, secretário-geral da organização islâmica, a maior do país.
Já para a Comissão Islâmica de Direitos Humanos, minorias religiosas poderiam tornar-se alvo de perseguição com a nova lei.
"Tememos que essa legislação possa infringir a liberdade de expressão e ser usada contra minorias religiosas em vez de protegê-las", disse Massoud Shadjareh, diretor da comissão. Trata-se da segunda tentativa do premiê Tony Blair de aprovar a iniciativa.
Ela havia sido incluída no pacote de leis antiterroristas apresentado semanas após o 11 de Setembro, mas foi barrada pelo Parlamento na ocasião.
Desta vez, o governo pretende convencer os parlamentares argumentando que a medida aumentaria a coesão social e a tolerância religiosa.
Não será uma tarefa fácil, como o próprio Blunkett admite: "São assuntos delicados". A ala conservadora do Parlamento já disse que não irá apoiar a medida.


Com agências internacionais


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