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TERROR EM LONDRES
Brasileira relata o horror no metrô
Faxineira mineira de 27 anos, que estava em vagão de trem no momento de um dos atentados, testemunhou o pânico e a violência do ataque: "Era pior do que filme de terror, mas era real"
DA ENVIADA ESPECIAL A GLENEAGLES
"Era pior do que filme de terror,
mas era real. Eu estava ali. Só conseguia pensar: vou morrer nessa
explosão e minha família não vai
reconhecer meu corpo." O relato
dramático foi feito à Folha por
Adriana (nome fictício), 27, nascida em Minas Gerais, que vive em
Londres, onde trabalha como faxineira e, como muitos brasileiros, está na cidade tentando juntar algum dinheiro para ter uma
vida melhor quando voltar.
Ela havia acabado de deixar os
filhos com uma amiga que os levaria à escola e seguia para o trabalho. De repente, conta ela, o
trem em que estava parou e soou
um alarme. A primeira reação das
pessoas, diz, foi de curiosidade.
Até que tocou um segundo alarme, causando forte tensão entre
os passageiros.
Cinco minutos depois, eles seriam tomados pelo pânico. Depois de voltar a andar, o trem parou na estação de Liverpool
Street, a primeira onde ocorreram
ataques terroristas ontem, e o motorista fez um anúncio assustador: "Mandaram todo mundo
descer do trem e desocupar imediatamente a estação porque havia uma bomba no metrô", disse a
brasileira, que pediu à Folha que
não tivesse seu nome relevado
porque não queria que a família
no Brasil soubesse o que ocorreu.
Ela contou que, assim que começaram a tentar sair, desesperadas, as pessoas sentiam um cheiro
insuportável de queimado. No
trem parado na pista ao lado, que
vinha na direção contrária ao
trem que levava Adriana, veio a
primeira indicação do que havia
ocorrido: "Só consegui ver que
havia gente ferida do outro lado".
Adriana conta que, nesse momento, já estava em pânico, chorando muito, e tentava, desesperadamente, sair da estação lotada.
No caminho até a saída, que levou
cerca de dez minutos, viu uma cena de horror, que, segundo ela,
nunca sairá de sua cabeça:
"Vi uma mulher que gritava",
diz Adriana chorando. "O rosto
dela estava desfigurado e jorrava
sangue. Só consegui saber que era
uma mulher porque usava saia.
Um funcionário do metrô estava
com ela, tentava acalmá-la, mas,
ao mesmo tempo, ele também
gritava muito, pedindo socorro."
Ela diz que, nessa hora, só conseguia pensar no seu casal de filhos. Acabou sendo derrubada e
pisoteada. Por sorte, conseguiu se
levantar e só ficou com leves ferimentos na perna.
Quando chegou à rua, Adriana
diz que "não tinha mais pernas
para correr". Viu que, naquele
momento, começaram a chegar
as ambulâncias e os paramédicos.
Desesperada, ligou para uma
amiga que sugeriu que ela fosse
para uma igreja católica que é administrada por padres brasileiros
e fica próxima à estação. Pelo caminho, outras cenas de horror.
"Passei por um ônibus que estava cheio de feridos nos dois andares. Ele entrou no hospital de
Whitechapel. Acho que estava
sendo usado como ambulância."
Ao chegar à igreja, Adriana diz
que rezou e agradeceu a Deus por
estar viva. Foi amparada pelo padre brasileiro Frederico Meirelles,
que conversou e rezou com ela.
"Ela chegou aqui muito nervosa", disse à Folha o padre Fred,
como é conhecido pela comunidade brasileira em Londres.
Outros quatro brasileiros que
passaram perto da estação de Liverpool Street em horário próximo ao atentado passaram na igreja, segundo Meirelles, que serviu
chá a todos.
(ÉRICA FRAGA)
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