|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TERROR EM LONDRES
Terrorismo não vencerá, diz Blair
Premiê afirma que seu país se manterá "firme no modo de vida britânico"; para Bush, ataque mostra contraste entre os que querem ajudar, como o G8, e a "maldade dos que querem matar"
DA ENVIADA A GLENEAGLES
O primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, disse ontem que a população de seu país e os líderes do
G8 (grupo dos sete países desenvolvidos e a Rússia, reunido justamente no Reino Unido) não se intimidarão depois dos atentados à
rede de transporte de Londres.
Em um tom parecido com o
adotado pelo presidente americano, George W. Bush, depois dos
atentados de 11 de setembro de
2001, Blair, disse, em tom firme,
que os terroristas não vencerão.
"É um dia muito triste para o
povo britânico, mas nós nos manteremos firmes no modo de vida
britânico. (...) Eles não devem e
não vão vencer", afirmou Blair.
O premiê reconheceu que os
atentados foram programados
para coincidir com a cúpula do
G8, em Gleneagles (Escócia). Neste ano, a presidência do grupo é
ocupada pelo Reino Unido, que
vinha batalhando por consenso
entre os demais líderes para a
adoção de medidas ambiciosas
em prol da África e do ambiente.
As discussões sobre os dois temas já vinham avançando com
grande dificuldade. Os atentados
de ontem podem praticamente
enterrar a cúpula de vez, segundo
analistas. As explosões que causaram dezenas de mortes na capital
do Reino Unido forçaram, por
exemplo, o premiê britânico a
abandonar as discussões e voltar a
Londres. À noite, segundo anunciou, ele voltaria a Gleneagles.
"Bárbaros"
Falando em nome do G8, Blair
leu um comunicado conjunto do
grupo e dos cinco países emergentes que participavam como
convidados das reuniões de ontem, entre eles o Brasil. Além de
condenar os ataques -classificados pelos líderes como "bárbaros"- e enviar as condolências às
famílias, o grupo declarou que
não permitiria que os atentados
parassem o trabalho da cúpula.
"Nós vamos prosseguir com
nossas deliberações no interesse
de um mundo melhor", afirmou
Blair, cercado pelos demais chefes
de Estado, entre eles o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que os atentados
mostraram que o mundo não está
"suficientemente unido" contra o
terrorismo. O presidente francês,
Jacques Chirac, foi na mesma linha, afirmando que é preciso
mais "solidariedade" no combate
ao terror.
Fracasso da cúpula
Mas a ausência de Blair, o anfitrião do G8, já era vista por especialistas logo de manhã como
presságio de fracos resultados.
"Acho que o impacto será muito dramático porque Blair, o anfitrião de todos esses importantes
líderes políticos, não estará presente", disse à Folha Ella Kokotsis, diretora do grupo de pesquisas sobre G8 da Universidade de
Toronto. "A presença dele era
fundamental para pressionar por
avanços nas discussões que já estavam complicadas. Sem ele na
mesa, o consenso será difícil."
Ella, que está em Gleneagles
acompanhando o encontro, que
começou anteontem e termina
hoje, ressaltou que essa foi a primeira vez que um problema dessa
magnitude ocorreu durante uma
reunião do G8 e afirmou que seria
melhor que Blair tivesse postergado as conversas por uma ou duas
semanas, do que estar ausente no
"dia mais importante da cúpula".
No fim do dia, a análise de Ella
parecia se confirmar. Organizações não-governamentais que estão em Gleneagles soltaram vários
comunicados dizendo que o G8
não havia avançado nos temas
que estavam na pauta de ontem:
economia global, redução de barreiras comerciais e ambiente.
Jacques Chirac, presidente da
França, anunciou que os líderes
chegarão a um acordo importante
no que se refere ao ambiente, mas
admitiu que "não vai tão longe
como havíamos desejado".
O encontro, ao contrário, virou
palco de uma reação multilateral
de repúdio aos terroristas. Vários
líderes presentes fizeram pronunciamentos sobre os atentados.
Bush, por exemplo, disse que havia um "contraste incrivelmente
vívido" entre o trabalho do G8 para aliviar a pobreza e a "maldade
daqueles que querem matar".
Blair fez três pronunciamentos.
No primeiro, estava visivelmente
abalado e tinha a voz embargada.
Disse que era importante que ficasse claro que a determinação
dos líderes e da população é
maior que a dos terroristas que,
segundo ele, querem destruir os
avanços que têm sido atingidos.
De forma geral, todos os discursos seguiam a linha de "nós não
seremos derrotados".
"As explosões de hoje não vão
enfraquecer, de forma alguma,
nossa decisão de manter os princípios mais profundamente arraigados de nossas sociedades, e de
derrotar aqueles que imporiam
seu fanatismo e extremismo sobre todos nós", disse Blair.
Sinais mais concretos, no entanto, sobre até que ponto chegarão
os estragos políticos causados pelos terroristas deverão emergir
hoje quando sair o comunicado
final do G8.
(ÉRICA FRAGA)
Texto Anterior: Atentados matam 37 em Londres Próximo Texto: Admiração Índice
|