São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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TERROR EM LONDRES

Terrorismo não vencerá, diz Blair

Premiê afirma que seu país se manterá "firme no modo de vida britânico"; para Bush, ataque mostra contraste entre os que querem ajudar, como o G8, e a "maldade dos que querem matar"

DA ENVIADA A GLENEAGLES

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse ontem que a população de seu país e os líderes do G8 (grupo dos sete países desenvolvidos e a Rússia, reunido justamente no Reino Unido) não se intimidarão depois dos atentados à rede de transporte de Londres.
Em um tom parecido com o adotado pelo presidente americano, George W. Bush, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, Blair, disse, em tom firme, que os terroristas não vencerão.
"É um dia muito triste para o povo britânico, mas nós nos manteremos firmes no modo de vida britânico. (...) Eles não devem e não vão vencer", afirmou Blair.
O premiê reconheceu que os atentados foram programados para coincidir com a cúpula do G8, em Gleneagles (Escócia). Neste ano, a presidência do grupo é ocupada pelo Reino Unido, que vinha batalhando por consenso entre os demais líderes para a adoção de medidas ambiciosas em prol da África e do ambiente.
As discussões sobre os dois temas já vinham avançando com grande dificuldade. Os atentados de ontem podem praticamente enterrar a cúpula de vez, segundo analistas. As explosões que causaram dezenas de mortes na capital do Reino Unido forçaram, por exemplo, o premiê britânico a abandonar as discussões e voltar a Londres. À noite, segundo anunciou, ele voltaria a Gleneagles.

"Bárbaros"
Falando em nome do G8, Blair leu um comunicado conjunto do grupo e dos cinco países emergentes que participavam como convidados das reuniões de ontem, entre eles o Brasil. Além de condenar os ataques -classificados pelos líderes como "bárbaros"- e enviar as condolências às famílias, o grupo declarou que não permitiria que os atentados parassem o trabalho da cúpula.
"Nós vamos prosseguir com nossas deliberações no interesse de um mundo melhor", afirmou Blair, cercado pelos demais chefes de Estado, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que os atentados mostraram que o mundo não está "suficientemente unido" contra o terrorismo. O presidente francês, Jacques Chirac, foi na mesma linha, afirmando que é preciso mais "solidariedade" no combate ao terror.

Fracasso da cúpula
Mas a ausência de Blair, o anfitrião do G8, já era vista por especialistas logo de manhã como presságio de fracos resultados.
"Acho que o impacto será muito dramático porque Blair, o anfitrião de todos esses importantes líderes políticos, não estará presente", disse à Folha Ella Kokotsis, diretora do grupo de pesquisas sobre G8 da Universidade de Toronto. "A presença dele era fundamental para pressionar por avanços nas discussões que já estavam complicadas. Sem ele na mesa, o consenso será difícil."
Ella, que está em Gleneagles acompanhando o encontro, que começou anteontem e termina hoje, ressaltou que essa foi a primeira vez que um problema dessa magnitude ocorreu durante uma reunião do G8 e afirmou que seria melhor que Blair tivesse postergado as conversas por uma ou duas semanas, do que estar ausente no "dia mais importante da cúpula".
No fim do dia, a análise de Ella parecia se confirmar. Organizações não-governamentais que estão em Gleneagles soltaram vários comunicados dizendo que o G8 não havia avançado nos temas que estavam na pauta de ontem: economia global, redução de barreiras comerciais e ambiente.
Jacques Chirac, presidente da França, anunciou que os líderes chegarão a um acordo importante no que se refere ao ambiente, mas admitiu que "não vai tão longe como havíamos desejado".
O encontro, ao contrário, virou palco de uma reação multilateral de repúdio aos terroristas. Vários líderes presentes fizeram pronunciamentos sobre os atentados. Bush, por exemplo, disse que havia um "contraste incrivelmente vívido" entre o trabalho do G8 para aliviar a pobreza e a "maldade daqueles que querem matar".
Blair fez três pronunciamentos. No primeiro, estava visivelmente abalado e tinha a voz embargada. Disse que era importante que ficasse claro que a determinação dos líderes e da população é maior que a dos terroristas que, segundo ele, querem destruir os avanços que têm sido atingidos.
De forma geral, todos os discursos seguiam a linha de "nós não seremos derrotados".
"As explosões de hoje não vão enfraquecer, de forma alguma, nossa decisão de manter os princípios mais profundamente arraigados de nossas sociedades, e de derrotar aqueles que imporiam seu fanatismo e extremismo sobre todos nós", disse Blair.
Sinais mais concretos, no entanto, sobre até que ponto chegarão os estragos políticos causados pelos terroristas deverão emergir hoje quando sair o comunicado final do G8. (ÉRICA FRAGA)


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