|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REINO UNIDO
Medida provoca controvérsia entre grupos islâmicos; ala conservadora no Parlamento afirma que não dará apoio
Londres propõe lei contra ódio religioso
DA REDAÇÃO
O governo britânico anunciou
ontem que levará ao Parlamento
-"o quanto antes"- um projeto
de lei que transforma a incitação
ao ódio religioso em crime.
"Temos de combater o extremismo e o racismo em todas as
suas formas se quisermos promover um senso de cidadania e identidade britânicas que seja positivo", disse David Blunkett, ministro do Interior.
O anúncio da medida aconteceu
depois de um reforço do cerco oficial contra certos membros da comunidade muçulmana. Eles são
considerados suspeitos de ligação
com o terrorismo.
Dirigentes islâmicos do Reino
Unido acusam a mídia e a polícia
de "demonizar" os muçulmanos e
de promover uma perseguição injusta contra eles depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Desde então, cerca de 500 pessoas foram detidas no país com
base em leis antiterroristas. Cerca
de 90 foram acusadas de crimes
relacionados ao terror.
Principal aliado dos EUA na
Guerra do Iraque e também na
guerra ao terrorismo internacional, o Reino Unido agora está
preocupado com o aumento do
extremismo e da alienação das comunidades muçulmanas. Segundo Blunkett, muitos líderes extremistas não representam suas comunidades. Para ele, cabe a todos
desafiar "os mitos e estereótipos"
usados pelos extremistas para
"transformar medo e insegurança
em ressentimento e preconceito".
Numa contradição, no entanto,
Blunkett disse ontem que o teólogo islâmico Yusuf al Qaradawi,
que condenou o 11 de Setembro
-mas apóia alguns ataques suicidas-, terá seus discursos monitorados enquanto estiver no Reino Unido.
O anúncio da lei foi motivo de
controvérsia entre grupos islâmicos. O Conselho Muçulmano do
Reino Unido, de tendência moderada, apoiou a proposta.
"Ela irá cobrir um buraco na lei,
visto que, enquanto a incitação ao
ódio racial era proibida, a incitação ao ódio religioso não era", explicou Iqbal Sacraine, secretário-geral da organização islâmica, a
maior do país.
Já para a Comissão Islâmica de
Direitos Humanos, minorias religiosas poderiam tornar-se alvo de
perseguição com a nova lei.
"Tememos que essa legislação
possa infringir a liberdade de expressão e ser usada contra minorias religiosas em vez de protegê-las", disse Massoud Shadjareh, diretor da comissão. Trata-se da segunda tentativa do premiê Tony
Blair de aprovar a iniciativa.
Ela havia sido incluída no pacote de leis antiterroristas apresentado semanas após o 11 de Setembro, mas foi barrada pelo Parlamento na ocasião.
Desta vez, o governo pretende
convencer os parlamentares argumentando que a medida aumentaria a coesão social e a tolerância religiosa.
Não será uma tarefa fácil, como
o próprio Blunkett admite: "São
assuntos delicados". A ala conservadora do Parlamento já disse
que não irá apoiar a medida.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Igreja: Vaticano fecha contas no vermelho pelo terceiro ano Próximo Texto: Grupo islâmico francês resiste à proibição do véu Índice
|