São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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TERROR EM LONDRES

Brasileira relata o horror no metrô

Faxineira mineira de 27 anos, que estava em vagão de trem no momento de um dos atentados, testemunhou o pânico e a violência do ataque: "Era pior do que filme de terror, mas era real"

DA ENVIADA ESPECIAL A GLENEAGLES

"Era pior do que filme de terror, mas era real. Eu estava ali. Só conseguia pensar: vou morrer nessa explosão e minha família não vai reconhecer meu corpo." O relato dramático foi feito à Folha por Adriana (nome fictício), 27, nascida em Minas Gerais, que vive em Londres, onde trabalha como faxineira e, como muitos brasileiros, está na cidade tentando juntar algum dinheiro para ter uma vida melhor quando voltar.
Ela havia acabado de deixar os filhos com uma amiga que os levaria à escola e seguia para o trabalho. De repente, conta ela, o trem em que estava parou e soou um alarme. A primeira reação das pessoas, diz, foi de curiosidade. Até que tocou um segundo alarme, causando forte tensão entre os passageiros.
Cinco minutos depois, eles seriam tomados pelo pânico. Depois de voltar a andar, o trem parou na estação de Liverpool Street, a primeira onde ocorreram ataques terroristas ontem, e o motorista fez um anúncio assustador: "Mandaram todo mundo descer do trem e desocupar imediatamente a estação porque havia uma bomba no metrô", disse a brasileira, que pediu à Folha que não tivesse seu nome relevado porque não queria que a família no Brasil soubesse o que ocorreu.
Ela contou que, assim que começaram a tentar sair, desesperadas, as pessoas sentiam um cheiro insuportável de queimado. No trem parado na pista ao lado, que vinha na direção contrária ao trem que levava Adriana, veio a primeira indicação do que havia ocorrido: "Só consegui ver que havia gente ferida do outro lado".
Adriana conta que, nesse momento, já estava em pânico, chorando muito, e tentava, desesperadamente, sair da estação lotada. No caminho até a saída, que levou cerca de dez minutos, viu uma cena de horror, que, segundo ela, nunca sairá de sua cabeça:
"Vi uma mulher que gritava", diz Adriana chorando. "O rosto dela estava desfigurado e jorrava sangue. Só consegui saber que era uma mulher porque usava saia. Um funcionário do metrô estava com ela, tentava acalmá-la, mas, ao mesmo tempo, ele também gritava muito, pedindo socorro."
Ela diz que, nessa hora, só conseguia pensar no seu casal de filhos. Acabou sendo derrubada e pisoteada. Por sorte, conseguiu se levantar e só ficou com leves ferimentos na perna.
Quando chegou à rua, Adriana diz que "não tinha mais pernas para correr". Viu que, naquele momento, começaram a chegar as ambulâncias e os paramédicos. Desesperada, ligou para uma amiga que sugeriu que ela fosse para uma igreja católica que é administrada por padres brasileiros e fica próxima à estação. Pelo caminho, outras cenas de horror.
"Passei por um ônibus que estava cheio de feridos nos dois andares. Ele entrou no hospital de Whitechapel. Acho que estava sendo usado como ambulância." Ao chegar à igreja, Adriana diz que rezou e agradeceu a Deus por estar viva. Foi amparada pelo padre brasileiro Frederico Meirelles, que conversou e rezou com ela.
"Ela chegou aqui muito nervosa", disse à Folha o padre Fred, como é conhecido pela comunidade brasileira em Londres.
Outros quatro brasileiros que passaram perto da estação de Liverpool Street em horário próximo ao atentado passaram na igreja, segundo Meirelles, que serviu chá a todos. (ÉRICA FRAGA)


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